Perseu (em grego: Περσεύς, Perseus)(c. 212 – 165 ou 162 a.C.), último rei da Macedônia e também o último monarca da dinastia Antigônida, uma das sucessoras do império de Alexandre Magno. Ante a contínua decadência da dinastia selêucida na Síria, Perseu foi último baluarte da civilização helenística oriunda do império de Alexandre Magno a fazer frente à contínua expansão de Roma. Ele nasceu em 212 a.C., filho do rei Filipe V com Policrácia de Argos. Casou-se com Laodice V, filha de Seleuco IV Filopátor, rei do Império Selêucida, com quem teve Alexandre, Filipe e uma filha anônima. Posteriormente certo Andrisco reivindicou o trono da Macedônia alegando ser seu filho bastardo.
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Moeda de Filipe V com a efígie do herói mitológico Perseu cujo nome
o rei macedônio deu a seu filho primogênito e sucessor |
Jovem Guerreiro e Aspirante ao Trono
Desde muito jovem, Perseu iniciou sua carreira no exército macedônio. Em 199 foi nomeado por seu pai comandante do exército encarregado de guardar os passos de Pelagônia contra a tribo ilíria dos peônios. Em 189 a.C. dirige um exército no Épiro onde assediou Anfilóquia, porém foi rechaçado pelos etólios. Em 183, combate os trácios (ou peônios) e em seu território ele (ou seu pai) funda a cidade de Perseis em sua homenagem. Nessa época a Macedônia não é mais a promissora potência helênica, mas um reino, embora independente, vencido pelos romanos e deles tributário.
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Efígie de Perseu |
Demétrio, o Jovem, que fora refém em Roma, e era embaixador macedônio de seu pai junto ao Senado, parecia gozar de grande favor entre os romanos a ponto de se cogitar uma conspiração com eles para afastar Perseu da sucessão e ele assumir o trono como rei-cliente de Roma. Verdade ou não, Perseu suspeitava que os romanos quisessem colocar Demétrio no trono ao morrer Filipe ou mesmo destronar seu pai. Filipe foi convencido por meio de intrigas de Perseu de que Demétrio mantinha uma correspondência secreta com os romanos para trair o rei. Filipe, considerando Demétrio culpado, mandou executá-lo. Antígono, filho de Equecrates, parente do falecido rei Antígono III Dóson e conselheiro de Filipe, conseguiu convencer o rei de que Demétrio era inocente e que Perseu, por ciúmes, forjara uma falsa conspiração. Diz-se que o rei macedônio ficou com a saúde seriamente debilitada com a morte injusta de Demétrio e quis deserdar Perseu em favor de Antígono. Porém Filipe morreu antes disso e Perseu assumiu o trono da Macedônia (179 a.C.).
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Moeda com a efígie de Perseu e com a inscrição Basileus Perseus (rei Perseu) |
Perseu mandou executar a Antígono a quem considerava responsável pela intenção de seu pai em deserdá-lo. Apesar da Paz de Flaminino, Filipe considerava inevitável um conflito com Roma e passou seus últimos anos se preparando para um futuro embate. E assim, quando Perseu subiu ao trono, viu-se amplamente guarnecido de homens e dinheiro para o conflito iminente. Mas, quer seja por um desejo sincero de paz ou por indecisão e insegurança, ele procurou evitar uma ruptura aberta o maior tempo possível, e um dos primeiros atos do seu reinado foi a enviar uma embaixada a Roma para obter o reconhecimento de sua realeza e uma renovação do tratado celebrado com seu pai. O envio dessa embaixada era necessário já que ele tinha um conflito com um chefe trácio chamado Abrúpolis , que era aliado de Roma. O líder trácio já tinha investido contra a Macedônia atingindo até a cidade de Anfípolis, mas foi expulso por Perseu. Por fim, Perseu foi reconhecido como rei e renovou o tratado com Roma nas mesmas condições de antes, embora fosse nítida a preferência do Senado pelo falecido Demétrio. Assim, não havia estabilidade no acordo.
