sexta-feira, 30 de julho de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE VI

Trecho do Sarcófago de Alexandre retratando o conquistador marchando sobre os persas na Batalha de Isso (331 a.C.)


O Novo Rei da Babilônia
Após a vitória em Gaugamela, Alexandre dirige-se para a Babilônia, capital de antigos impérios e considerada a "alma do Oriente". Em 18 de outubro, ele estava em Sippar, onde anunciou que iria poupar as casas dos babilônios. Ao saber disso, o governador da cidade, Mazeu, que chegara a lutar contra o Macedônio em Gaugamela, apresentou sua rendição. Era o testemunho de que os persas já começavam a aceitar que seu império estava mudando de senhor. Os babilônios, assim como fizeram com Ciro, o Grande, receberam Alexandre como seu libertador. Desde de Xerxes I (486 - 465 a.C.), que destruíra seus principais templos, os babilônios se ressentiam do governo persa. O exército de Alexandre entrou na cidade pela famosa porta de Ishtar e o rei vitorioso desfilou na  carruagem real  com seus exércitos pela principal rua da grande cidade. Os babilônios reconheceram o novo governante como "rei do mundo", provavelmente uma tradução do título grego que Alexandre tinha adotado após a batalha de Isso: Rei da Ásia. Abaixo, ilustração da entrada triunfal de Alexandre na Babilônia.
Alexandre nomeou Mazeu como sátrapa da Babilônia. Após Doloaspis no Egito, Mazeu foi o primeiro de uma série de persas que ocuparam funções importantes sob o governo de Alexandre. Naquele momento, a maioria dos macedônios teria entendido que esta era uma necessidade militar, porque, posteriormente, os sátrapas das regiões a serem conquistadas prefeririam chegar a um acordo do que lutar, se eles soubessem que seriam reconduzidos ao cargo. As gerações posteriores de autores gregos, no entanto, viram a incorporação da elite persa ao novo Império como o primeiro sinal de corrupção moral de Alexandre. Deve se salientar o quão preconceituosos eram os gregos em relação a outros povos que, mesmo tendo grandes realizações culturais como os egípcios e os persas, eram vistos como inferiores. Ao que tudo indica, ainda que partilhando do conceito da superioridade grega, Alexandre não queria ser apenas um saqueador das riquezas do Oriente, mas ser o novo Rei dos Reis do mundo. E para isso precisava, não apenas escravizar os conquistados, mas incorporá-los a sua administração. Abaixo, estátua de Alexandre Magno no museu de Istambul, Turquia.

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Susa
Após cinco semanas na Babilônia, os macedônios marcharam novamente (23 de novembro). Com a chegada de reforços, estava tudo pronto para o ataque final sobre as quatro capitais do Império Aquemênida: Susa, Persépolis, Pasárgada e Ecbátana. O exército chegou a Susa, capital administrativa do Império, em dezembro. Durante a marcha, Alexandre designou vários funcionários. Até então, as unidades militares macedônicas correspondiam às províncias do reino da Macedônia, e eram comandadas por chefes locais (por exemplo, um aristocrata tessálio comandava a cavalaria da Tessália). Agora, os líderes eram selecionados por mérito. Quanto às satrápias, Alexandre designava o líder local, geralmente o antigo sátrapa, como administrador, mas as finanças e forças militares estavam sob responsabilidade dos greco-macedônios. Esta é uma primeira indicação de que Alexandre não queria perpetuar as divisões regionais.  Abaixo, ilustração do palácio de Susa.
O comandante da guarnição persa em Susa, Abulites, entregou a cidade e seus tesouros, sendo imediatamente reconduzido como sátrapa da região, que foi chamado Susiana pelos gregos e é mais conhecida na Antiguidade como Elam (ou Elão). Um tesouro de cerca de 50.000 talentos ficou à disposição de Alexandre. A maior parte desse tesouro era proveniente dos saques que Xerxes I havia feito durante sua invasão à Grécia. 

Nos Portões da Pérsia
Após organizar a província de Susiana, Alexandre e seus homens marcharam para Persépolis, capital nacional do Império Aquemênida. Fundada por Dario, o Grande, Persépolis abrigava o palácio real e o tesouro dos persas. Depois de cruzar o rio Pasitigris (atual Shushtar), Alexandre chegou às montanhas Zagros que separavam a Susiana da terra natal dos persas (Parsa). Abaixo, as montanhas Zagros à altura dos Portões da Pérsia.
Persépolis não seria tomada facilmente como Babilônia e Susa: os macedônios passariam a entrar em um país onde não poderiam fingir serem libertadores dos habitantes, já que eles encontrariam resistência das pessoas que estavam defendendo suas casas e famílias; Alexandre se defrontava agora com o coração do Império Aquemênida: a Pérsia. Para conquistá-la os greco-macedônios tiveram que atravessar uma estreita passagem nas montanhas conhecida como Portões da Pérsia. Aí encontraram forte resistência dos últimos efetivos do exército de Dario III liderados pelo sátrapa Ariobarzanes bem como de tribos montanhesas locais. Apesar dos duros embates, os macedônios conseguiram derrotar a resistência persa que foi massacrada. Ariobarzanes, porém, conseguiu escapar e rumou para Persépolis. Abaixo, esquema dos dois ataques de Alexandre à resistência persa.


