domingo, 3 de outubro de 2010

ANTÍGONO I MONOFTALMO (Diádoco, 323-301 a.C.) - PARTE I

Antígono I Monoftalmo (em grego: Ἀντίγονος ὁ Μονόφθαλμος, ‘Antígonos Monophtalmós’, isto é, “Antígono, o Caolha", chamado assim pois perdera um olho em batalha), filho de Filipe da Elimeia, viveu entre 382 - 301 a.C. e foi um nobre macedônio, general e sátrapa (governador) sob Alexandre, o Grande. Inicialmente serviu ao rei Filipe II da Macedônia e foi uma importante figura na Guerra dos Diádocos após a morte de Alexandre, declarando-se rei dos territórios que governava na Ásia em 306 a.C. e pretendia restaurar a unidade do império de Alexandre em seu benefício, mas foi contestado pelos demais diádocos. Foi casado com Estratonice filha de Correu e com ela teve dois filhos : Filipe (c. 350 - 306 a.C.) e Demétrio Poliorcetes (337 - 283 a.C.). Embora não tenha sido um rei da Macedônia dele é originária a dinastia Antigônida que veio a governar o país.
Aiani - Aiani, Kozani
Região da Elimeia (Grécia atual) onde nasceu Antígono
O Soldado
Inicialmente Antígono fazia parte dos companheiros de armas do rei Filipe II (359-336 a.C.). Filipe II foi assassinado em 336 e seu filho e sucessor Alexandre III, após pacificar a Grécia, invadiu o Império Persa através da Ásia Menor em 334 a.C. Na expedição, Antígono era comandante dos hoplitas (soldado de infantaria pesada) gregos.
Arquivo: Grécia Antiga hoplita com sua hoplon e dory.jpg
Ilustração de um hoplita da época de Antígono

O Sátrapa
Antígono foi nomeado por Alexandre Magno governador da Grande Frígia em 333 a.C. Nessa função, ele foi o grande responsável pela defesa das linhas de suprimento e de comunicação de Alexandre durante a campanha contra os persas. Após a vitória de Alexandre em Isso, o comandante persa mercenário Mêmnon de Rodes mandou um contra-ataque à Ásia Menor, na tentativa de cortar as linhas de reforço de Alexandre , mas Antígono derrotou as forças persas em três batalhas distintas e conquistou a Licaônia. Em 331 recebe as satrápias da Lícia e da Panfília e combate Ariarates, sátrapa persa da Capadócia, que luta para manter seu país independente dos macedônios. Por fim um governador macedônio (conhecido como Cabictas, dentre outras versões de nomes) é estabelecido por Alexandre na região.
O ator Ian Beattie no papel de Antígono no
 filme Alexandre de Oliver Stone (2004)
Quando Alexandre morreu na Babilônia em 11 de junho de 323 a.C. seu irmão bastardo, Filipe III Arrideu, e seu filho que ainda não nascera, Alexandre IV, foram proclamados reis e o quiliarca e general Pérdicas foi confirmado como regente do Império. Na divisão das províncias (a chamada Partição de Babilônia), Antígono foi confirmado por Pérdicas como governador dos territórios que já administrava.
O império de  Alexandre Magno e reinos sucessores.

A Conspiração de Leonato
Eumenes fora secretário privado do Rei Filipe II e de Alexandre, o Grande, de quem era muito próximo e sob o qual gozou de grande autoridade e prestígio chegando a casar-se com a princesa persa Artonis, irmã de Estatira, esposa persa de Alexandre. Eumenes exerceu importante papel nas lutas após a morte de Alexandre e foi o principal adversário de Antígono. Na Partição de Babilônia, a Capadócia, a Paflagônia e a costa ao sul do Mar Negro foi designada a Eumenes, porém essas regiões não estavam sob controle dos macedônios e eram lideradas pelo sátrapa persa Ariarates. O regente Pérdicas designou Eumenes para submeter definitivamente a região e para isso ordenou que Antígono e Leonato, governador da Frígia Helespontina, ajudassem a Eumenes. Leonato  foi ao encontro de Eumenes, mas fora convencido por Hecateu de Cárdia, conterrâneo e adversário político de Eumenes, a prestar auxílio ao governador macedônio Antípatro contra a revolta grega (Guerra Lamiaca, 323-322). Leonato tentou convencer a Eumenes ir com ele, mas esse tinha receio de que Antípatro o entregasse a Hecateu. Então Leonato  revelou-lhe sua real intenção ao ir a Europa: casar-se com a irmã de Alexandre Magno, Cleópatra, depor Antípatro e reivindicar o trono da Macedônia. Eumenes recusou aderir ao plano e secretamente deixou o acampamento de Leonato que por fim partiu para a Grécia onde, após ajudar Antípatro, morreu em combate contra os atenienses.
Roxane com Alexandre IV nos braços e Eumenes de Cárdia por Alessandro Vorotari (1588 -1649)