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O senado romano |
Perseu Rei
As primeiras medidas governamentais de Perseu foram de caráter liberal e conciliador. Ele garantiu o apoio de seus súditos pela rescisão dos atos impopulares do reinado de seu pai, chamando todos os exilados e decretando anistia. Ao mesmo tempo, ele procurou o favor dos gregos, muitos dos quais estavam inclinados para a sua causa, de preferência à de Roma e entrou em amplas relações com a Trácia, Ilíria e tribos célticas que circundavam seu reino.Procurou a amizade dos príncipes asiáticos, que da sua parte (com exceção de Eumenes II de Pérgamo) parecem ter procurado também aliançarem-se com ele. O rei sírio Seleuco IV Filopátor deu-lhe sua filha Laodice em casamento, enquanto Prusias II, rei da Bitínia, casou-se com a irmã de Perseu. Mas todas essas tentativas para fortalecer-se por alianças estrangeiras foram mal recebidas pelos romanos que viam nelas uma infração do tratado de paz.
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Seleuco IV, sogro de Perseu |
Os dardânios foram atacados pelos bastarnos e enviaram uma delegação ao senado romano acusando a Perseu de fomentar este ataque. Em Roma circularam notícias de que enviados macedônios haviam ido secretamente a Cartago, a eterna rival da República Romana. Um novo incidente que agravou as relações da Macedônia com Roma se deu quando Perseu dirigiu uma expedição contra os dólopes, uma tribo trácia, e depois de submeter a tribo, se dirigiu com seu exército a Delfos, oficialmente para fazer um ato religioso (um voto), porém, na realidade ele foi aí para demonstrar sua força e poder aos olhos dos gregos. Roma enviou várias embaixadas para se queixar do posicionamento do rei bem como e inspecionar o estado real das coisas na Macedônia. Perseu enviou muitas desculpas a Roma quanto aos seus procedimentos, mas a tensão entre os dois Estados continuou.
A Terceira Guerra Macedônica (171 – 168 a.C.)
Em 172 a.C., Eumenes II, rei de Pérgamo, foi em pessoa a Roma entregar ao Senado um relatório elaborado do poder, recursos e projetos hostis do rei macedônio. Em seu retorno através da Grécia, foi atacado perto de Delfos por um bando de homens com a intenção de matá-lo, mas sem êxito. Eumenes alegou que o grupo foi enviado por Perseu , vez que tinha como líder um cretense chamado Evandro, que recentemente havia entrado para o serviço de Perseu. Outra trama que os romanos pretendem ter descoberto ao mesmo tempo, foi envenenamento de Rammius, um de seus oficiais, provavelmente uma mera ficção para inflamar as mentes da população contra o rei macedônio. Enfim, a guerra foi determinada pelo Senado, mas não foi declarada até a primavera seguinte (171 a.C.), e mesmo assim os romanos não estavam totalmente preparados para iniciar as hostilidades.
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Eumenes II |
Perseu , por outro lado, encontrava-se a frente de um grande exército, totalmente equipado e pronto para a ação imediata, mas em vez de fazer uso dessa vantagem, ele ainda se apegava à ilusória esperança de paz, e foi persuadido por Q. Márcio Filipo, com quem realizou uma conferência de pessoal na Tessália, a enviar embaixadores mais uma vez a Roma. Estes logo retornaram, mas sem mesmo ter obtido uma resposta, enquanto os romanos tinham concluído sua preparação militar, transportado para o Épiro seu exército e o cônsul P. Licínio Crasso estava pronto para entrar em campo. Perseu finalmente convenceu-se de que ele não tinha mais qualquer esperança de atrasar o conflito, e em um conselho de guerra realizado em Pela, determinou-se o estado de guerra.
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Moeda com efígie de Perseu |
Embora sem ser apoiado por nenhum aliado, exceto Cotis, rei dos odrísios, tribo trácia, ele se encontrou a frente de um exército de 39.000 homens e 4.000 cavalos, com a qual ele invadiu a Tessália, e depois de tomar algumas pequenas cidades, acampou perto de Sicúrio no vale do rio Peneio. O cônsul Licínio logo chegou na mesma região e no confronto entre a cavalaria dos dois exércitos, os macedônios foram vitoriosos, e, se Perseu tivesse aproveitado a sua vantagem com vigor, provavelmente poderia derrotado totalmente os romanos. Mas o rei vacilou, retirou suas forças, e até mesmo renovou suas propostas de paz que foram rejeitadas com altivez por Licínio . O resto da campanha não teve qualquer resultado decisivo. Os romanos, por sua vez obtivram uma ligeira vantagem, e Perseu , no final do verão se retirou para a Macedônia, aonde Licínio não fez nenhuma tentativa para segui-lo.
