domingo, 27 de fevereiro de 2011

FILIPE VI ANDRISCO

Andrisco de Adramítio (cidade da Eólia na Ásia Menor), também conhecido como Filipe VI da Macedônia ou Falso Filipe por seus rivais, foi um aventureiro grego que se fez passar por Filipe, filho de Perseu, o último rei da Macedônia, e chegou a ser aceito como tal pelos macedônios, dos quais foi rei em 149-148 a.C. Foi derrotado e deposto pelos romanos.
Moeda com a efígie de Filipe VI Andrisco e a figura de Hércules
Nascido na Ásia Menor, era um mercenário de origem humilde, talvez o filho de um curtidor da cidade de Adramítio. Andrisco alegava ser Filipe, filho do rei macedônio Perseu e Laodice V, princesa de Síria e filha de Seleuco IV, rei da dinastia selêucida. Na verdade, Filipe (quer seja filho ou meio irmão de Perseu) morrera com 18 anos na Itália. Após um primeiro intento na Macedônia em torno de 160-155 a.C., que fracassou quando nenhum macedônio lhe deu atenção, acabou por apresentar-se na Síria na corte do rei selêucida Demétrio I Sóter alegando ser filho de Laodice, irmã do rei sírio. Assim que solicitou ajuda a Demétrio para recuperar o trono da Macedônia, o rei, aliado de Roma, o encarcerou e o entregou aos romanos, dos quais não recebeu mais que provocações (foi apelidado de Pseudofilipe) e acabou sendo mandado embora de Roma sem encargos, considerado como um demente. Outra versão diz que ele conseguiu escapar de Roma.
Localização de Adramítio, terra natal de Andrisco

Ao voltar para a Macedônia dedicou-se, com um pequeno grupo de seguidores, ao banditismo, fazendo contatos com alguns dos reis da Trácia, na fronteira norte, até que um deles (Teres III) o reconheceu como legítimo herdeiro ao trono da Macedônia, provavelmente no final de 150 a.C., e disponibilizou a Andrisco sua aliança e suas tropas. O chefe trácio Barsabas também o auxiliou. Não se pode ter certeza se os líderes trácios reconheceram realmente Andrisco como Filipe VI ou apenas viram nele uma oportunidade de fazer frente ao crescente poder romano na região. De qualquer forma, eles invadiram a Macedônia em 149 a.C.
Guerreiro trácio

A Conquista da Macedônia
Depois de uma vitoriosa batalha nas fronteiras, alguns macedônios começaram a levar a reivindicação de Andrisco a sério. Foi saudado como libertador da opressão romana e conseguiu inflamar o espírito nacionalista dos macedônios. O Senado enviou o legado Cipião Nasica Córculo, o qual, pensando que iria enfrentar um simples bandido, decidiu resolver a questão por conta própria. Após reunir às pressas um contingente de aliados gregos, avançou contra Andrisco, mas foi derrotado. Esse sucesso de Andrisco convenceu os macedônios hesitantes e logo toda a Macedônia o reconheceu como rei legítimo. Para seu povo, quer por um reconhecimento verdadeiro ou pela oportunidade que se lhe apresentava, Andrisco não era mais o Pseudoflipe, mas Filipe, o sexto rei com esse nome, filho de Perseu.
Cartago
Daí ele também ser conhecido como Filipe VI Andrisco. Imediatamente reuniu o país, dividido pelos romanos, e começou uma reforma política vagamente para o povo. Buscou aliança com Cartago, a eterna rival de Roma, que contra a próspera cidade africana iniciava a Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C.). O Senado romano, perplexo, mandou o pretor Públio Juvêncio com uma força militar, mas no final do verão, quando ele tentou entrar na Macedônia, suas tropas foram esmagadas e ele morreu em combate. Isso permitiu a Andrisco ocupar a Tessália. O reino da Macedônia inesperadamente ressurgia das cinzas ganhando quase seus antigos contornos.

A Quarta Guerra Macedônica (148 a.C.)
No entanto, após cerca de um ano, o reino do Filipe ressurrecto já dava sinais de sua fraqueza. Devido a sua crueldade e extorsão, Filipe Andrisco começou a perder sua popularidade entre as classes trabalhadoras. Nesta situação, quando a atenção geral estava ocupada com o conflito entre Roma e Cartago, o Senado respondeu com energia e enviou um exército sob o comando do pretor Quinto Cecílio Metelo e com o auxílio de Lúcio Emílio Paulo, que derrotara antes a Perseu. Roma encarava agora a situação como uma quarta guerra contra a Macedônia. As tropas chegaram à Grécia na primavera de 148 a.C. E derrotaram facilmente os homens de Andrisco numa segunda batalha de Pidna, onde o último rei macedônio fora derrotado pelos romanos. Foi a última batalha em que se viu a falange grega em combate.
O Exército Romano em Marcha
Andrisco fugiu para o território de seus aliados trácios.  Metelo e Paulo o perseguiram e o príncipe trácio o entregou aos romanos. Levado para Roma foi condenado à morte e em seguida, desfilou no triunfo de Lúcio Emílio Paulo que celebrava sua vitória na guerra. Metelo e Lúcio Emílio adicionaram o cognome de Macedônico ao seu nome, graças a esta campanha de sucesso, a qual também pôs fim definitivamente a independência formal da Macedônia, que a partir de 147 a.C., passa a ter o estatuto de província romana cujos territórios foram mesclados com os da Ilíria e dos Épiro. Metelo foi seu primeiro procônsul (governador).

