sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FILIPE V (221 - 179 a.C.) - PARTE I

Filipe V (238 - 179 a.C.) foi rei da Macedônia de 221 a 179 a.C. Seu reinado foi marcado principalmente por uma luta infrutífera com o poder emergente de Roma. Sendo um homem jovem, Filipe era atraente e carismático. Sendo um guerreiro arrojado e corajoso, ele foi inevitavelmente comparado a Alexandre, o Grande, e foi apelidado de o ἐρώμενος ἐγένετο τῶν Ἑλλήνων: “O amado de toda a Grécia.”
File:Philip V of Macedon BM.jpg
Filipe V da Macedônia
Filipe era filho do rei macedônio Demétrio II Etólico com Ftia, filha do rei Alexandre II do Épiro. Filipe tinha cerca de nove anos quando da morte de seu pai em 229 a.C. Ele tinha uma irmã mais velha chamada Apame (III) do primeiro matrimônio de seu pai. Sendo criança, seu primo Antígono III Dóson, administrou o reino como regente até 227 e daí em diante governou como rei da Macedônia a pedido de seus conterrâneos. Mas Antígono não usou de manobras para suprimir o príncipe-herdeiro e mesmo sendo rei tinha consciência de ser guardião do trono como indicam as fontes históricas, mesmo agindo como rei de fato. Quando Antígono morreu em 221 combatendo e vencendo os ilírios, Filipe tinha 17 anos de idade e um novo regente lhe foi designado: Apeles. De sua primeira esposa de nome desconhecido teve três filhos: uma filha de nome desconhecido que se casou com o rei trácio Teres III, Apame, que se casou com o rei da Bitínia Prúsias II, e Demétrio, o Jovem. De sua segunda esposa, Policrácia de Argos, Filipe teve Perseu, que o sucedeu no trono.
Inscrição proveniente de Cassandreia que menciona "o rei Filipe,
filho do rei Demétrio", Museu de Tessalônica, Grécia

A Guerra dos Aliados (220 – 217 a.C.)
Em sua ascensão ao trono, Filipe rapidamente mostrou que, embora sendo jovem, isso não significava que fosse fraco. Tomou as rédeas do governo em suas próprias mãos, mas Apeles foi conservado na corte como um conselheiro. No primeiro ano de seu governo, ele refreou o ataque dos dardânios e outras tribos do norte do país. Porém, alguns Estados gregos viram em sua juventude e inexperiência a oportunidade de se expandirem em detrimento da Macedônia e da Liga Aqueia. Assim, os etólios vão realizar várias operações militares na Fócida e na Beócia. Filipe reúne os membros da Liga Grega (fundada por seu antecessor o rei Antígono III Dóson,) em Corinto onde decidem declarar guerra contra a Liga Etólia (220 a.C.). É o início da Guerra dos Aliados (também conhecida como Guerra Social) onde as confederações gregas voltaram a se enfrentar. Durante o conflito Filipe demonstrou seu talento como estrategista e tirou proveito da guerra. 
Fócida
Ele foi capaz selar sua autoridade entre os seus próprios ministros e sua liderança durante a Guerra Social, o que o tornou conhecido e respeitado tanto dentro de seu próprio reino como no exterior. Mas ainda durante a guerra, Filipe cometeu sacrilégio no santuário de Thermos, o que foi considerado o primeiro sinal, de acordo com o historiador Políbio, dos problemas de saúde mental do rei macedônio. Após cerca de três anos de conflito, Agelau, um dos líderes dos etólios, consegue através de um persuasivo discurso convencer Filipe e seus aliados a fazer as pazes com a Liga Etólia: o acordo é selado na cidade de Naupacto na Etólia e põe fim a Guerra dos Aliados (217 a.C.). Segundo o historiador Jona Lendering, Filipe assina a paz, pois desvia suas ambições para o oeste onde os romanos sofrem derrotas para os cartagineses. No mesmo ano, Apeles, conselheiro e ex-regente de Filipe, foi executado por conspirar contra Arato de Sicião, que fora inimigo da Macedônia, mas agora era aliado de Filipe.

