segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE XIII

Reconstituição do capacete de guerra
usado por Alexandre Magno

O Motim de Ópis
O exército teve que seguir em frente. Navios levaram os soldados de Susa para o Golfo Pérsico e o outro grupo seguiu ao longo do rio Tigre. Na foz deste rio, Alexandre fundou sua última cidade: Karka (termo aramaico para "fortaleza") o sítio anterior reconstruído e povoado com veteranos. Alexandre empreendeu várias obras possivelmente visando aumentar o tráfego e comércio no Golfo Pérsico e queria desenvolver o setor agrário babilônico. Ele também enviou expedições de reconhecimento que tinham o objetivo de preparar o caminho para uma expedição naval à Maka e à Arábia (Iêmen). Nem todos estavam satisfeitos com os planos de Alexandre e estavam no limite de suportarem a orientalização de seu rei e a orientalização forçada de seu exército. Os macedônios não invadiram a Ásia pra governar com os “bárbaros”, mas para governarem sobre eles. Além disso, sentiam-se preteridos pelo rei que parecia apreciar mais os orientais. Abaixo, o rio Tigre (Iraque).
 Quando na cidade de Ópis Alexandre anunciou que estava liberando os veteranos macedônios mais velhos, o exército se amotinou. Afirmaram que se alguém fosse dispensado, todos eles também iriam. Contrariado, Alexandre argumentou que compartilhara com eles não apenas as riquezas e despojos, mas também as agruras das guerras. Disse que se quisessem poderiam ir, mas que o estavam abandonando com estrangeiros e que teria que formar um novo exército só de asiáticos. Por fim, os soldados foram convencidos e retiraram as ameaças. Cerca de 10.000 mil veteranos foram dispensados com ricas gratificações. O general Crátero conduziria os veteranos à Macedônia e chegando lá assumiria a regência em lugar de Antípatro. Por essa época (324 a.C.), Alexandre decretou para a Grécia o retorno de todos os exilados. Tal medida deixou a Hélade alvoroçada.

Heféstion Parte Para Sempre
No outono, Alexandre foi para Ecbátana (atual Hamadan), a capital da Média e um elo vital na estrada entre as satrápias ocidentais e orientais. O sátrapa da Média, Atropates, recebeu seu suserano macedônio. Após uma dos habituais banquetes de embebedamento, Heféstion caiu doente. Sete dias depois o melhor amigo de Alexandre estava morto. Como era de se esperar, Alexandre ficou arrasado. Ele ordenou a execução de médico de Heféstion, jejuou por três dias, cortou o cabelo e ordenou que os rabos dos cavalos militares também fossem cortados. Alexandre mandou realizar um esplêndido funeral. A morte de Heféstion privou-o de uma amizade que lhe era salutar e o Conquistador tornou-se mais soturno e arredio. Abaixo, faces de Alexandre e Heféstion.
Depois de uma breve campanha contra os cassitas (ou cossenos), uma tribo montanhesa na faixa dos montes Zagros, esses foram forçados a abandonar suas vidas nômades e se estabelecer em cidades. Alexandre dirigiu-se para a Babilônia, capital de seu império. Era agora o início do ano 323 e o mundo grego recebeu ordens para adorar o conquistador macedônio como um deus. O pedido não era de todo inédito dentro do contexto da religião grega e foi levado a sério pela maioria das cidades (não obstante a críticas e ridicularizações), mas distanciou os gregos ainda mais do homem que já tinha causado grandes tensões em suas cidades ordenando o retorno dos exilados.

Babilônia
Ao chegar na Babilônia, Alexandre foi advertido pelo astrólogo Belefantes que havia maus presságios. Não obstante, as embaixadas vieram prestar homenagens ao rei e discutir política. Muitas cidades gregas reclamaram do decreto sobre os exilados e havia também representantes de várias tribos da Itália e da cidade afrofenícia de Cartago. Os cartagineses tinham dado ajuda a Tiro, quando Alexandre sitiou a cidade e Alexandre havia anunciado que um dia iria puni-los. As tribos italianas tinham matado um cunhado de Alexandre e também seu tio, Alexandre I do Épiro, e sabiam que eles iriam receber um tratamento severo. Entre as embaixadas estavam também representantes de Roma, que era naquele momento um estado forte na região central da Itália e tinha sido aliada de Alexandre I do Épiro, mas não era ainda uma potência mundial. Além da política, o Macedônio cuidou de assuntos religiosos. Durante sua primeira estada na Babilônia em 331, Alexandre ordenara obras de restauração do complexo religioso de Esagila, e nas proximidades do templo-torre de Etemenanki. Ele viu que não foi feito muito progresso, e ordenou que os operários começassem de novo. Abaixo, ilustração da cidade de Babilônia e seu principal templo: a torre de Etemenanki.
Alexandre se preparava para uma nova guerra, dessa vez contra os árabes. Uma grande frota tinha sido preparada para o transporte da força expedicionária. A viagem de Nearco mostrara que era possível enviar grandes exércitos a países distantes para operações de reconhecimento. Parece que a localidade de Maka foi o primeiro alvo; era o país do legendário incenso. A expedição foi bem cronometrada levando-se em consideração os fatores climáticos. A conquista da Arábia seria apenas o começo. Do Egito, e com uma nova frota ainda maior (construída na Cilícia), Alexandre queria atacar Cartago, a Sicília e a Itália. A extensão da ambição de Alexandre é demonstrada pelo fato de planejar a construção de uma estrada militar até os pilares de Héracles (altura de Gibraltar na Espanha). Apesar de todo esse planejamento e preparativo, os astrólogos babilônios temiam maus presságios para Alexandre.