Epílogo
Em 142 a.C, um outro aventureiro que se chamava Filipe tentou uma revolta semelhante a de Andrisco, mas teve pouca sorte. Derrotado pelo questor Lúcio Tremela foi capturado e condenado à morte.
File:Macedonia SPQR.png
A província romana da Macedônia em 116 d.C.


REFERÊNCIA:
http://es.wikipedia.org/wiki/Andrisco
http://it.wikipedia.org/wiki/Andrisco
http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Pydna_(148_BC)


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

PERSEU (179 - 167 a.C.)

Perseu (em grego: Περσεύς, Perseus)(c. 212 – 165 ou 162 a.C.), último rei da Macedônia e também o último monarca da dinastia Antigônida, uma das sucessoras do império de Alexandre Magno. Ante a contínua decadência da dinastia selêucida na Síria, Perseu foi último baluarte da civilização helenística oriunda do império de Alexandre Magno a fazer frente à contínua expansão de Roma. Ele nasceu em 212 a.C., filho do rei Filipe V com Policrácia de Argos. Casou-se com Laodice V, filha de Seleuco IV Filopátor, rei do Império Selêucida, com quem teve Alexandre, Filipe e uma filha anônima. Posteriormente certo Andrisco reivindicou o trono da Macedônia alegando ser seu filho bastardo.
Moeda de Filipe V com a efígie do herói mitológico Perseu cujo nome
o rei macedônio deu a seu filho primogênito e sucessor


Jovem Guerreiro e Aspirante ao Trono
Desde muito jovem, Perseu iniciou sua carreira no exército macedônio. Em 199 foi nomeado por seu pai comandante do exército encarregado de guardar os passos de Pelagônia contra a tribo ilíria dos peônios. Em 189 a.C. dirige um exército no Épiro onde assediou Anfilóquia, porém foi rechaçado pelos etólios. Em 183, combate os trácios (ou peônios) e em seu território ele (ou seu pai) funda a cidade de Perseis em sua homenagem. Nessa época a Macedônia não é mais a promissora potência helênica, mas um reino, embora independente, vencido pelos romanos e deles tributário.
Efígie de Perseu
Demétrio, o Jovem, que fora refém em Roma, e era embaixador macedônio de seu pai junto ao Senado, parecia gozar de grande favor entre os romanos a ponto de se cogitar uma conspiração com eles para afastar Perseu da sucessão e ele assumir o trono como rei-cliente de Roma. Verdade ou não, Perseu suspeitava que os romanos quisessem colocar Demétrio no trono ao morrer Filipe ou mesmo destronar seu pai. Filipe foi convencido por meio de intrigas de Perseu de que Demétrio mantinha uma correspondência secreta com os romanos para trair o rei. Filipe, considerando Demétrio culpado, mandou executá-lo. Antígono, filho de Equecrates, parente do falecido rei Antígono III Dóson e conselheiro de Filipe, conseguiu convencer o rei de que Demétrio era inocente e que Perseu, por ciúmes, forjara uma falsa conspiração. Diz-se que o rei macedônio ficou com a saúde seriamente debilitada com a morte injusta de Demétrio e quis deserdar Perseu em favor de Antígono. Porém Filipe morreu antes disso e Perseu assumiu o trono da Macedônia (179 a.C.).
Moeda com a efígie de Perseu e com a inscrição Basileus Perseus (rei Perseu)
Perseu mandou executar a Antígono a quem considerava responsável pela intenção de seu pai em deserdá-lo. Apesar da Paz de Flaminino, Filipe considerava inevitável um conflito com Roma e passou seus últimos anos se preparando para um futuro embate. E assim, quando Perseu subiu ao trono, viu-se amplamente guarnecido de homens e dinheiro para o conflito iminente. Mas, quer seja por um desejo sincero de paz ou por indecisão e insegurança, ele procurou evitar uma ruptura aberta o maior tempo possível, e um dos primeiros atos do seu reinado foi a enviar uma embaixada a Roma para obter o reconhecimento de sua realeza e uma renovação do tratado celebrado com seu pai. O envio dessa embaixada era necessário já que ele tinha um conflito com um chefe trácio chamado Abrúpolis , que era aliado de Roma. O líder trácio já tinha investido contra a Macedônia atingindo até a cidade de Anfípolis, mas foi expulso por Perseu. Por fim, Perseu foi reconhecido como rei e renovou o tratado com Roma nas mesmas condições de antes, embora fosse nítida a preferência do Senado pelo falecido Demétrio. Assim, não havia estabilidade no acordo.
O senado romano

