sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

FILIPE V (221 - 179 a.C.) - PARTE V

A Segunda Guerra Macedônica (200 – 197 a.C.)
Envolvidos em sua luta contra Cartago, os romanos deram pouca atenção a Guerra Cretense. Porém, após derrotar os cartagineses (201 a.C.) e sendo constantemente pressionada pelas embaixadas de Rodes e Atenas, Roma enviou uma delegação para apurar os fatos e o embaixador Marco Lépido transmitiu um ultimato do Senado para que Filipe acabasse com as agressões a Rodes e seus aliados ou enfrentartia uma nova guerra com Roma. Filipe aderiu a segunda opção e os romanos invadiram os territórios macedônicos na Ilíria (200 a.C.). Filipe tinha poucos aliados ativos na Grécia, mas havia pouco entusiasmo entre os gregos pela causa romana já que lembravam-se da brutalidade frequente das legiões durante a Primeira Guerra Macedônica (214 – 205 a.C.). A maioria dos Estados helênicos adotou uma política de esperar para ver o caminho que a guerra tomaria. Para os dois primeiros anos, a campanha romana foi ineficiente.
Arquivo: Romeinse vlag.jpg
Recriação moderna de um estandarte romano com a abreviação
 de Senatus popolusque romanus (o Senado e o povo romano)
O general Públio Sulpício Galba pouco avançou contra Filipe bem como seu sucessor, Públio Vílio, que teve que lidar com um motim entre seus próprios homens. Em 198 a.C., Vílio entregou o comando a Tito Quincio Flaminino, o qual não tinha nem trinta anos e era um fervoroso e autoproclamado philohellene (“amigos dos gregos”). Ele introduziu uma nova política romana para vencer a guerra. Até este ponto, os romanos tinham apenas ordenado a Filipe que parasse de atacar as cidades gregas ("paz na Grécia"). Agora Flaminino exigiu que ele deveria retirar todas as suas guarnições das cidades gregas e que tinha que limitar-se a Macedônia ("liberdade para os gregos").
Moeda com a efígie de Flaminino

"Negociações" de Paz
Flaminino liderou uma campanha vigorosa contra Filipe em 198, obrigando-o a recuar para a Tessália. As cidades da Liga Aqueia, formalmente aliadas da Macedônia, estavam demasiado ocupadas com a guerra contra Esparta para tomar parte no conflito. O sucesso de Roma contra a Filipe convenceu muitas delas a abandonar a sua postura pró-Macedônia. Outras, como Argos, permaneceram leais a Filipe. O rei macedônio manifestou-se no sentido de fazer a paz com Roma, mas a sua intenção veio em um momento crítico para Flaminino que aguardava os resultados das eleições em Roma cujo resultado poderia prolongar ou interromper a ação do general romano. Flaminino estava ansioso para tomar o crédito pelo fim da guerra, mas ele ainda não sabia se o seu comando seria prolongado. Ele decidiu negociar com Filipe, enquanto aguardava o resultado das eleições. Se fosse chamado a Roma, então ele iria fazer um rápido acordo de paz com a Macedônia. Se, por outro lado, o seu comando fosse mantido, então ele iria romper as negociações e declarar guerra a Filipe novamente. 
Relevo retratando senadores romanos
Flaminino e Filipe encontraram-se em Niceia, na Lócrida, em novembro de 198. Para prolongar a negociação, Flaminino insistiu que todos os seus aliados deveriam estar presentes nas negociações e reiterou sua exigência de que Filipe deveria retirar-se de toda a Grécia, inclusive da Tessália, região a qual a Macedônia dominava a muitos anos. Filipe, que até propusera desistir de todas as conquistas de seus recentes na Trácia e na Ásia Menor em troca da paz, não estava disposto a ceder tanto. Flaminino persuadiu o rei de que o problema era que os Estados gregos é que estavam insistindo nesse ponto e sugeriu que ele enviasse uma embaixada ao Senado romano. Filipe seguiu seu conselho, mas neste momento Flaminino soube que o seu comando tinha sido prorrogado e seus amigos em Roma interferiram com sucesso nas negociações da Macedônia ante o Senado em Roma para que a guerra pudesse continuar.

