sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE X

A Caminho da Índia
Ao final de 327, Alexandre tinha garantido a fronteira nordeste do seu reino e estava pronto para uma nova campanha: a Índia, um país que os macedônios conheciam apenas pelas obras de Heródoto de Halicarnasso e Ctésias de Cnido, apesar de seus relatos serem cheios de fatos incríveis. Acreditava-se que depois da Índia viria o mar Oceano, que seria o fim do mundo. Se Alexandre conquistasse a Índia seria não apenas o Senhor da Ásia, mas o Senhor do Mundo. Mas a Índia que os greco-macedônios vão encontrar não é a totalidade do subcontinente indiano, mas seu lado mais ocidental o Punjab e o Vale do rio Indo que era repleto de vários principados. Era uma guerra desnecessária, e sua única causa deve ter sido a ambição, curiosidade e o desejo de Alexandre por mais uma guerra. Com Sogdiana e Bactriana submetidas, Alexandre convidou todos os chefes de Gandara, antiga satrápia indiana do Império Persa (norte do que hoje é o Paquistão), para vir a ele e submeterem-se à sua autoridade. Taxiles (também conhecido como Omphis, mas o nome original em sâncrito é Ambhi), rajá de Taxila, cujo reino se estendia do rio Indo ao rio Hidaspes (Jhelum), veio prestar as homenagens. Mas os chefes dos os aspásios (ashvayanas) e os assacenos (ashvakayanas), clãs montanheses da tribo dos kambojas, se recusaram. Abaixo, mapa da região de Gandara.