Perseu Rei
As primeiras medidas governamentais de Perseu foram de caráter liberal e conciliador. Ele garantiu o apoio de seus súditos pela rescisão dos atos impopulares do reinado de seu pai, chamando todos os exilados e decretando anistia. Ao mesmo tempo, ele procurou o favor dos gregos, muitos dos quais estavam inclinados para a sua causa, de preferência à de Roma e entrou em amplas relações com a Trácia, Ilíria e tribos célticas que circundavam seu reino.Procurou a amizade dos príncipes asiáticos, que da sua parte (com exceção de Eumenes II de Pérgamo) parecem ter procurado também aliançarem-se com ele. O rei sírio Seleuco IV Filopátor deu-lhe sua filha Laodice em casamento, enquanto Prusias II, rei da Bitínia, casou-se com a irmã de Perseu. Mas todas essas tentativas para fortalecer-se por alianças estrangeiras foram mal recebidas pelos romanos que viam nelas uma infração do tratado de paz.
Seleuco IV, sogro de Perseu
Os dardânios foram atacados pelos bastarnos e enviaram uma delegação ao senado romano acusando a Perseu de fomentar este ataque. Em Roma circularam notícias de que enviados macedônios haviam ido secretamente a Cartago, a eterna rival da República Romana. Um novo incidente que agravou as relações da Macedônia com Roma se deu quando Perseu dirigiu uma expedição contra os dólopes, uma tribo trácia, e depois de submeter a tribo, se dirigiu com seu exército a Delfos, oficialmente para fazer um ato religioso (um voto), porém, na realidade ele foi aí para demonstrar sua força e poder aos olhos dos gregos. Roma enviou várias embaixadas para se queixar do posicionamento do rei bem como e inspecionar o estado real das coisas na Macedônia. Perseu enviou muitas desculpas a Roma quanto aos seus procedimentos, mas a tensão entre os dois Estados continuou.

A Terceira Guerra Macedônica (171 – 168 a.C.)
Em 172 a.C., Eumenes II, rei de Pérgamo, foi em pessoa a Roma entregar ao Senado um relatório elaborado do poder, recursos e projetos hostis do rei macedônio. Em seu retorno através da Grécia, foi atacado perto de Delfos por um bando de homens com a intenção de matá-lo, mas sem êxito. Eumenes alegou que o grupo foi enviado por Perseu , vez que tinha como líder um cretense chamado Evandro, que recentemente havia entrado para o serviço de Perseu. Outra trama que os romanos pretendem ter descoberto ao mesmo tempo, foi envenenamento de Rammius, um de seus oficiais, provavelmente uma mera ficção para inflamar as mentes da população contra o rei macedônio. Enfim, a guerra foi determinada pelo Senado, mas não foi declarada até a primavera seguinte (171 a.C.), e mesmo assim os romanos não estavam totalmente preparados para iniciar as hostilidades.
Eumenes II
  Perseu , por outro lado, encontrava-se a frente de um grande exército, totalmente equipado e pronto para a ação imediata, mas em vez de fazer uso dessa vantagem, ele ainda se apegava à ilusória esperança de paz, e foi persuadido por Q. Márcio Filipo, com quem realizou uma conferência de pessoal na Tessália, a enviar embaixadores mais uma vez a Roma. Estes logo retornaram, mas sem mesmo ter obtido uma resposta, enquanto os romanos tinham concluído sua preparação militar, transportado para o Épiro seu exército e o cônsul P. Licínio Crasso estava pronto para entrar em campo. Perseu finalmente convenceu-se de que ele não tinha mais qualquer esperança de atrasar o conflito, e em um conselho de guerra realizado em Pela, determinou-se o estado de guerra. 
Moeda com efígie de Perseu
Embora sem ser apoiado por nenhum aliado, exceto Cotis, rei dos odrísios, tribo trácia, ele se encontrou a frente de um exército de 39.000 homens e 4.000 cavalos, com a qual ele invadiu a Tessália, e depois de tomar algumas pequenas cidades, acampou perto de Sicúrio no vale do rio Peneio. O cônsul Licínio logo chegou na mesma região e no confronto entre a cavalaria dos dois exércitos, os macedônios foram vitoriosos, e, se Perseu tivesse aproveitado a sua vantagem com vigor, provavelmente poderia derrotado totalmente os romanos. Mas o rei vacilou, retirou suas forças, e até mesmo renovou suas propostas de paz que foram rejeitadas com altivez por Licínio . O resto da campanha não teve qualquer resultado decisivo. Os romanos, por sua vez obtivram uma ligeira vantagem, e Perseu , no final do verão se retirou para a Macedônia, aonde Licínio não fez nenhuma tentativa para segui-lo.
Rio Peneio
O segundo ano da guerra (170) passou sem nenhuma ação marcante, mas foi em geral favorável a Perseu. A frota macedônica derrotou a frota romana em Oreus. O cônsul A. Hostílio Mancino, após uma tentativa frustrada de penetrar na Macedônia através das passagens de Elimiotis, permaneceu inativo na Tessália. Enquanto isso, os epirotas se declararam a favor de Perseu, pelo que a sua fronteira tornou-se protegida no lado oeste. Assim, não receando o avanço dos romanos, o rei encontrou tempo para uma expedição contra os dardânios, na qual obteve um grande saque. Durante o inverno seguinte, ele cruzou as montanhas e entrou na Ilíria com um exército, mas não tanto com vista à conquista, como no fim de ganhar o apoio de Gentio, rei dos ilírios. Esse era favorável à causa da Macedônia, mas queria dinheiro, o que Perseu não estava disposto a dar e assim procurou defraudar seu pretenso aliado nos 300 talentos que se comprometera em dar. Houve uma segunda expedição à Acarnânia, mas o resultado foi pouco produtivo.