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Rio Peneio |
O segundo ano da guerra (170) passou sem nenhuma ação marcante, mas foi em geral favorável a Perseu. A frota macedônica derrotou a frota romana em Oreus. O cônsul A. Hostílio Mancino, após uma tentativa frustrada de penetrar na Macedônia através das passagens de Elimiotis, permaneceu inativo na Tessália. Enquanto isso, os epirotas se declararam a favor de Perseu, pelo que a sua fronteira tornou-se protegida no lado oeste. Assim, não receando o avanço dos romanos, o rei encontrou tempo para uma expedição contra os dardânios, na qual obteve um grande saque. Durante o inverno seguinte, ele cruzou as montanhas e entrou na Ilíria com um exército, mas não tanto com vista à conquista, como no fim de ganhar o apoio de Gentio, rei dos ilírios. Esse era favorável à causa da Macedônia, mas queria dinheiro, o que Perseu não estava disposto a dar e assim procurou defraudar seu pretenso aliado nos 300 talentos que se comprometera em dar. Houve uma segunda expedição à Acarnânia, mas o resultado foi pouco produtivo.
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Efígie de Perseu num camafeu |
A chegada do novo cônsul Q. Márcio Filipe, na primavera de 169, por um momento, deu novo impulso às forças de Roma. Através de uma marcha ousada, mas perigosa, ele atravessou a serra do Olimpo e assim desceu para a Macedônia perto de Heracleio. Se Perseu o tivesse atacado antes de chegar à planície, provavelmente, ele poderia ter destruído todo o exército romano, mas em vez disso, ele foi tomado de pânico, abandonou a posição forte em Díon, e se retirou para Pidna. Márcio inicialmente o seguiu, mas logo foi obrigado a parar por falta de provisões e para voltar para a cidade de Fila, e Perseu ocupou novamente a linha do rio Enipeu na Tessália .
Perseu, o Avarento
Como a guerra estava inesperadamente se prolongando e com insucesso das forças romanas, houve o despertamento de um sentimento geral em favor do monarca macedônio; Prusias, rei de Bitínia, e o povo de Rodes começaram negociações diplomáticas em Roma para obter para Perseu uma paz em condições moderadas; até mesmo seu amargo inimigo Eumenes de Pérgamo começou a vacilar, e entrou em negociações secretas no mesmo sentido. Estas foram, no entanto, abortadas pela recusa de Perseu em pagar antecipadamente o montante de dinheiro exigido pelo rei de Pérgamo como o preço de sua interposição; além disso, 20.000 mercenários gauleses que tinham avançado para a Macedônia em seu apoio, retiraram-se, pois o rei não conseguiu obter a remuneração estipulada. Muitos dos Estados gregos que também eram inicialmente favoráveis a Perseu, sem dúvida, poderiam abraçar a sua causa, se tivesse sido mais liberal com seus tesouros, mas sua teimosa avareza acabou por minar as suas vantagens.
A Batalha de Pidna (168 a.C.)
A chegada do novo cônsul, L. Emílio Paulo, que assumiu o comando do exército romano no início do verão de 168, rapidamente mudou o curso das coisas. O novo comandante era homem maduro (c. 60 anos) tido como incorruptível e estava decidido a por fim no conflito com a Macedônia. Antes de efetivar suas operações levantou informações detalhadas para poder combater o inimigo. Paulo encontrou Perseu fortemente posicionado na margem do rio Enipeu, mas com o suporte fornecido por Cipião Nasica com 8.000 homens, ele obrigou o rei macedônio a voltar a Pidna , onde o teve que aguardar a aproximação do inimigo que o encontrou na planície em 22 de junho de 168 a.C.