Massacre em Gandara
Enquanto Pérdicas e Heféstion rumaram com um contingente diretamente para Taxila para construírem uma ponte sobre o rio Indo, Alexandre assumiu pessoalmente o comando das várias facções de seu exército (escudeiros, arqueiros, os escudeiros, cavalaria, etc.) e o grupo dos agriânios, tribo trácia que era experiente em combates em terrenos montanhosos e rumou contra os aspásios no vale de Kunar, contra os gurenos do vale do rio Gureu (atual Panjkora) e contra os assacenos dos vales do Swat e Buner. Esses clãs indianos eram constituídos de valentes guerreiros e deram muito trabalho a Alexandre. Abaixo, ilustração de guerreiro agriânio.
Na luta contra os aspásios, Alexandre foi ferido no ombro por um dardo, mas os aspásios perderam a luta e 40.000 deles foram escravizados. Os assacenos enfrentaram Alexandre com um exército de 30.000 cavaleiros, 38.000 homens de infantaria e 30 elefantes. Eles lutaram bravamente e ofereceram uma obstinada resistência ao invasor em muitas de suas fortalezas, como as das cidades de Ora, Bazira e Massaga. Abaixo, o rio Swat na região onde habitaram os antigos assacenos.
O forte de Massaga só foi conquistado após vários dias de combates sangrentos nos quais o próprio Alexandre foi ferido gravemente no tornozelo. Quando o chefe de Massaga caiu em batalha, o comando supremo do exército voltou para sua velha mãe, Cléofis, que também estava determinada a defender a sua pátria até as últimas conseqüências. O exemplo de Cléofis assumindo o comando supremo do exército de Massaga também trouxe todas as mulheres da localidade para a luta. Alexandre só conquistou Massaga recorrendo ao estratagema político e as ações de traição. Quando os mercenários de Massaga se renderam com o convite de Alexandre de fazer parte de seu exército, Alexandre submeteu e matou a todos. Segundo Quinto Cúrcio, Alexandre matou toda a população de Massaga como também reduziu os seus edifícios a escombros. Situação similar seguiu-se em Ora, outro reduto dos assacenos. As ações de Alexandre nessa região foram cruéis e quase um genocídio. Abaixo, ruínas da antiga forteleza de Ora.
Após o extermínio geral e incêndios cometidos por Alexandre em Massaga e Ora, muitos assacenos fugiram para a fortaleza de Avarana na montanha Pir-Sar chamada pelos gregos de Aornos (“sem pássaros”, pois de tão alta o voo das aves não podia atingi-la; é a moderna cidade de Swat, Paquistão). O cerco aconteceu no inverno de 327-326 aC. Com o apoio de tribos locais e após quatro dias de sangrento embate, Aornos foi conquistada. O historiador Arriano diz que glória de Alexandre nessa conquista foi maior do que a de Hércules já que segundo a mitologia grega, Hércules não conseguiu conquistar Aornos. O assédio de Aornos foi último cerco de Alexandre considerado o clímax da carreira do Conquistador que é tido como o maior assediador na história, segundo o historiador Robin Lane Fox. Abaixo, o assédio a fortaleza de Aornos.
 Alexandre levantou altares a deusa Atena Niké (Atena da Vitória). Do ponto de vista estratégico, segundo o historiador Jona Lendering, a tomada de Aornos não tinha valor, mas segundo a tradição hindu o deus Krishna não teria conseguido tomar a fortaleza. Assim a tomada de Aornos tinha uma mensagem aos indianos: Alexandre fizera algo que um dos seus deuses não conseguira.O rajá Sisicoto (Sashigupta), que tinha ajudado Alexandre nesta campanha, foi feito o governador de Aornos. Abaixo, o rio Indo e a montanha de Aornos.
Após a vitória sobre Aornos, os dois exércitos macedônios se encontraram perto da moderna Hund, onde Pérdicas e Heféstion havia construído uma ponte sobre o rio Indo. Alexandre designou o macedônio Nicanor como sátrapa de Gandara. O exército macedônio cruzou o rio Indo e chegou a Taxila (Takshaçila), a capital de um dos pequenos estados do Punjab, onde foram recebidos pelo rajá Taxiles (Ambhi) e juntos se prepararam para combater a Poro, rei dos pauravas, que era inimigo de Taxiles. Em Taxila, os macedônios travaram conhecimento com a religião e cultura indiana. Os brâmanes (sacerdotes do hinduísmo) estranharam a constante reivindicação de Alexandre de ser filho de um deus já que segundo eles todos os seres humanos seriam filhos dos deuses. Abaixo, ilustração de Alexandre entre os indianos.
 O líder brâmane, Dandamis, tentou mostrar a Alexandre que suas conquistas eram em vão, pois em breve ele morreria e então ele seria o senhor do tanto de terra suficiente para enterrá-lo. Embora esses comentários não fossem muito animadores, Alexandre insistiu que um deles o acompanhasse, e Calano (Kalyana), tornou-se conselheiro de Alexandre e deve ter um papel importante nas suas relações com os indianos. Nesse período descobriram também sobre Buda, mas não compreenderam seus ensinamentos e entendiam ter sido ele o segundo rei da Índia. Abaixo, ruínas de uma cidade na região de Taxila.
Durante a permanência de Alexandre em Taxila, vieram embaixadores do rei dos abissares, uma tribo montanhesa da região de Caxemira. Eles prestaram homenagem e submissão a Alexandre, que por sua vez não entrou no seu país. Já Poro (Puru), rajá dos parauvas, além de ser inimigo do aliado de Alexandre recusou-se a prestar qualquer homenagem ao Macedônio. Poro se posicionou na margem sul do rio Hidaspes e estava preparado para repelir qualquer travessia do rio. O rio Hidaspes, rápido e profundo, era de difícil travessia para um exército, principalmente nesse período da estação das chuvas. Alexandre sabia que uma passagem direta seria um fracasso, mas encontrou uma passagem adequada a cerca de 27 km do seu acampamento. Abaixo, esquema geral do confronto entre Alexandre e Poro.
Archivo:Battle hydaspes crossing.gif
O Macedônio deixou o general Crátero atrás com a maioria do exército, enquanto ele atravessou o rio no ponto menos vigiado pelo inimigo com uma parte considerável do seu exército. Poro enviou uma força de cavalaria e carros pequenos sob comando seu filho para deter a travessia, mas o grupo foi derrotado e o filho de Poro foi morto. Poro agora viu que o grupo macedônio que cruzou o rio era maior do que pensava e decidiu enfrentá-lo com a maior parte de seu exército. Os indianos foram preparados com a cavalaria em ambos os flancos, com elefantes de guerra na frente e atrás deles a infantaria. Estes elefantes de guerra apresentaram uma situação especialmente difícil para Alexandre, pois assustavam os cavalos macedônios.Abaixo, ilustração da Batalha do Hidaspes.
A infantaria macedônica levou vantagem avançando e provocando estouros dos elefantes sobre as tropas inimigas, enquanto a cavalaria, atacando por trás da linha indiana, derrotava a de Poro. As tropas derrotadas e os elefantes colidiam com o restante da linha de Poro, que por fim rompeu e debandou. Crátero, nesse meio tempo, cruzou o rio e se juntou à perseguição, durante a qual as perdas indianas foram estimadas em dois terços de sua força original. Abaixo, moeda comemorativa da vitória de Alexandre na Índia emitida por Ptolomeu, general macedônico e futuro faraó do Egito.
File:PtolemyCoinWithAlexanderWearingElephantScalp.jpg
Poro era um dos muitos indianos que impressionaram Alexandre. Ferido no ombro, mas ainda em pé, o rajá dos parauvas tinha mais de 2 m de altura. Ele foi questionado por Alexandre como desejava ser tratado. "Trate-me, ó Alexandre, como um rei", Poro respondeu. A bravura e habilidades de guerra de Poro impressionaram tanto Alexandre que ele poupou a vida de Poro, embora ele tivesse sido derrotado, e deixou-o como regente da região do Hidaspes em nome de Alexandre. Nomeou-o sátrapa de seu próprio reino e a ele acresceu terras que antes não possuía. Abaixo, ilustração da rendição de Poro diante de Alexandre Magno.
Essa aliança de Alexandre com Poro certamente foi desapontadora para Taxiles, pois esse chamara o Macedônio para combater seu inimigo e agora após uma ferrenha batalha os dois se tornam aliados e assim Taxiles e Poro foram obrigados a se reconciliarem. Em seguida, o Macedônio fundou a cidade de Alexandria Nikaia (Vitória), localizada no campo de batalha para comemorar o seu triunfo. Ele também fundou a cidade de Alexandria Bucéfala na margem oposta do rio. Alexandre fez isto em memória de seu muito estimado cavalo, Bucéfalo, que morreu durante a batalha. Abaixo, mapa da campanha de Alexandre na Índia e adjacências.
File:AlexanderIndiaMap.jpg 
Insatisfeito por seu tio-avô ter se aliançado com os macedônios, o rajá Poro de Gandaritida reuniu um exército. Ao leste do reino de Poro, perto do rio Ganges, havia o poderoso Império Nanda de Magadha e o Império Gangaridai de Bengala. Alexandre preparou-se para para avançar em direção a esses reinos.

REFERÊNCIAS:
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander13.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander's_Indian_campaign
http://www.livius.org/u/udegram/ora.html
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tewmpos, vol. 4: Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988.

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