10-05-06/ 3 Perseus, King of Mac...
Efígie de Perseu num camafeu
A chegada do novo cônsul Q. Márcio Filipe, na primavera de 169, por um momento, deu novo impulso às forças de Roma. Através de uma marcha ousada, mas perigosa, ele atravessou a serra do Olimpo e assim desceu para a Macedônia perto de Heracleio. Se Perseu o tivesse atacado antes de chegar à planície, provavelmente, ele poderia ter destruído todo o exército romano, mas em vez disso, ele foi tomado de pânico, abandonou a posição forte em Díon, e se retirou para Pidna. Márcio inicialmente o seguiu, mas logo foi obrigado a parar por falta de provisões e para voltar para a cidade de Fila, e Perseu ocupou novamente a linha do rio Enipeu na Tessália .
Perseus King of Macedon

Perseu, o Avarento
Como a guerra estava inesperadamente se prolongando e com insucesso das forças romanas, houve o despertamento de um sentimento geral em favor do monarca macedônio; Prusias, rei de Bitínia, e o povo de Rodes começaram negociações diplomáticas em Roma para obter para Perseu uma paz em condições moderadas; até mesmo seu amargo inimigo Eumenes de Pérgamo começou a vacilar, e entrou em negociações secretas no mesmo sentido. Estas foram, no entanto, abortadas pela recusa de Perseu em pagar antecipadamente o montante de dinheiro exigido pelo rei de Pérgamo como o preço de sua interposição; além disso, 20.000 mercenários gauleses que tinham avançado para a Macedônia em seu apoio, retiraram-se, pois o rei não conseguiu obter a remuneração estipulada. Muitos dos Estados gregos que também eram inicialmente favoráveis a Perseu, sem dúvida, poderiam abraçar a sua causa, se tivesse sido mais liberal com seus tesouros, mas sua teimosa avareza acabou por minar as suas vantagens.

A Batalha de Pidna (168 a.C.)
A chegada do novo cônsul, L. Emílio Paulo, que assumiu o comando do exército romano no início do verão de 168, rapidamente mudou o curso das coisas. O novo comandante era homem maduro (c. 60 anos) tido como incorruptível e estava decidido a por fim no conflito com a Macedônia. Antes de efetivar suas operações levantou informações detalhadas para poder combater o inimigo. Paulo encontrou Perseu fortemente posicionado na margem do rio Enipeu, mas com o suporte fornecido por Cipião Nasica com 8.000 homens, ele obrigou o rei macedônio a voltar a Pidna , onde o teve que aguardar a aproximação do inimigo que o encontrou na planície em 22 de junho de 168 a.C. 
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Manobras dos exércitos romano e macedônio que culminaram na Batalha de Pidna
Por um tempo as fileiras cerradas da falange pareciam aptas para tudo vencer, mas a sua ordem foi quebrada logo pelas desigualdades do solo, e os romanos correndo, tiraram vantagem da situação, e fizeram uma terrível carnificina na infantaria da Macedônia, na qual não menos de 20.000 foram mortos, enquanto a cavalaria fugiu do campo de batalha quase sem dar um golpe. Perseu estava entre os primeiros dos fugitivos; inicialmente ele se dirigiu para Pela, mas encontrando-se abandonado por seus amigos, ele apressou-se em partir daí até Anfípolis, acompanhado apenas por três oficiais estrangeiros e 500 mercenários de Creta. Com estes poucos seguidores, e os tesouros que haviam sido coletados em Anfípolis, o rei seguiu para a ilha sagrada de Samotrácia.
Campo da batalha de Pidna
A batalha de Pidna foi uma das mais decisivas da História. Ela assinala o fim da Macedônia como estado independente. Após séculos de conquistas e de inspirar muito respeito nas nações vizinhas, a pátria de Filipe II e Alexandre Magno finalmente sucumbia ao novo império: Roma. Para uma reconstituição da batalha de Pidna veja: http://www.youtube.com/watch?v=ve9wJlqrrOk.

