segunda-feira, 26 de julho de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE IV

Introdução
O motivo oficial para a expedição greco-macedônica à Ásia era libertar as cidades gregas que vivam sob domínio do Império Aquemênida e punir os persas por causa da expedição do rei Xerxes I à Grécia onde queimou e saqueou Atenas (480 a.C.). As cidades gregas da Ásia chegaram a ser libertadas depois da batalha de Micale em 479, mas os persas as tinham reocupado quando os gregos estavam divididos entre si durante a Guerra do Peloponeso (431-404). Os espartanos tentaram novamente libertá-las no início da século IV, mas acabaram por deixá-las quando assinaram um tratado de paz com os persas em 387 / 386. Filipe II, em ressentimento pela ajuda persa à resistência da cidade de Perinto à dominação macedônica e arvorando-se em campeão da causa grega, promoveu campanhas na Ásia e seu general Parmênion capturou as cidades gregas na Ásia em 336, mas que foram reconquistadas pelo mercenário grego a serviço dos persas, Memnon de Rodes. Abaixo, os gregos asiáticos recebendo a Alexandre como seu libertador.
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Agora era a vez de Alexandre III da Macedônia desempenhar o papel de libertador dos gregos da Ásia. Cerca de um ano depois (333), em uma carta ao rei persa Dario III, Alexandre justificou sua invasão ao Império Persa por causa da anterior invasão dos persas à Grécia e Macedônia bem como da intervenção do governo persa nos assuntos da Macedônia, em especial, na cidade de Perinto. Porém, essa missão se mostrou maior do que ele e seus conterrâneos esperavam. Não obstante, o questionamento de Alexandre aos embaixadores persas sobre o Império Aquemênida ainda na corte de Filipe II indica que o Macedônio tinha algum interesse que estava além da zona do mediterrâneo (Plutarco, Alexandre, 5.1-3). Abaixo, mosaico da cidade de Pela, Macedônia, do século III a.C., retratando Alexandre Magno e seu amigo Crátero caçando um leão asiático.
O Império Persa era o maior império que o mundo greco-oriental já vira até então. Governado pela dinastia Aquemênida, em seu auge, nos dias do rei Dario I, o Grande (550 - 486 a.C.), os persas dominavam inúmeros povos e seus domínios iam da Europa à Índia. Seu governante era chamado de o Rei dos Reis. No entanto, começou a entrar em decadência por causa de disputas pelo trono e por causa das constantes rebeliões dos povos dominados e de sátrapas (governadores) persas revoltados. No mesmo ano em que Alexandre III assumiu o trono da Macedônia (336), o nobre e militar persa Artashata (ou Codomano nas fontes clássicas) com apoio da nobreza assumiu o trono de Artaxerxes IV Arses que fora assasinado por seu ministro Bagoas. Artashata passou a reinar com o nome de Dario. Dario III Codomano, embora fosse valente soldado, não pareceu, como a História demonstrou, um administrador à altura dos desafios que tinha pela frente, mas fez o que pode para salvar com dignidade o Império de seus ancestrais. Abaixo, o Império Persa no auge de seu poder (490 a.C.).
Após deixar o general Antípatro como regente da Macedônia, Alexandre e seu exército  cruzaram o Helesponto em 334 a.C. com aproximadamente 42 mil soldados da Macedônia e de várias cidades-estados gregas bem como mercenários levantados na Trácia, Peônia e Ilíria. Na Ásia, em Abidos, já lhe esperava Parmênion com um contingente considerável de homens. Diz-se que quando Alexandre jogou sua lança de seu navio para a costa, ela se fincou no chão; e ao pisar em terra, puxou a lança do chão declarando que toda a Ásia seria vencida pela lança. Abaixo, ilustração do referido episódio.
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Alexandre e seu amigo Heféstion visitaram o túmulo do célebre guerreiro grego Aquiles que lutara na guerra de Tróia (século XI a.C.) cujos feitos foram eternizados na Ilíada de Homero. Por meio de sua mãe, Alexandre seria descendente do grande guerreiro grego. Abaixo, Alexandre visitando a tumba de Aquiles por Castaigne.