A Ilíria
Depois da Paz de Naupacto em 217 a.C., Filipe V tenta substituir influência romana pela macedônica ao longo da costa oriental do mar Adriático formando alianças ou emprestando seu protetorado a certas ilhas e províncias costeiras, como a cidade de Lato na ilha de Creta. Ao término da Primeira Guerra Ilírica (229-228 a.C.), os romanos deram a Demétrio de Faro o governo de uma ampla região na Ilíria. Porém, Demétrio violou o acordo com os romanos e os enfrentou na Segunda Guerra Ilírica(220 – 219 a.C.). O comandante romano Lúcio Emílio Paulo venceu a Demétrio que fugiu para a corte de Filipe V a fim de salvar a sua própria vida.
As Guerras Ilíricas
Quando da vitória dos cartagineses sobre os romanos no Lago Trasimeno (217 a.C.), Demétrio aconselhou Filipe a expandir seu domínio para a Ilíria e Itália aproveitando a fraqueza de Roma e a construir um novo império macedônico. Em 216, o rei macedônio inicia sua campanha na Ilíria. Inicia-se o conflito com a República de Roma que pretendia exercer seu protetorado na região, mas que estava em conflito com Cartago. Filipe construiu uma frota de cem navios militares e treinou um exército de homens ao seu comando (217 a.C.—216 a.C.). O entusiasmo com o que rei se entregou a esta tarefa não tinha precedentes entre os seus antecessores, mas a Macedônia não dispunha de recursos suficientes para construir e manter uma frota necessária para enfrentar a frota romana. O rei expandiu os seus territórios para oeste através dos vales dos rios Apso e Genuso, chegando às beiras da Ilíria. O plano de Filipe era tomar as costas da Ilíria conquistando a área entre estas costas e a Macedônia usando o novo território conquistado como uma base para a invasão da Itália.
Ilha de Sazan
Em princípios do verão, Filipe e a sua frota partiram da Macedônia. Porém, quando a frota macedônica estava fundeada na ilha de Sazan, Filipe foi informado do avistamento de quinquerremes em Apolônia da Ilíria. Convencido de que a frota romana rumava para ali a fim de capturá-lo, ordenou a retirada imediata para Cefalônia. Políbio descreveu a fuga da frota macedônica como "um exemplo de pânico e desordem". Apesar disso, os romanos apenas enviaram dez naves com o fim de fazer face ao que consideravam um "alarme injustificado". Filipe deixara escapar uma boa oportunidade de tomar Ilíria e teve de regressar para Macedônia; embora não perdesse nenhuma nave, voltou ao seu reino com uma considerável desonra.
Quinquerreme romano


Aliança com Cartago
Cartago era uma antiga colônia fenícia na costa da África (atual Tunísia) que construiu um império comercial ao longo da costa do mar Mediterrâneo ocidental. Sua expansão levou a um confronto com a República Romana que também objetivava dominar a mesma área. Desde 264 a.C., romanos e cartagineses (chamados também de púnicos) se enfrentavam e Cartago acabou por levar a guerra à própria Itália na pessoa de seu célebre general Aníbal Barca. Quando Filipe soube da esmagadora vitória de Aníbal sobre os romanos na Batalha de Canas (216 a.C.), o monarca enviou mensageiros ao acampamento de Aníbal na Itália com uma proposta de aliança. 
File:218BCMAPMEDITERRANEAN.jpg
O Mediterrâneo em 218 a.C.
Concluiu-se no verão de 215 a.C. um tratado de amizade onde as partes se comprometiam em apoio militar mútuo contra os inimigos (exceto se fossem aliados do outro). Especificamente prometia-se apoio mútuo na guerra contra Roma e se Aníbal assinasse paz com Roma que não devia incluir Filipe, mas Roma devia ser forçada a ceder Corfu, Apolônia, Epidanmo, Faros, Dimale, Partínia e Atintânia e Demétrio devia ser restaurado no trono de Faros. Ao seu regresso à Macedônia, os embaixadores de Filipe e os embaixadores de Aníbal foram capturados por Públio Valério Flaco, comandante da frota romana que patrulhava o sul da costa da Apúlia. Uma carta de Aníbal a Filipe e os termos do tratado entre ambos foram descobertos pelos romanos. A notícia da aliança entre a Macedônia e Cartago foi alarmante para Roma. Foram enviadas imediatamente 25 barcos para unirem-se à patrulha de Flaco na costa da Apúlia e também um número igual de barcos para patrulhar a costa do mar Adriático perto de Tarento.
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Moeda de Filipe V com a efígie de Hélios, o deus sol