Persépolis
Quando Ariobarzanes chegou em Persépolis foi negada sua entrada na cidade. O comandante da guarnição da cidade já tinha sabia do resultado da batalha e estava convencido de que Alexandre não poderia ser derrotado. O sátrapa foi provavelmente morto pelos macedônios. Alexandre entrou em Persépolis em um dos últimos dias de janeiro de 330. Muitos habitantes já haviam fugido e houve até alguns que se suicidaram. Ele designou um homem chamado Frasaortes como sucessor de Ariobarzanes. Em Persépolis Alexandre se apoderou do tesouro real (120.000 talentos) e permitiu a seus homens saquearem a cidade, o que não acontecera em Babilônia e em Susa. Depois do saque, Alexandre ordenou que se incendiasse o palácio de Xerxes I, o coração da realeza aquemênida. Os historiadores apontam que a ordem de Alexandre visava, além da vingança contra o que os persas fizeram na Grécia, destruir o símbolo da realeza de Dario III e, consequentemente, assinalar o fim do Império Aquemênida. Abaixo, ruínas do palácio de Xerxes em Persépolis e sua reconstituição ilustrativa.

Os macedônios e gregos tinham alcançado o objetivo de sua cruzada: os persas foram punidos pela destruição de Atenas em 480/479 a.C. Mas isso não foi suficiente para Alexandre. Ele agora queria o seu reconhecimento universal como "rei da Ásia". Alexandre já conquistara o título após a batalha de Isso, tinha tomado o harém real persa, tinha sublinhado que ele descendia de Perseu, antepassado legendário dos reis persas, tinha sido reconhecido como "o rei do mundo” na Babilônia, havia nomeado nobres persas em cargos importantes e agora queria o reconhecimento de todos os persas, o que ele realmente precisava se quisesse manter sob seu jugo os territórios já conquistados. Abaixo, o incêndio de Persépolis.

Pasárgada
Quase ao mesmo tempo da tomada de Persépolis, foi capturada Pasárgada, a primeira capital aquemênida e centro religioso da Pérsia. Na cidade, Alexandre visitou o túmulo de Ciro, o Grande, fundador do Império Persa. A intenção era política: os reis aquemênidas eram coroados próximo ao túmulo de Ciro. Assim Alexandre queria sinalizar que era o novo rei dos persas. Mas, não podeira ser coroado enquanto Dario III continuasse vivo. Abaixo, imagem atual do túmulo de Ciro, o Grande, e sua reconstrução ilustrativa na Antiguidade.

Desde a época da tomada de Tiro (julho de 332), alguns Estados da Grécia estavam se rebelando contra o domínio macedônico. Um levante em Creta ameaçava tornar-se uma insurreição generalizada e Esparta, que nunca aderira à Liga de Corinto, incentivava as rebeliões. A Trácia ameçava tornar-se independente. Alexandre enviara anteriormente uma esquadra para apoiar seu regente, Antípatro. Por fim, agora em 330, Alexandre soube que Antípatro fora bem sucedido em esmagar as rebeliões e manter a Grécia unificada. A retaguarda e principal base do governo do Conquistador estavam asseguradas. Mas, Alexandre ainda tinha grandes preocupações no Oriente. Ele permaneceu em Persépolis por mais de quatro meses (provavelmente para celebrar o ano novo persa) e buscou atrair a aristocracia persa para o reconhecimento dele como o novo Grande Rei. Mas, isso só foi feito praticamente pelos nobres persas que já tinham sido nomeados por ele para altos cargos. Abaixo, nobres persas apoiadores de Alexandre no filme de Oliver Stone.
Nas terras iranianas ainda havia muita resistência à invasão greco-macedônica principalmente por que Dario controlava os territórios orientais e tinha apoio de seus sátrapas. Enquanto o Grande Rei aquemênida ainda estivesse vivo, Alexandre seria meramente um poderoso usurpador. Enquanto a real figura de Dario III Codomano pudesse inspirar os iranianos a combater, tudo o que Alexandre já conquistara poderia a vir se perder posteriormente. O Macedônio teria que recomeçar sua caçada a Dario. 

REFERÊNCIAS:
http://osaquemenidas.blogspot.com/2010/03/dario-iii-336-330-ac-parte-ii.html
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander09.html
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander10.html
http://www.livius.org/pen-pg/persian_gate/persian_gate.html
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tempos, vol. 4: Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988
http://www.livius.org/a/iran/susa/susa_apadana.jpg


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