O Último Rei da Macedônia
Na Samotrácia, Perseu foi rapidamente bloqueado pela frota romana do pretor Cneu Otávio e, embora este não se aventurasse a violar o santuário em que o rei se refugiara, Perseu foi sucessivamente abandonado por seus poucos seguidores remanescentes, e após uma tentativa inútil de escapar por mar para a Trácia, afinal foi obrigado a render-se e os seus filhos nas mãos do pretor romano. Quando esteve diante Emílio Paulo, diz-se que Perseu se aviltou com as mais humilhantes súplicas, mas ele foi tratado com gentileza e cortesia pelo general romano, que lhe permitiu o grau de liberdade compatível com a sua posição. Mas não havia mais jeito: o antigo e glorioso reino da Macedônia chegara ao fim  submetido ao poder romano. 
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Perseu se rendendo a Emílio Paulo por Jean-François Pierre Pweyron (1802)
 O reino da Macedônia foi transformado em quatro repúblicas, com Anfípolis, Tessalônica, Pela e Heraclea em Lincestis como capitais.Os impostos sobre os macedônios foram tão altos que os cidadãos romanos não precisaram mais pagar seus impostos ao Estado. No ano seguinte, Perseu foi levado para Roma, onde ele foi obrigado a ornamentar o esplêndido triunfo do seu conquistador (30 de novembro de 167).
File:Aemilia10 5.jpg
Moeda comemorativa da vitória de Emílio Paulo:
de um lado, a efígie da Concórdia; do outro, à direita do troféu,
Emílio Paulo e à esquerda, Perseu e seus dois filhos.
Perseu foi posteriormente lançado em um calabouço, mas a intercessão de Emílio Paulo angariou a sua libertação, e ele foi autorizado a viver em um cativeiro honroso na cidade de Alba Fucens na Itália Central. Com ele estava seu filho Alexandre e sua filha, ainda crianças, e seu filho Filipe, também identificado como meio-irmão do rei, a quem Perseu anteriormente adotara como filho e herdeiro. Sua esposa, Laodice, retorna para a Síria junto a seu irmão o rei selêucida Demétrio I Sóter.
Ruínas da cidade de Alba Fucens
 Perseu viveu pouco em seu exílio (de dois a cinco anos). Segundo algumas fontes, morreu de fome, por recusar-se a comer e segundo outros relatos, menos críveis, foi uma vítima da crueldade de seus guardas que o privavam de dormir. Seu filho e herdeiro morreu pouco depois com cerca de 18 anos. Há uma controvérsia se Filipe era realmente filho ou irmão de Perseu, já que não é geralmente mencionado como filho de Filipe V, mas como filho de Laodice, esposa de Perseu. O destino de sua filha é desconhecido, mas Alexandre tornou-se um toreutes (espécie de artífice de metais), aprendeu o latim e se tornou um notário público.
Ruínas da tumba do rei Perseu na Via Valéria, Avezzano, Itália,
 com placa de homenagem da República da Macedônia
REFERÊNCIAS:
http://es.wikipedia.org/wiki/Perseu_de_Macedonia
http://www.livius.org/pen-pg/perseus/perseus.html
http://www.wildwinds.com/coins/greece/macedonia/kings/philip_V/t.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/2539.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/0198.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/0012.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/2540.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/2541.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Pydna


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

FILIPE V (221 - 179 a.C.) - PARTE V

A Segunda Guerra Macedônica (200 – 197 a.C.)
Envolvidos em sua luta contra Cartago, os romanos deram pouca atenção a Guerra Cretense. Porém, após derrotar os cartagineses (201 a.C.) e sendo constantemente pressionada pelas embaixadas de Rodes e Atenas, Roma enviou uma delegação para apurar os fatos e o embaixador Marco Lépido transmitiu um ultimato do Senado para que Filipe acabasse com as agressões a Rodes e seus aliados ou enfrentartia uma nova guerra com Roma. Filipe aderiu a segunda opção e os romanos invadiram os territórios macedônicos na Ilíria (200 a.C.). Filipe tinha poucos aliados ativos na Grécia, mas havia pouco entusiasmo entre os gregos pela causa romana já que lembravam-se da brutalidade frequente das legiões durante a Primeira Guerra Macedônica (214 – 205 a.C.). A maioria dos Estados helênicos adotou uma política de esperar para ver o caminho que a guerra tomaria. Para os dois primeiros anos, a campanha romana foi ineficiente.
Arquivo: Romeinse vlag.jpg
Recriação moderna de um estandarte romano com a abreviação
 de Senatus popolusque romanus (o Senado e o povo romano)
O general Públio Sulpício Galba pouco avançou contra Filipe bem como seu sucessor, Públio Vílio, que teve que lidar com um motim entre seus próprios homens. Em 198 a.C., Vílio entregou o comando a Tito Quincio Flaminino, o qual não tinha nem trinta anos e era um fervoroso e autoproclamado philohellene (“amigos dos gregos”). Ele introduziu uma nova política romana para vencer a guerra. Até este ponto, os romanos tinham apenas ordenado a Filipe que parasse de atacar as cidades gregas ("paz na Grécia"). Agora Flaminino exigiu que ele deveria retirar todas as suas guarnições das cidades gregas e que tinha que limitar-se a Macedônia ("liberdade para os gregos").
Moeda com a efígie de Flaminino

"Negociações" de Paz
Flaminino liderou uma campanha vigorosa contra Filipe em 198, obrigando-o a recuar para a Tessália. As cidades da Liga Aqueia, formalmente aliadas da Macedônia, estavam demasiado ocupadas com a guerra contra Esparta para tomar parte no conflito. O sucesso de Roma contra a Filipe convenceu muitas delas a abandonar a sua postura pró-Macedônia. Outras, como Argos, permaneceram leais a Filipe. O rei macedônio manifestou-se no sentido de fazer a paz com Roma, mas a sua intenção veio em um momento crítico para Flaminino que aguardava os resultados das eleições em Roma cujo resultado poderia prolongar ou interromper a ação do general romano. Flaminino estava ansioso para tomar o crédito pelo fim da guerra, mas ele ainda não sabia se o seu comando seria prolongado. Ele decidiu negociar com Filipe, enquanto aguardava o resultado das eleições. Se fosse chamado a Roma, então ele iria fazer um rápido acordo de paz com a Macedônia. Se, por outro lado, o seu comando fosse mantido, então ele iria romper as negociações e declarar guerra a Filipe novamente. 
Relevo retratando senadores romanos
Flaminino e Filipe encontraram-se em Niceia, na Lócrida, em novembro de 198. Para prolongar a negociação, Flaminino insistiu que todos os seus aliados deveriam estar presentes nas negociações e reiterou sua exigência de que Filipe deveria retirar-se de toda a Grécia, inclusive da Tessália, região a qual a Macedônia dominava a muitos anos. Filipe, que até propusera desistir de todas as conquistas de seus recentes na Trácia e na Ásia Menor em troca da paz, não estava disposto a ceder tanto. Flaminino persuadiu o rei de que o problema era que os Estados gregos é que estavam insistindo nesse ponto e sugeriu que ele enviasse uma embaixada ao Senado romano. Filipe seguiu seu conselho, mas neste momento Flaminino soube que o seu comando tinha sido prorrogado e seus amigos em Roma interferiram com sucesso nas negociações da Macedônia ante o Senado em Roma para que a guerra pudesse continuar.