Primeira Guerra dos Diádocos (322 – 320 a.C.)
Antígono ignorou as ordens de Pérdicas de ajudar a Eumenes. Não se sabe o real motivo. Segundo Plutarco,  Antígono já fomentava a ambição de ser um governante independente. Não obstante, Antígono ficara sozinho para ajudar Eumenes a submeter a Capadócia, algo que ele não conseguira nos dias de Alexandre e que agora seria uma tarefa que não seria possível concluir sem ajuda das forças que Leonato levara para a Grécia. Pérdicas viu isso como um insulto à sua autoridade e subiu com o próprio exército real conquistando a região. Daí ele foi para a Frígia a fim de disciplinar Antígono que fugiu com seu filho Demétrio à Grécia, onde obteve o favor de Antípatro, regente da Macedônia (verão de 322 a.C.) e do general Crátero, guardião dos Reis. Pérdicas repudiara a filha de Antípatro, Niceia, e se casara com a irmã de Alexandre Magno, Cleópatra. Certamente tal atitude foi vista como um golpe de Pérdicas que se casando com a irmã do grande rei poderia reivindicar o trono. Antípatro usando a afronta que lhe foi feita encabeçou uma coalizão com Antígono, Crátero, Lisímaco da Trácia e Ptolomeu do Egito contra Pérdicas e seu aliado Eumenes: eclode a Primeira Guerra dos Diádocos (322 – 320 a.C.). Em 321 a.C., Pérdicas é derrotado e assassinado por seus oficiais no Egito e uma nova repartição do Império ocorreu na cidade síria de Triparadiso: Antípatro foi eleito o novo regente e ficou com a tutela dos dois reis. Antígono é nomeado o comandante supremo das forças macedônicas na Ásia e tem a tarefa de fazer guerra contra Eumenes, que derrotara Crátero na Ásia.
Exército macedônio
O Cerco de Nora
 Eumenes foi derrotado por Antígono em Orcynii na Capadócia por causa de uma traição, mas conseguiu se retirar (antes punira os traidores) em direção à fortaleza de Nora (319 a.C.). Antes de chegar em Nora, Eumenes teve a oportunidade de capturar a bagagem do exército de Antígono, que embora possuísse consideráveis recursos, atrasaria muito a sua marcha. Como os homens de Eumenes estavam ávidos pelo espólio, o governador avisou secretamente ao responsável pela bagagem, Menelau, de um possível ataque que foi assim frustrado. Os macedônios do exército de Antígono louvaram a Eumenes como um benfeitor, mas ao ouvir o relato de Menelau, Antígono, militar experiente, disse: "Não, meu bom homem, esse sujeito não o deixou escapar em consideração a você, mas porque ele teve medo de colocar grilhões sobre si mesmo em sua fuga". O estratagema de Eumenes fizera Antígono admirá-lo como militar e temê-lo como rival. Em Nora, Antígono iniciou negociações para a rendição de Eumenes que se recusou a conversar com Antígono sem que esse lhe entregasse um refém. Antígono exigia que Eumenes lhe tratasse como um superior, ao que Eumenes respondeu: "Eu não considero nenhum homem como meu superior conquanto que eu seja senhor de minha espada". Por fim, Antígono mandou-lhe seu sobrinho Ptolomeu como refém e os dois generais se encontraram. Embora tivessem mostrado afeto uma para com o outro (afinal ambos integraram a expedição de Alexandre), o impasse não foi resolvido. Antígono construiu um muro em torno de Nora deixando tropas para manter o cerco e depois retirou-se.
Guerreiros gregos - Imagem 1
Guerreiro grego

Segunda Guerra dos Diádocos (318-315 a.C.)
Quando Antípatro faleceu em 319 a.C., ele passou a regência para o general macedônio Poliperconte, e a seu filho Cassandro foi dado cargo de quiliarca. Ambicioso, Cassandro, recusou o “segundo lugar” e começou a fazer coalizões para derrubar Poliperconte. Inicialmente Antígono e outros diádocos se recusaram a reconhecer Poliperconte, pois isso prejudicaria suas próprias ambições. Ele entrou em negociações com Eumenes, que queria que o acordo entre eles fosse feito em nome de Olímpia, mãe de Alexandre Magno, e dos reis Filipe III e Alexandre IV. Antígono não poderia se prender a um acordo deste já que ambicionava ser o senhor da maior parte possível (se não do todo) do império de Alexandre. Por fim, Eumenes se aliou a Poliperconte, que também, em nome do rei Filipe III Arrideu, lhe deu autoridade sobre os exércitos da Ásia. Isso dificultou muito os projetos de Antígono já que o exército muito estimava ao irmão de Alexandre Magno e tinha uma grande admiração por Eumenes. Assim, Antígono, que detinha o maior exército de todos, aliou-se a Cassandro e Ptolomeu contra Poliperconte e Eumenes. Era uma aliança muito tênue já que os aliados na realidade não lutavam pela unidade do império em nome reis macedônios, mas pela independência de seus territórios ou pela a unidade em benefício próprio. Inicia-se assim a Segunda Guerra dos Diádocos (318-315 a.C.). Antígono levantou o cerco de Nora e partiu para lutar contra Poliperconte e conquistou a satrápia da Lídia. Aproveitando a retirada de Antígono,  Eumenes fugiu de Nora e de posse de grandes recursos financeiros levantou um exército e construiu uma frota na Cilícia e na Fenícia, de onde expulsara as forças de Ptolomeu. A marinha de Antígono derrotou a de Poliperconte no Bósforo no outono de 318, já que as embarcações construídas por Eumenes não vieram em auxílio do Regente. Antígono tinha agora o controle do Mar Egeu, mas considerava derrotar Eumenes mais necessário, haja vista que esse podia trazer-lhe grandes prejuízos. Antígono dirigi-se para a Fenícia e Eumenes foge para o Oriente para as satrápias além do rio Tigre.
Os greco-macedônios em guerra