A Morte de Um "Deus"
Animado com os preparativos de sua nova campanha e com a “deificação” de Heféstion proclamada pelo santuário de Ammon no Egito, o Conquistador entregava-se cada vez mais a embriaguez. Alexandre entretinha-se com Nearco seu almirante e, em seguida, em vez de ir para a cama, passou a noite e o dia seguinte bebendo com Médio de Larissa. Depois disso, ele passou a ter febre, que então aumentou cada vez mais. Sete dias depois, ele era incapaz de falar. Os soldados comuns ficaram muito preocupados com sua saúde e pensavam que ele já estava morto. Eles exigiram vê-lo, e os generais de Alexandre aquiesceram. Abaixo, os soldados visitam um moribundo Alexandre Magno.
 Os soldados lentamente apresentaram-se a ele, enquanto Alexandre acenava com a mão direita em saudação, ainda incapaz de falar. Em um momento, ele estava tão desesperado que deu o seu anel para Pérdicas, seu vizir, dizendo que ele deixava o reino nas mãos do "mais forte". Alguns entenderam a expressão (krateroi) como se referindo a Crátero, que no entanto não estava presente. Alexandre morreu na Babilônia na tarde de 11 de junho 323 a.C. Abaixo, tablete babilônico que contém o diário astronômico que descreve a morte de Alexandre Magno.
Arquivo:. Astronômico babilônico gravação diário da morte de Alexandre, o Grande (Museu Britânico) jpg
 Há suspeitas de fora envenenado, mas as fontes antigas corroboram que seu falecimento se deu por doença, talvez febre tifóide.  O corpo de Alexandre foi colocado num sarcófago antropomorfo de ouro que por sua vez foi posto dentro de um ataúde de ouro e coberto com uma capa púrpura. A esse aparato mortuário juntou-se sua armadura e tudo foi posto numa carruagem dourada que tinha um teto abobadado sustentado por colunatas jônicas. Abaixo, cortejo com o corpo de Alexandre Magno.
Posteriormente, o corpo de Alexandre foi roubado pelo general Ptolomeu enquanto se transladava-o para a Macedônia e levado para Alexandria no Egito onde permaneceu até a Antiguidade Tardia. O destino do corpo do Conquistador desapareceu com o Mundo Antigo. Não se acredita que o chamado Sarcófago de Alexandre (século IV a.C.) que contém relevos de cenas da vida do Conquistador seja de fato dele, mas de certo Abdalônimo de Tiro. Abaixo, o Sarcófago de Alexandre.
Quando Alexandre III herdara aos vinte anos o trono da Macedônia eliminou seus virtuais rivais. Treze anos depois, ele não deixava apenas a Macedônia, mais o maior império que o mundo greco-oriental já vira. Deixava a seu sucessor as pirâmides do Egito, os palácios da Pérsia e os rios da Índia e toda civilização greco-oriental (helenística) emergente. Quem herdaria tudo isso? Seu irmão Arrideu, incapacitado mentalmente? Seu filho com Roxane, Alexandre IV, que ainda não nascera? Seu filho bastardo com Barsina, Héracles, cuja paternidade era questionada? Um de seus generais? Reza a antiga lenda macedônica que enquanto os reis argéadas fossem sepultados em Egas, a dinastia permaneceria no poder. Alexandre morreu na Babilônia e com ele sua dinastia, já que seu irmão (Filipe III Arrideu) e seu filho (Alexandre IV) não passaram de meros fantoches nas mãos dos generais de Alexandre e logo morreram.
Archivo:Alexander-Empire 323bc.jpg
O império de Alexandre quando de sua morte em 323 a.C.
Uma imagem épica de Alexandre Magno como justo vencedor do terrível Império Persa e que impulsionou a civilização dos bárbaros não pode ser sustentada. Como homem de seu tempo, foi ambicioso, cruel e sanguinário e empreendeu guerras desnecessárias por se considerar um deus entre os homens. Mas para o bem ou para o mal, Alexandre III da Macedônia, Senhor da Ásia, iniciou um processo histórico irreversível e seus treze anos de campanhas mudaram a face do Ocidente e do Oriente. Houve o florescimento de grandes cidades, o estabelecimento de novas rotas de comércio, um intenso intercâmbio cultural.  O grego koiné ('comum') tornou-se a língua do comércio e da diplomacia (é a língua em que foi escrito o Novo Testamento). A filosofia e literatura gregas espalharam-se pelo Oriente e dele retiraram também preciosos aprendizados. Abaixo, ilustração clássica da figura épica de Alexandre Magno.


REFERÊNCIAS:

http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander15.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_the_Great
http://www.alexanderstomb.com/main/index.html
http://es.wikipedia.org/wiki/Alejandro_Magno#Muerte
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tempos, vol. 4: Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988.
http://www.ancientsculpturegallery.com/h001.html

2 comentários:

  1. Adorei a matéria, mas qual é/são suas fontes na descrição do sarcófago? Estou lendo algumas biografias e não estou encontrando essa descrição!

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    1. Caro Bel Potter, segue abaixo alguns links que examinam a questão do sarcófago com mias minúcia. Abraços.

      http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_Sarcophagus
      http://online.wsj.com/article/SB10001424052970204621904574246094055079788.html
      http://www.istanbularkeoloji.gov.tr/web/27-106-1-1/muze_-_en

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