A Batalha do Grânico e a Conquista da Ásia Menor
Diante da invasão macedônica, os sátrapas persas da Ásia Menor se reuniram em Zelea para decidirem o que fazer. O mercenário grego Mentor de Rodes os orientou numa estratégia de recuo: destruir campos e, se necessário, cidades no caminho do exército invasor para que, não encontrando suprimentos, retornasse à Europa. Depois os persas atacariam-nos em sua própria terra. Porém, os líderes persas preferiram enfrentar diretamente o invasor. Em junho, os exércitos greco-macedônico e persa se encontraram perto do rio Grânico (o moderno Biga Cay). Os persas tinham ocupado fortes posições defensivas em um dos bancos, o que obrigou Alexandre a atacar a partir de um ângulo difícil. A maioria das fontes antigas concordam que Parmênion aconselhou Alexandre a não atacar e que foi ideia do próprio Alexandre atacar de uma vez. No confronto Alexandre quase foi morto, mas foi salvo por seu amigo Clito. Abaixo, Alexandre sendo salvo por Clito na Batalha do Grânico por Charles Le Brun.
Depois dessa primeira vitória contra as forças persas na Batalha do Grânico, Alexandre aceitou a rendição de Sardes, capital da satrápia da Lídia, que lhe forneceu os recursos de sua tesouraria. Depois o Macedônio passou ao longo da costa jônica. As cidades de Éfeso, Trales e Magnésia receberam muito bem a Alexandre que instituiu nelas o regime democrático grego. Alexandre, entretanto, nomeara sátrpas (governadores) para as regiões que conquistara na Ásia Menor, o que indica sua intenção de manter domínio sobre as cidades gregas "libertadas". Um importante porto conquistado foi o da cidade de Mileto que ofereceu séria resistência, mas foi tomada pelas tropas de Alexandre como ilustrado abaixo por Castaigne.
Em Halicarnasso, Alexandre logrou êxito no cerco da cidade, forçando os seus adversários, o capitão mercenário Memnon de Rodes e o sátrapa persa da Cária, Orontobates, a retirarem-se pelo mar. Porém, não foi uma vitória fácil, já que num dado momento, Alexandre teve que pedir trégua para resgatar os corpos dos soldados macedônios tombados em combate. Não há registro de que o Conquistador macedônio tenha pedido trégua em outra ocasião. Ada, filha do antigo sátrapa Hecatômno, cuja família ainda exercia forte influência na região, fez aliança com Alexandre que a nomeou a nova sátrapa. Ada adotou Alexandre como filho. Abaixo, a campanha de Alexandre na Ásia Menor.
A partir de Halicarnasso, Alexandre continuou na região montanhosa da Lícia e na planície da Panfília, exercendo um controle sobre todas as cidades costeiras. Ele fez isso para impedir que os persas tivessem bases navais. Tendo em vista que Alexandre não tinha um seguro meio de ataque por sua própria frota, para derrotar a frota persa era necessário o controle dos locais estratégicos em terra. Com os principais portos da costa controlados, Alexandre partiu da Panfília para o interior. Na Pisídia, Alexandre não conseguiu tomar a inexpugnável fortaleza de Termessos, mas queimou os campos em redor. Na antiga capital da Frígia, Górdion, havia um antigo carro de bois relacionado à dinastia do famoso rei Midas que estava amarrado a uma coluna por corda e só poderia ser manualmente solto desfazendo-se o nó que o prendia. Tão difícil era desfazer o tal nó, que se cria que quem o realizasse seria o futuro rei da Ásia. Alexandre com um golpe de espada "desfez" o até então insolúvel "Nó Górdio". E foi a concepção de estar destinado a ser o novo rei da Ásia, que ele, Alexandre III da Macedônia, hegemon dos gregos, continuou sua marcha após se abastecer de mantimentos e de receber reforços em suas tropas vindos da Grécia. Apesar do triunfo de Alexandre sobre a Ásia Menor, as regiões da Bitínia e Paflagônia na costa norte da Anatólia não eram controladas pelos macedônios. Mas, não representavam ameaça e não estavam no seu caminho rumo às conquistas do Oriente.  Abaixo ilustração de Castaigne sobre Alexandre Magno e o Nó Górdio.