A Batalha do Aous
Vendo que o curso do conflito seguia favorável a Roma, alguns aliados restantes de Filipe o abandonaram (com exceção dos da Acarnânia) e ele foi forçado a levantar um exército de 25.000 mercenários. Em dois anos de conflito, os romanos já haviam invadido a Ilíria tomando a cidade de Apolônia e penetrado no lado ocidental do domínio macedônico. Filipe tomara posição defensiva às margens do rio Aous perto do desfiladeiro de Antigoneia bloqueando a rota para o lado oriental da Macedônia. Como as negociações de paz falharam, Filipe retornou a sua posição defensiva no desfiladeiro do Aous.
Rio Aous (atual Vjose)
 Os romanos foram providos com um guia local por Carops, um epirota poderoso. Com a ajuda do guia, os soldados romanos marcharam em torno da posição de Filipe ameaçando prendê-lo no desfiladeiro. O rei percebeu o perigo a tempo e conseguiu escapar da armadilha, mas teve que enfrentar os romanos. As legiões de Flaminino derrotaram Filipe em 24 de junho de 198 na Batalha do rio Aous. Filipe perdeu cerca de 2000 homens além de sua bagagem e de deixar a Tessália exposta aos romanos, que entraram na região onde capturaram muitas cidades, antes de virar para sul em direção ao Golfo de Corinto. Ante o sucesso romano, a Liga Aqueia, aliada formal da Macedônia que não havia se posicionado quanto ao conflito, decidiu-se pelo lado de Roma. Essa era a primeira vitória romana significativa na guerra contra a Macedônia, mas ainda não lograra um resultado definitivo para o conflito.

A Batalha de Cinocéfalos (197 a.C.)
Flaminino e seus aliados da Liga Etólia estavam em Tebas, e decidiram marchar até a cidade de Feras à procura de Filipe, que estava em Larissa, ambas cidades da Tessália. O exército romano contava além de seu efetivo próprio com 10.000 homens da Liga Etólia. Ao todo, o exército sob o comando de Flaminino consistia em 23.000 soldados, 1.100 cavaleiros e 20 elefantes (provavelmente fornecidos por Masinissa, rei da Numídia, reino aliado de Roma na África). Filipe tinha cerca de 16.000 soldados em formação falange, 2.000 hoplitas, 5.500 de infantaria ligeira vindos da Ilíria, Trácia e Creta, e 2000 forças de cavalaria, constituindo-se 25.500 combatentes no total. Tropas de reconhecimento de ambos os lados reuniram-se perto de Feras. O local não era adequado para uma grande batalha, mas o conflito foi inevitável.
O "melancólico Roman": provavelmente um portait de T. Quinctius Flamininus.  Museu de Delfos (Grécia).  Foto Marco Prins.
Flaminino
As tropas de Filipe foram inicialmente derrotadas em um combate de cavalaria, nas colinas de fora da cidade. Ambos os lados, em seguida, marcharam para Escotusa. Os macedônios, em seguida, partiram para se abastecerem seus estoques de alimentos, em paralelo com os romanos, que tentavam privá-los dos alimentos. Por fim, os exércitos adversários se acharam separados uma cordilheira conhecida como Cinoscéfalos (do grego kynós = cão, e kephalê = cabeça; chamada assim por sua semelhança com uma cabeça de cachorro). Durante a marcha, ocorreu uma tempestade, e na manhã seguinte os montes foram cobertos por um denso nevoeiro. Apesar disto, Filipe continuou a marcha, mas as condições climáticas e do terreno criaram uma confusão entre as suas tropas, que acabaram atingindo as colinas de Cinocéfalos. Flaminino enviou a cavalaria que, deparando-se com o acampamento macedônico, atacou de surpresa às tropas de Filipe. Flaminino enviou 500 unidades de cavalaria e 200 de infantaria como reforços adicionais, obrigando o rei macedônio a voltar para o topo da colina. O comandante dos mercenários de Filipe, Atenágoras, conseguiu contra-atacar e expulsar os romanos da colina.
Campo de batalha de Cinocéfalos
Quando Filipe soube que os romanos fugiram desordenadamente, irrefletidamente, decidiu mobilizar suas tropas para o fundo do vale. A geografia do terreno dificultava o manejo pelos macedônios de suas longas e famosas lanças (as sarissas) e Filipe ordenou que deixassem essas lanças e partissem para o combate corpo-a-corpo (desfazendo assim a formação da temível falange macedônica). Era o confronto não apenas entre dois exércitos, mas entre duas formas de se guerrear e a legião romana mostrou sua superioridade sobre a falange macedônica, já que tinha uma formação mais flexível. Sob o hábil comando de Flaminino, o exército romano atacou maciçamente por trás e pela frente provocando muitas perdas no exército macedônio; ante as pesadas baixas muitos soldados de Filipe começaram a se render ou fugir. Filipe conseguiu escapar seguramente, mas a guerra estava perdida.

