quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE XI

Moeda Comemorativa da Vitória de Alexandre na Índia
Sangala
O exército macedônio atingiu os rios Acesines e Hidraotes em junho de 326. Heféstion e Demétrio foram encarregados de reconhecer o território entre esses dois rios e de submeter as tribos nele existentes. Após cruzar o Hidrotes os macedônios junto com o efetivo enviado por Poro de Hidaspes, aliado de Alexandre, travam luta contra os cateanos da cidade de Sangala. Os habitantes de Sangala lutaram com heroísmo por sua independência, mas a persistência de Alexandre em submeter os que não reconheciam sua soberania foi mais forte: a cidade foi arrasada e os fugitivos capturados foram executados. Sagala foi reconstruída e incorporada ao vasto império de Alexandre sendo estabelecida como posto avançado. Esse foi o posto fronteiriço mais oriental estabelecido por Alexandre e, por muito tempo, um centro de influência da cultura helenística. Abaixo, campanha de Alexandre na Índia após a batalha do Hidaspes.

Aqui Parou Alexandre
Após a tomada Sangala, no final de julho de 336, Alexandre ordenou aos seus homens que atravessassem o rio Hífaso (em grego Hyphasis; em sânscrito Vipasa, atual rio Beas) com a intenção de dominar os territórios da outra margem. Mas, após tantos anos de combate o estado de espírito dos macedônios era o de voltar para casa. Eles deixaram a Macedônia para punir os persas pelo seu ataque à Grécia, mas além de não só punir o Império Aquemênida, eles o tinham conquistado. Eles tinham visto seu jovem rei cheio de educação e sonhos helênicos se comportando como os "bárbaros" orientais, mas acabaram por tolerar seu temperamento excêntrico. Eles haviam invadido a Índia e conquistado Gandara e Paurava, as mais orientais províncias do Império Persa. Mas agora que eles foram convidados a lutar na distante região de Magadha, que nunca havia pertencido ao Império Aquemênida e pensavam estar situados perto da extremidade da Terra, tendo que marchar pelas chuvas contínuas no pleno calor do verão. Então, o exército macedônico se recusou a seguir seu rei. Alexandre ficou furioso, mas segundo Arriano, Alexandre tentou dissuadi-los explicando-lhes que os deuses reservaram ao reino da Macedônia os limites do mundo.  Abaixo, o mundo conhecido pelos gregos: a Índia era o limite oriental do mundo.
Mas ele finalmente se permitiu ser persuadido por Coeno, o herói da batalha no Hidaspes, que apelou para a saudade da pátria e pela crença de que, por fim, os deuses não aprovavam a continuidade da guerra, pois segundo os adivinhos, enviaram maus presságios quanto à continuação da marcha. Segundo Jona Lendering isso foi importante, pois para o rei, era imperativo ressaltar que os deuses, e não os soldados, o forçaram a retornar; se tivesse sido de outra maneira, teria perdido a sua autoridade. Após três dias de impasse, Alexandre convocou seus generais e comunicou-lhes que decidira regressar. Os macedônios erguerem doze altares aos deuses do Olimpo e tomaram o caminho de volta. Mas, Alexandre não escolheu o mesmo caminho pelo qual chegara a Índia, isto é, pelo norte. Iria voltar pelo sul. Seja para punir seus homens tomando um caminho mais difícil ou por questões estratégicas para assegurar seu poder naquelas regiões, o Conquistador macedônio reiniciou sua marcha e decidiu voltar a Babilônia (capital do Império Alexandrino) em duas frentes: uma por terra, liderada por ele mesmo e a outra por mar sob o comando de Nearco. Abaixo, as faces de Alexandre sob o olhar dos Antigos.