A Batalha de Isso e a Conquista da Costa do Levante
Inicialmente, Dario III achou que seus sátrapas na Ásia Menor tratariam com êxito da invasão grega; mas, ante o avanço de Alexandre e seus exércitos, o Grande Rei dos persas teve que intervir pessoalmente.  Antes, em fins de 334, segundo o historiador Arriano, os persas tentaram abalar a marcha de Alexandre conspirando com o príncipe Alexandre Lincestes, a quem Alexandre Magno poupara quando de sua  ascensão, para que esse tomasse o poder na Macedônia. Lincestes era  filho do antigo rei macedônico Aéropo II (396 -393 a.C.) e poderia reivindicar o trono. Mas a conspiração foi descoberta e Lincestes executado por traição. Depois de passar o inverno na Ásia Menor, o exército de Alexandre cruzou os Portões da Cilícia (passagem na Cordilheira dos Montes Tauro) em 333 a.C. Dario havia preparado um poderoso contingente em cerca de um ano e meio e a batalha se deu na planície de Isso na Cilícia. Abaixo, trajeto de Alexandre e dos persas até a planície de Isso.
Os exércitos greco-macedônicos prevaleceram contra as forças persas. Alexandre investiu contra o Grande Rei tentando capturá-lo, mas Dario fugiu da batalha, fazendo com que o seu exército se desmantelasse, e ainda deixou para trás sua esposa, duas filhas, sua mãe Sisigambis e uma quantidade fabulosa do tesouro real. Alexandre tratou com maior respeito a família de Dario, não obstante fossem suas reféns. Posteriormente Dario ofereceu um tratado de paz a Alexandre, a concessão das terras que esse já havia conquistado, e um resgate de 10.000 talentos por sua família.
Soldados persas na batalha de Isso
Ainda que seus generais e conselheiros o aconselhassem a aceitar a proposta, Alexandre respondeu, dentre outras coisas, que desde que ele era agora o Rei da Ásia, só a ele cabia decidir sobre divisões territoriais. Alexandre parecia ter a visão de que iniciara um processo histórico irreversível, a derrocada do Império Persa e a ascensão de seu próprio império e da era helenística. Se aceitasse essa e outras futuras propostas de Dario, a história da humanidade seria diferente daquela que conhecemos hoje. Abaixo, célebre mosaico da cidade de Pompéia que retrata a fuga de Dario III e sua perseguição por Alexandre Magno.
Após a batalha de Isso, o general macedônico Parmênion rumou para a importante cidade de Damasco e a conquistou. Damasco estava repleta de tesouros e grande foi o espólio de guerra, e dentro dele estava Barsine, filha do sátrapa Artabazo, que se tornou amante de Alexandre Magno. No entanto, Dario III ainda era poderoso e controlava a maior parte do Império. Os persas realizaram um forte contra-ataque na Ásia Menor, mas o domínio macedônico  não foi abalado. Mas era necessário controlar a costa oriental do mar Mediterrâneo para impedir retaliações da frota naval persa. Alexandre passou a tomar posse da Síria e da maioria da costa do Levante (Mediterrâneo oriental). Em 332 ele sitiou a cidade de Tiro, que acabou por ser capturada, após um cerco terrível que durou de janeiro a julho. Após a captura de Tiro, Alexandre crucificou todos os homens em idade militar, e vendeu as mulheres e crianças à escravidão. A essa altura a frota naval persa começara a se desmantelar. Abaixo, o assédio de Tiro por Alexandre pela ótica de Castaigne.
Quando Alexandre destruiu Tiro, a maioria das cidades na rota para o Egito se rendeu rapidamente, com a exceção de Gaza. A fortaleza de Gaza era construída em uma colina e foi solidamente fortificada. No início do Sítio de Gaza, Alexandre utilizou o aparato bélico que tinha empregado contra Tiro. Depois de três tentativas fracassadas, a fortaleza foi finalmente tomada pela força, mas não antes de Alexandre receber no ombro uma grave ferida. Quando Gaza foi tomada, a população masculina foi submetida à espada e as mulheres e crianças foram vendidos como escravos. Abaixo, o cerco de Gaza por Castaigne.

Jerusalém, a cidade sagrada dos judeus, por outro lado, abriu as suas portas em sinal de rendição e, segundo o historiador judeu Flávio Josefo, a Alexandre foi mostrado o livro da profecia de Daniel, capítulo 8, onde se afirma que um poderoso rei grego iria subjugar e conquistar o Império Persa. No relato de Josefo (Antiguidades Judaicas 11.317-345), Alexandre teria reconhecido o sumo sacerdote judeu como alguém que lhe teria aparecido em sonhos e lhe confirmado a missão de conquistar a Ásia. Possivelmente, os judeus foram empregados por Alexandre no cerco de Gaza e na proteção da construção de Alexandria no Egito. Abaixo, o sumo sacerdote judeu mostra a profecia de Daniel a Alexandre Magno no Templo de Jerusalém por Sebastiano Conca (1680-1764).
Após ter submetido a Palestina e a Fenícia, o Macedônio rumou para a antiga, gloriosa e rica terra dos Faraós, o Egito.


REFERÊNCIAS:

http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander_chrono.html
http://www.alexanderstomb.com/main/index.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_the_Great#Conquest_of_the_Persian_Empire
http://www.iranica.com/articles/alexander-the-great-356-23-bc
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander_t08.html
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander03.html

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