A Batalha de Paraitacene 
No Oriente, Eumenes, que por sua origem grega tinha pouca simpatia entre os antigos macedônios,  introduziu o culto a Alexandre levantando um altar diante do trono e com os ornamentos do falecido rei e fazendo sacrifícios diários. Ao chegar na satrápia da Babilônia, Eumenes não foi reconhecido como autoridade pelo governador Seleuco que o combateu e ele teve que fugir para a cidade de Susa no Elão (primavera de 317 a.C.). Aí Eumenes formou uma coalizão com os sátrapas das províncias orientais apresentando-se como um campeão da causa da unidade do Império sob os reis macedônios Filipe III e Alexandre IV contra a coalizão de Cassandro e dos outros Diádocos. Antígono veio no encalço de seu adversário, mas não conseguiu derrotá-lo e refugiou-se na Média onde pretendia dar descanso aos seus soldados. Eumenes o perseguiu e os dois exércitos se enfrentaram ao nordeste da Média na região de Paraitacene em 317 a.C. Os dois exércitos sofreram perdas razoáveis e não houve vitória, embora Antígono a reivindicasse apesar de ter tido mais prejuízos do que Eumenes.
Os Argiráspides ('Escudos de Prata')

A Batalha de Gabiene
Os dois Diádocos se enfrentaram novamente na região de Gabiene, perto da atual Isfahan no Irã, em 316 a.C. Embora Eumenes contasse com os valiosos Argiráspides (“Escudos de Prata”, elite da falange macedônica composta por veteranos), o exército de Antígono levou a melhor. Entretanto, a batalha não foi de todo decisiva e Eumenes conseguiu escapar com um considerável número de homens. Eumenes estava disposto a seguir sua luta contra Antígono, mas os sátrapas orientais estavam receosos que a guerra chegasse nas suas províncias. Além disso Antígono conseguiu capturar a bagagem dos Escudos de Prata como espólio. Esse espólio continha, além da riqueza acumulada por cerca de 40 anos de combate dos Argiráspides, suas mulheres e filhos.
Battle of Gabiene
A Batalha de Gabiene
 Secretamente os Argiráspides negociaram com Antígono a troca de seus pertences e familiares pela vida de Eumenes. De posse de Eumenes, Antígono não o executou de imediato. Afinal, a causa pela qual Eumenes tinha lutado, a casa real da Macedônia, perdera sentido. Filipe III e sua esposa foram assassinados por Olímpia. Essa por sua vez foi executada por ordem de Cassandro que mantinha como reféns a rainha-mãe Roxane e o rei-menino Alexandre IV. Eumenes poderia ser um valioso aliado para Antígono. Mas os oficiais de seu exército insistiram sobre a morte de Eumenes. Inicialmente Antígono cortou-lhe a alimentação e depois mandou matá-lo. O corpo de Eumenes foi cremado e suas cinzas reunidas numa urna de prata e entregues por Antígono aos amigos de Eumenes para que as entregassem a sua esposa e filhos. Os Argiráspidas foram colocados a disposição de Sibírcio, governador da Aracósia, e por fim foram destruídos nos inúmeros conflitos da região. Este foi o fim da Segunda Guerra dos Diádocos. Agora Antígono era o soberano indiscutível da Ásia.

REFERÊNCIAS:
http://en.wikipedia.org/wiki/Antigonus_I_Monophthalmus
http://www.satrapa1.com/articulos/antiguedad/diacodos1/diacodos_Iparte.htm
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Eumenes*.html
http://es.wikipedia.org/wiki/Eumenes_de_Cardia
http://forum.alexander-the-great.co.uk/viewtopic.php?p=16433&sid=fbd96db433e43c32f33126bec1ee504f

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