A Batalha do Aous
Vendo que o curso do conflito seguia favorável a Roma, alguns aliados restantes de Filipe o abandonaram (com exceção dos da Acarnânia) e ele foi forçado a levantar um exército de 25.000 mercenários. Em dois anos de conflito, os romanos já haviam invadido a Ilíria tomando a cidade de Apolônia e penetrado no lado ocidental do domínio macedônico. Filipe tomara posição defensiva às margens do rio Aous perto do desfiladeiro de Antigoneia bloqueando a rota para o lado oriental da Macedônia. Como as negociações de paz falharam, Filipe retornou a sua posição defensiva no desfiladeiro do Aous.
Rio Aous (atual Vjose)
 Os romanos foram providos com um guia local por Carops, um epirota poderoso. Com a ajuda do guia, os soldados romanos marcharam em torno da posição de Filipe ameaçando prendê-lo no desfiladeiro. O rei percebeu o perigo a tempo e conseguiu escapar da armadilha, mas teve que enfrentar os romanos. As legiões de Flaminino derrotaram Filipe em 24 de junho de 198 na Batalha do rio Aous. Filipe perdeu cerca de 2000 homens além de sua bagagem e de deixar a Tessália exposta aos romanos, que entraram na região onde capturaram muitas cidades, antes de virar para sul em direção ao Golfo de Corinto. Ante o sucesso romano, a Liga Aqueia, aliada formal da Macedônia que não havia se posicionado quanto ao conflito, decidiu-se pelo lado de Roma. Essa era a primeira vitória romana significativa na guerra contra a Macedônia, mas ainda não lograra um resultado definitivo para o conflito.

A Batalha de Cinocéfalos (197 a.C.)
Flaminino e seus aliados da Liga Etólia estavam em Tebas, e decidiram marchar até a cidade de Feras à procura de Filipe, que estava em Larissa, ambas cidades da Tessália. O exército romano contava além de seu efetivo próprio com 10.000 homens da Liga Etólia. Ao todo, o exército sob o comando de Flaminino consistia em 23.000 soldados, 1.100 cavaleiros e 20 elefantes (provavelmente fornecidos por Masinissa, rei da Numídia, reino aliado de Roma na África). Filipe tinha cerca de 16.000 soldados em formação falange, 2.000 hoplitas, 5.500 de infantaria ligeira vindos da Ilíria, Trácia e Creta, e 2000 forças de cavalaria, constituindo-se 25.500 combatentes no total. Tropas de reconhecimento de ambos os lados reuniram-se perto de Feras. O local não era adequado para uma grande batalha, mas o conflito foi inevitável.
O "melancólico Roman": provavelmente um portait de T. Quinctius Flamininus.  Museu de Delfos (Grécia).  Foto Marco Prins.
Flaminino
As tropas de Filipe foram inicialmente derrotadas em um combate de cavalaria, nas colinas de fora da cidade. Ambos os lados, em seguida, marcharam para Escotusa. Os macedônios, em seguida, partiram para se abastecerem seus estoques de alimentos, em paralelo com os romanos, que tentavam privá-los dos alimentos. Por fim, os exércitos adversários se acharam separados uma cordilheira conhecida como Cinoscéfalos (do grego kynós = cão, e kephalê = cabeça; chamada assim por sua semelhança com uma cabeça de cachorro). Durante a marcha, ocorreu uma tempestade, e na manhã seguinte os montes foram cobertos por um denso nevoeiro. Apesar disto, Filipe continuou a marcha, mas as condições climáticas e do terreno criaram uma confusão entre as suas tropas, que acabaram atingindo as colinas de Cinocéfalos. Flaminino enviou a cavalaria que, deparando-se com o acampamento macedônico, atacou de surpresa às tropas de Filipe. Flaminino enviou 500 unidades de cavalaria e 200 de infantaria como reforços adicionais, obrigando o rei macedônio a voltar para o topo da colina. O comandante dos mercenários de Filipe, Atenágoras, conseguiu contra-atacar e expulsar os romanos da colina.
Campo de batalha de Cinocéfalos
Quando Filipe soube que os romanos fugiram desordenadamente, irrefletidamente, decidiu mobilizar suas tropas para o fundo do vale. A geografia do terreno dificultava o manejo pelos macedônios de suas longas e famosas lanças (as sarissas) e Filipe ordenou que deixassem essas lanças e partissem para o combate corpo-a-corpo (desfazendo assim a formação da temível falange macedônica). Era o confronto não apenas entre dois exércitos, mas entre duas formas de se guerrear e a legião romana mostrou sua superioridade sobre a falange macedônica, já que tinha uma formação mais flexível. Sob o hábil comando de Flaminino, o exército romano atacou maciçamente por trás e pela frente provocando muitas perdas no exército macedônio; ante as pesadas baixas muitos soldados de Filipe começaram a se render ou fugir. Filipe conseguiu escapar seguramente, mas a guerra estava perdida.