A Paz de Flaminino
Um armistício foi declarado e as negociações de paz foram realizadas no Vale de Tempe. Filipe concordou em retirar-se de toda a Grécia e abandonar as suas conquistas na Trácia e na Ásia Menor. Os aliados de Roma na Liga Etólia também reivindicaram territórios contra Filipe, mas Flaminino se recusou a apoiá-los. O tratado de paz foi enviado a Roma para ratificação pelo Senado, o qual acrescentou ao tratado que Filipe deveria pagar uma pesada indenização de guerra e entregar sua marinha (embora o seu exército permanecesse intacto). Além disso, para garantir o acordo, o filho de Filipe, Demétrio, o Jovem, foi dado como refém aos romanos dentre outros mecedônios. Em 196, a paz foi finalmente acordada por Roma e Macedônia e nos Jogos Ístmicos desse ano Flaminino proclamou a libertação dos gregos. Filipe começara seu reinado há 25 anos como campeão dos gregos e agora era derrotado como seu opressor. No entanto, os romanos mantiveram guarnições nas principais cidades estratégicas, que haviam pertencido a Macedônia (Corinto, Cálcis e Demetríade) e as legiões não foram completamente evacuadas até 194. 
File:Tempe3.jpg
Vale de Tempe

Aliança com Roma
Com o fim da Segunda Guerra Macedônica, Filipe colaborou com os romanos e auxiliou-os na sua luta contra os espartanos sob o rei Nabis em 195 a.C. Filipe também apoiou os romanos contra Antíoco III, o Grande, com o qual o já se aliançara contra o Egito e Rodes, quando da Guerra Síria (192-188 a.C.) entre Roma e o reino selêucida da Síria. Em troca de sua ajuda quando as forças romanas sob Públio Cipião, o Africano, e seu irmão Lúcio Cipião, o Asiático, atravessaram a Macedônia e Trácia, em 190 a.C., os romanos perdoaram a indenização remanescente que ele tinha que pagar e seu filho Demétrio foi libertado. Filipe então dedica-se em consolidar seu poder dentro da Macedônia. Ele reorganizou assuntos internos do país e as finanças, as minas foram reabertas e uma nova moeda foi emitida.
File:Asia Minor 188 BCE.jpg
A Macedônia e adjacências ao fim da Guerra Síria em 188 a.C.
No entanto, Roma continuava a ter suspeitas das intenções de Filipe. Acusações por Estados vizinhos da Macedônia, particularmente Pérgamo, incrementavam a constante interferência romana. Sentindo como uma crescente ameaça a possiblidade de Roma invadir a Macedônia e removê-lo como rei, ele tentou estender sua influência nos Balcãs pela força e diplomacia. Para acalmar os ânimos de Roma, Filipe enviou Demétrio como embaixador para assegurá-los de sua lealdade.  Ao que parece, Demétrio obteve êxito por gozar de maior favor perante o Senado do que seu pai e seu irmão Perseu, que talvez fossem substituídos por um rei menos perigoso a Roma. Isto levou a uma briga entre Perseu e Demétrio que obrigou Filipe, com relutância decidir executar Demétrio por traição em 180 a.C. Esta decisão teve um grave impacto sobre a saúde de Filipe e ele morreu um ano depois (179 a.C.) em Anfípolis. Ele foi sucedido por seu filho mais velho, Perseu.

REFERÊNCIAS:
http://en.wikipedia.org/wiki/Second_Macedonian_War
http://pages.interlog.com/~gilgames/senate.htm
http://www.livius.org/ct-cz/cynoscephalae/cynoscephalae.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Filipe_V_of_Macedon
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Romeinse_vlag.jpg

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