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Manobras dos exércitos romano e macedônio que culminaram na Batalha de Pidna |
Por um tempo as fileiras cerradas da falange pareciam aptas para tudo vencer, mas a sua ordem foi quebrada logo pelas desigualdades do solo, e os romanos correndo, tiraram vantagem da situação, e fizeram uma terrível carnificina na infantaria da Macedônia, na qual não menos de 20.000 foram mortos, enquanto a cavalaria fugiu do campo de batalha quase sem dar um golpe. Perseu estava entre os primeiros dos fugitivos; inicialmente ele se dirigiu para Pela, mas encontrando-se abandonado por seus amigos, ele apressou-se em partir daí até Anfípolis, acompanhado apenas por três oficiais estrangeiros e 500 mercenários de Creta. Com estes poucos seguidores, e os tesouros que haviam sido coletados em Anfípolis, o rei seguiu para a ilha sagrada de Samotrácia.
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Campo da batalha de Pidna |
A batalha de Pidna foi uma das mais decisivas da História. Ela assinala o fim da Macedônia como estado independente. Após séculos de conquistas e de inspirar muito respeito nas nações vizinhas, a pátria de Filipe II e Alexandre Magno finalmente sucumbia ao novo império: Roma. Para uma reconstituição da batalha de Pidna veja:
http://www.youtube.com/watch?v=ve9wJlqrrOk.
O Último Rei da Macedônia
Na Samotrácia, Perseu foi rapidamente bloqueado pela frota romana do pretor Cneu Otávio e, embora este não se aventurasse a violar o santuário em que o rei se refugiara, Perseu foi sucessivamente abandonado por seus poucos seguidores remanescentes, e após uma tentativa inútil de escapar por mar para a Trácia, afinal foi obrigado a render-se e os seus filhos nas mãos do pretor romano. Quando esteve diante Emílio Paulo, diz-se que Perseu se aviltou com as mais humilhantes súplicas, mas ele foi tratado com gentileza e cortesia pelo general romano, que lhe permitiu o grau de liberdade compatível com a sua posição. Mas não havia mais jeito: o antigo e glorioso reino da Macedônia chegara ao fim submetido ao poder romano.
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Perseu se rendendo a Emílio Paulo por Jean-François Pierre Pweyron (1802) |
O reino da Macedônia foi transformado em quatro repúblicas, com Anfípolis, Tessalônica, Pela e Heraclea em Lincestis como capitais.Os impostos sobre os macedônios foram tão altos que os cidadãos romanos não precisaram mais pagar seus impostos ao Estado. No ano seguinte, Perseu foi levado para Roma, onde ele foi obrigado a ornamentar o esplêndido triunfo do seu conquistador (30 de novembro de 167).
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Moeda comemorativa da vitória de Emílio Paulo:
de um lado, a efígie da Concórdia; do outro, à direita do troféu,
Emílio Paulo e à esquerda, Perseu e seus dois filhos. |
Perseu foi posteriormente lançado em um calabouço, mas a intercessão de Emílio Paulo angariou a sua libertação, e ele foi autorizado a viver em um cativeiro honroso na cidade de Alba Fucens na Itália Central. Com ele estava seu filho Alexandre e sua filha, ainda crianças, e seu filho Filipe, também identificado como meio-irmão do rei, a quem Perseu anteriormente adotara como filho e herdeiro. Sua esposa, Laodice, retorna para a Síria junto a seu irmão o rei selêucida Demétrio I Sóter.
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Ruínas da cidade de Alba Fucens
Perseu viveu pouco em seu exílio (de dois a cinco anos). Segundo algumas fontes, morreu de fome, por recusar-se a comer e segundo outros relatos, menos críveis, foi uma vítima da crueldade de seus guardas que o privavam de dormir. Seu filho e herdeiro morreu pouco depois com cerca de 18 anos. Há uma controvérsia se Filipe era realmente filho ou irmão de Perseu, já que não é geralmente mencionado como filho de Filipe V, mas como filho de Laodice, esposa de Perseu. O destino de sua filha é desconhecido, mas Alexandre tornou-se um toreutes (espécie de artífice de metais), aprendeu o latim e se tornou um notário público.
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Ruínas da tumba do rei Perseu na Via Valéria, Avezzano, Itália,
com placa de homenagem da República da Macedônia |
REFERÊNCIAS:
http://es.wikipedia.org/wiki/Perseu_de_Macedonia
http://www.livius.org/pen-pg/perseus/perseus.html
http://www.wildwinds.com/coins/greece/macedonia/kings/philip_V/t.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/2539.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/0198.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/0012.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/2540.html
http://www.ancientlibrary.com/smith-bio/2541.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Pydna