A Paz de Flaminino
Um armistício foi declarado e as negociações de paz foram realizadas no Vale de Tempe. Filipe concordou em retirar-se de toda a Grécia e abandonar as suas conquistas na Trácia e na Ásia Menor. Os aliados de Roma na Liga Etólia também reivindicaram territórios contra Filipe, mas Flaminino se recusou a apoiá-los. O tratado de paz foi enviado a Roma para ratificação pelo Senado, o qual acrescentou ao tratado que Filipe deveria pagar uma pesada indenização de guerra e entregar sua marinha (embora o seu exército permanecesse intacto). Além disso, para garantir o acordo, o filho de Filipe, Demétrio, o Jovem, foi dado como refém aos romanos dentre outros mecedônios. Em 196, a paz foi finalmente acordada por Roma e Macedônia e nos Jogos Ístmicos desse ano Flaminino proclamou a libertação dos gregos. Filipe começara seu reinado há 25 anos como campeão dos gregos e agora era derrotado como seu opressor. No entanto, os romanos mantiveram guarnições nas principais cidades estratégicas, que haviam pertencido a Macedônia (Corinto, Cálcis e Demetríade) e as legiões não foram completamente evacuadas até 194. 
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Vale de Tempe

Aliança com Roma
Com o fim da Segunda Guerra Macedônica, Filipe colaborou com os romanos e auxiliou-os na sua luta contra os espartanos sob o rei Nabis em 195 a.C. Filipe também apoiou os romanos contra Antíoco III, o Grande, com o qual o já se aliançara contra o Egito e Rodes, quando da Guerra Síria (192-188 a.C.) entre Roma e o reino selêucida da Síria. Em troca de sua ajuda quando as forças romanas sob Públio Cipião, o Africano, e seu irmão Lúcio Cipião, o Asiático, atravessaram a Macedônia e Trácia, em 190 a.C., os romanos perdoaram a indenização remanescente que ele tinha que pagar e seu filho Demétrio foi libertado. Filipe então dedica-se em consolidar seu poder dentro da Macedônia. Ele reorganizou assuntos internos do país e as finanças, as minas foram reabertas e uma nova moeda foi emitida.
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A Macedônia e adjacências ao fim da Guerra Síria em 188 a.C.
No entanto, Roma continuava a ter suspeitas das intenções de Filipe. Acusações por Estados vizinhos da Macedônia, particularmente Pérgamo, incrementavam a constante interferência romana. Sentindo como uma crescente ameaça a possiblidade de Roma invadir a Macedônia e removê-lo como rei, ele tentou estender sua influência nos Balcãs pela força e diplomacia. Para acalmar os ânimos de Roma, Filipe enviou Demétrio como embaixador para assegurá-los de sua lealdade.  Ao que parece, Demétrio obteve êxito por gozar de maior favor perante o Senado do que seu pai e seu irmão Perseu, que talvez fossem substituídos por um rei menos perigoso a Roma. Isto levou a uma briga entre Perseu e Demétrio que obrigou Filipe, com relutância decidir executar Demétrio por traição em 180 a.C. Esta decisão teve um grave impacto sobre a saúde de Filipe e ele morreu um ano depois (179 a.C.) em Anfípolis. Ele foi sucedido por seu filho mais velho, Perseu.

REFERÊNCIAS:
http://en.wikipedia.org/wiki/Second_Macedonian_War
http://pages.interlog.com/~gilgames/senate.htm
http://www.livius.org/ct-cz/cynoscephalae/cynoscephalae.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Filipe_V_of_Macedon
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Romeinse_vlag.jpg

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

FILIPE V (221 - 179 a.C.) - PARTE IV

Ataque ao Quersoneso Trácio
Tendo em vista a ameaça constante de Filipe, delegações de Rodes, Pérgamo e Atenas viajaram a Roma para buscar auxílio perante o Senado. Os embaixadores informaram ao Senado sobre o tratado entre Filipe e Antíoco e reclamaram dos ataques de Filipe aos seus territórios. Em resposta a essas reclamações, os romanos enviaram três embaixadores (Marco Emílio Lépido, Caio Cláudio Nero e Públio Semprônio Tuditano) para o Egito com as ordens para irem a Rodes depois de conferenciarem com o faraó Ptolomeu V. Enquanto isso ocorria, Filipe atacou e ocupou as cidades de Maronea, Cipselas, Doriscos, Serrheum e Aemus, as quais localizavam-se na Trácia, mas pertenciam ao Egito. 
O Quersoneso Trácio
 Os macedônios então avançaram para o Quersoneso Trácio onde capturaram as cidades de Perinto, Sestos, Eleu, Alopeconeso, Calípolis e Madito. Filipe desceu então para a cidade de Abidos, que foi defendida por uma guarnição conjunta de Pérgamo e Rodes. Filipe começou o cerco bloqueando a cidade por terra e mar para deter reforços e o envio de mantimentos à cidade. Os habitantes, no entanto, repeliram as máquinas de assédio macedônicas com suas próprias catapultas bem como foram queimadas outras artefatos bélicos de Filipe pelos defensores da cidade. Com suas armas de cerco inutilizadas, os macedônios começaram a minar as muralhas da cidade conseguindo o desmoronamento da parede exterior.