O Vale do Indo
Chegando ao rio Hidaspes, com grande rapidez Alexandre construiu uma frota com mais de 800 barcos. Fenícios, cários, cipriotas e os egípcios estavam nessas embarcações sob o comando de Nearco e elefantes foram incorporados ao exército que seguiria às margens dos rios até o mar. Antes da partida, morreu de enfermidade o estratego Coeno, que se destacara em várias batalhas, e teve um esplêndido funeral.  Era novembro e o período das monções havia acabado. Alexandre sacrificou aos deuses do rio, seu antepassado lendário, o semideus Hércules e o deus egípcio Amon, e os navios finalmente puderam zarpar.  Abaixo, Alexandre e sua frota nas águas do Indo.
A frota foi escoltada por dois exércitos, comandados por Crátero e Heféstion, marchando ao longo das margens direita e esquerda do Hidaspes. Os navios estavam viajando durante dez dias, quando um desastre aconteceu: Na confluência do Acesines e Hidaspes, vários navios ficaram fora de controle e muitas pessoas perderam suas vidas. As nações ao longo do Indo ofereceram resistência ao exército macedônio. Em janeiro de 325, os homens de Alexandre tiveram que lutar contra os malava, mais conhecidos como malianos, e contra os oxidracas (Ksudraka). A guerra foi impiedosa e comparável ao genocídio em Gandara. Crátero comandou um exército a oeste e Heféstion e Ptolomeu comandaram dois exércitos a leste, enquanto Alexandre comandava a força principal, a cavalaria, os dahas (arqueiros montados)  e uma parte da falange. Vários cidades dos malianos foram atacadas e capturadas, e aqueles que tentaram escapar foram capturados pelos outros grupos do exército macedônico. Abaixo, o ataque dos macedônios a uma cidade dos malianos.
Durante o cerco da capital dos malianos, Alexandre foi gravemente ferido por uma flecha; conseguiu sobreviver graças a Abreas, que foi morto, a Peucestas e ao guarda-costas Leonato, que protegeu o rei com o escudo sagrado de Tróia. O ferimento foi muito grave e para o resto de sua vida ele sofreu de dor, porque a flecha havia penetrado no seu pulmão. Após a rendição do último forte dos malianos, logo em seguida os oxidracas também se rederam. Enfermo em seu leito, Alexandre ordenou a criação de uma nova satrápia, que era para ser governada por um macedônio, Peiton, e Oxiartes, o pai de Roxane. Ele também fundou uma nova cidade, Alexandria do Indo, perto da confluência dos rios Indo e Acesines, provavelmente no local de antigo assentamento persa. Veteranos trácios e nativos foram morar ali, não muito longe da atual cidade de Uch. Como as cidades que ele já tinha fundado nas margens do rio Hidaspes, Nicéia e Bucéfala, Alexandria do Indo possuía estaleiros de grande porte, o que sugere que Alexandre queria desenvolver o vale do Indo. Abaixo, locais em Alexandre e seu exército percorreram no vale do rio Indo.
Musicano (Mushika), governante do próximo reino que a armada macedônica encontrou, não veio prestar homenagem ao Conquistador, o que deu a Alexandre a desculpa de que precisava para invadir esse país da região de Sindhu (que tinha que atravessar de qualquer maneira). Musicano entregou-se e recebeu seu novo soberano em sua capital, a atual cidade de Alor. Alexandre imediatamente atacou o rei Oxicano, vizinho de Musicano, que reinou próximo da atual cidade de Sukkur. Indo para o sul, Alexandre também atacou o reino do rei Sambo (Sambhu), que estava situado entre o Kirthar e Indo cuja capital era Sindimana. Abaixo, relevo persa representando um nativo de Sindhu.

A Caminho do Mar Oceano
Enquanto Alexandre continuava em direção ao mar, em abril de 325 os Estados que deixara para trás se revoltaram. A rebelião foi inspirada pelos brâmanes, que parecem ter tido algum tipo de academia em uma cidade chamada Harmatelia. Os macedônios mataram muitos rebeldes, os brâmanes foram enforcados e Musicano, o rei que tinha apoiado a revolta, foi crucificado. O rei Sambo escapou. A rebelião bramânica se espalhou para as regiões do norte e o sátrapa de Gandara foi morto, mas, eventualmente, a guarnição da Macedônia ali presente pacificou o país. Ordones, sátrapa de Ariana, também se rebelou. O exército que foi enviado para reprimir a rebelião foi comandado por Crátero, e estava sob as ordens para continuar em direção ao oeste, através do Passo de Bolan para Carmânia e Pérsia. Ele comandou cerca de um terço do exército, incluindo os elefantes de guerra, em direção ao Ocidente, o que significa que Alexandre não queria expor todos os seus homens para os perigos que estavam à frente. Há, entretanto, evidências de que outras levas de macedônios já teriam retornado  para o oeste antes  da jornada de Alexandre pelo sul. Crátero também tinha a missão de enviar suprimentos ao contingente de Alexandre quando esse atravessasse o deserto da Gedrósia. Abaixo, o Passo de Bolan no atual Paquistão.
Por fim os macedônios atingiram o mar Oceano, que consideravam o mar que rodeava toda a Terra. Eles teriam, sob essa ótica, alcançado uma das extremidades do mundo. Novamente, mais uma  cidade foi construída, no sítio de uma antiga cidade indiana cujo soberano fugira ante o avanço dos macedônios. A nova cidade foi chamada Pátala (termo indiano para 'base naval') ou Xylinepolis (em grego ‘a cidade de madeira’) e possivelmente é a atual cidade de Bahmanabad. Aqui, a frota foi reformada para a viagem de regresso. Por fim, Alexandre Magno atingira o Oceano, o fim do mundo antigo. As costas do oceano Índico não eram desconhecidas, porque o capitão de origem cária, Scylax de Carianda, tinha explorado-as na época do rei persa Dario I, o Grande. No entanto, era arriscado enviar um grande número de navios e soldados por todo o mar aberto. Uma operação de reconhecimento, comandada por Alexandre em pessoa, acabou por ser perigosa, porque os capitães não entenderam muito bem o funcionamento das marés. Mas a viagem marinha estava decidida e o comando entregue a Nearco, o que animou o ânimo dos homens que embarcariam. Alexandre fundou um porto na extremidade ocidental do delta do Indo. Abaixo, a marcha de Alexandre Magno sobre a Índia.
File:AlexanderConquestsInIndia.jpg
As aventuras de Alexandre na Índia duraram quase dois anos, mas apesar das difíceis batalhas o domínio do Macedônio sobre a região foi efêmero, apesar do valioso conhecimento sobre a Índia adquirido pelos cientistas e exploradores gregos que acompanhavam o exército e a propagação da cultura helênica na região.

REFERÊNCIAS
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander13.html
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander14.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_the_Great
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tempos, vol. 4: Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988.

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