A Tomada de Abidos
A situação tornou-se grave para os cidadãos de Abidos que, por fim, decidiram enviar dois de seus cidadãos mais proeminentes a Filipe como negociadores. Eles ofereceram entregar a cidade a Filipe sob as condições de que as guarnições de Rodes e Pérgamo fossem autorizadas a deixar a cidade sob uma trégua e que todos os cidadãos fossem autorizados a deixar a cidade com as roupas que estavam vestindo e ir para onde quisessem. Filipe respondeu que eles deveriam "se render em discrição ou lutar como homens." Os embaixadores, impotentes para fazer algo mais, levaram essa resposta à cidade. Ante a resposta de Filipe, os líderes da cidade convocaram uma assembléia para determinar o seu curso de ação. Eles decidiram libertar todos os escravos para garantir a sua fidelidade, transportar todas as crianças e os seus cuidadores para o ginásio e colocar todas as mulheres no templo da deusa Ártemis. Todos levaram seu ouro, prata e objetos de valor para os barcos de Rodes e de Cízico. Segundo o historiador Políbio, os habitantes fizeram um juramento de que se a muralha fosse capturada pelos macedônios, eles matariam todas as crianças e mulheres, incendiariam os barcos rodianos e cizicenses e lançariam os objetos de valor no mar após haverem imprecado maldições contra seus inimigos.
Filipe V
Depois de recitar o juramento, que apresentaram aos sacerdotes, todos juraram derrotar o inimigo ou morrer tentando. Quando o muro interior caiu, os homens, fiéis à sua promessa, lutaram com grande coragem, obrigando Filipe a reforçar seu ataque na linha de frente. Ao anoitecer, os macedônios se retiraram para o acampamento e os cidadãos de Abidos resolveram salvar as mulheres e crianças. Ao amanhecer eles mandaram alguns sacerdotes e sacerdotisas com adornos de vitória aos macedônios entregando a cidade a Filipe. Porém, os habitantes preferiram se matar para cumprir o nesfasto juramento. Muitas pessoas se mataram por punhaladas, se incendiando, enforcando-se e pulando dentro poços e de sobre os telhados.
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A Macedônia e reinos adjacentes no ano 200 a.C.


A Intervenção de Roma
Enquanto isso, outras partes interessadas e envolvidas na Guerra Cretense se movimentavam. Átalo atravessara o mar Egeu e aportara na ilha de Tenedos. O embaixador romano Marco Emílio Lépido rumou de Rodes para Abidos para encontrar Filipe. Lépido encontrou-se com o rei fora da cidade, informou-lhe os desejos do Senado: não travar a guerra com qualquer Estado grego, nem para interferir nos domínios de Ptolomeu, submeter arbitragem romana os prejuízos causados a Átalo e a Rodes e, que se ele assim fizesse, ele poderia ter paz. Mas se recusasse a obedecer a ele prontamente teria guerra com Roma. A essa altura Roma já havia vencido a Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.) tendo derrotado Cartago e anexando vastos territórios na Hispânia (atual Península Ibérica).
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Estátua de M. E. Lépido
 Diante de um poderoso adversário, Filipe argumentou que o Rodes tinha atacado primeiro. Lépido redarguiu que Atenas, Cio e a própria Abidos diante deles também teriam atacado primeiro? O rei, sem saber o que responder, por fim, com sua contumaz altivez, disse que perdoava o atrevimento do romano por três razões: primeiro, porque ele era um homem jovem e inexperiente nesses assuntos; em segundo lugar, porque ele era o homem mais bonito do seu tempo e em terceiro lugar, porque ele era um romano. “Mas”, prossegue o rei, segundo Políbio, “de minha parte, minha primeira exigência aos romanos é que eles não deveriam quebrar seus tratados nem entrar em guerra comigo; mas se fizerem isso, vou me defender da forma mais corajosa que eu puder, apelando aos deuses para defender a minha causa." Assim era inevitável uma segunda guerra entre Roma e a Macedônia.

Fim da Guerra Cretense (200 a.C.)
Filipe ordenou outro ataque a Atenas. Embora seu exército não tenha conseguido tomar Atenas ou Eleusis, submeteu a Ática ao pior assolamento que os aticenses haviam visto desde as Guerras Persas (490-448 a.C.). Em resposta, os romanos declararam guerra contra Filipe e invadiram seu território na Ilíria. O rei foi forçado a abandonar a sua campanha contra Rodes a fim de lidar com os romanos e com a situação na Grécia. A Guerra Cretense chegara ao fim: sem o apoio de Filipe, as cidades cretenses que eram suas aliadas ficaram vulneráveis aos ataques de Rodes que por fim conseguiu apoio da cidade de Cnossos e outras cidades do interior de Creta. Hieráptina, que liderava a luta contra Rodes, por fim se rendeu. Por fim após quase perder sua independência Rodes emergia como potência do mar Egeu e passou a dominar o lado oriental de Creta.
Cnossos, a principal cidade da antiga Creta 
http://es.wikipedia.org/wiki/Guerra_cretense
http://en.wikipedia.org/wiki/Cretan_War
http://www.livius.org/he-hg/hellespont/abydus.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Marcus_Aemilius_Lepidus_(consul_187_BC)