A Primeira Guerra Macedônica (214 - 205 a.C.)
No fim do verão de 214 a.C., Filipe tentou de novo tomar o controle da Ilíria por mar, com uma frota de 120 lembos. O lembo era uma pequena embarcação para um contingente de 50 homens além dos remadores. Era mais rápida e mais fácil de manobrar. Os macedônios capturaram a cidade de Orico, pouco defendida, navegaram através do rio Aous (o atual Vjosë) e assediaram a cidade de Apolônia na Ilíria. Enquanto isso, os romanos mobilizaram uma frota sob as ordens do propretor Marco Valério Levino, o qual desembarcou nas imediações de Orico e retomou-a facilmente após um pequeno combate. Quando Levino teve notícias do assédio de Apolônia enviou 2.000 homens sob o comando de Quinto Névio Crista para que auxiliasse a cidade. Crista capturou o exército de Filipe e rodeou o seu acampamento. Filipe escapou com os seus barcos e regressou para Macedônia, deixando uma boa parte da sua frota e dos seus homens, que foram assassinados ou feitos prisioneiros, e os barcos queimados.
Uma embarcação do tipo lembo.
Após a invasão frustrada da Ilíria por via marítima, a frota de Levino fundeada no mar Adriático fazia um bloqueio romano à região. Filipe passou os dois anos seguintes (213 - 212 a.C.) realizando incursões na Ilíria por via terrestre com êxito. Guardando a costa, Filipe tomou as populações das cidades de Atintânia e Dimales e subjugou as tribos ilíricas dos dassaretas, dos partinos e dos ardieus do sul. Filipe capturou a cidadela de Acrolisso, uma cidadela considerada inexpugnável, e a estratégica cidade de Lisso (atual Lezha na Albânia) se rendeu em 212 a.C. A captura desta população fez com que os territórios adjacentes da zona se rendessem sem dilação. A captura de Lisso reavivou as esperanças do monarca de conquistar a Itália. Contudo, a perda da frota macedônica tornara esta conquista quase inviável, embora a investida de Filipe na Ilíria fez com que Roma receasse o poder da Macedônia. Nesse mesmo ano nasceu Perseu, filho de Filipe com Policrácia.
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Moeda de Filipe V com a efígie do herói grego Perseu cujo nome deu ao seu filho

A Aliança entre a República Romana e a Liga Etólia
Visando deter a conquista da Ilíria e a aparentemente iminente invasão de Filipe à Itália, os romanos buscaram aliados entre os povos gregos a fim de desestabilizar as fronteiras do rei macedônio e obrigando o monarca a defender-se no seu próprio território. A Liga Etólia surgia como um provável aliado da República. Os etólios tinham feito a paz com os macedônios em Naupacto em 217 a.C. mas, após cinco anos, tinham-se recuperado dos estragos causados pela guerra contra os seus vizinhos e estavam preparados novamente para se levantarem contra os que eram os seus inimigos tradicionais, os macedônios. Em 211 uma assembleia etoliana reuniu-se para negociar com Roma. Levino assinalou a captura de Cápua e Siracusa, anteriormente sob domínio cartaginês, como uma prova da capacidade militar de Roma. Firmou-se então um tratado de aliança entre Roma e a Liga Etólia com o fim de combater conjuntamente aos macedônios. Os etólios dirigiriam as operações por terra, enquanto os romanos o fariam por mar. O tratado estipulava ademais alianças com outras cidades-membros da Liga: Elis, Esparta, Messênia e com o rei Átalo I de Pérgamo na Ásia Menor (que vinculara-se à Liga Etólia) e dois clientes de Roma, os chefes ilírios Pleurato e Escerdilaidas.
King Attalus I Soter of Pergamon. Berlin (Germany). Photo Marco Prins.
Átalo I Sóter, rei de Pérgamo
Após o verão, Levino conquistou a principal cidade da ilha de Zacinto (noroeste da Grécia), exceto sua cidadela, a cidade de Eníadas na Acarnânia e a ilha de Naxos, a qual entrou para a Liga Etólia. Após isto transladou a sua frota a Corfu para passar o Inverno. Ciente da aliança entre Roma e a Liga Etólia, Filipe apressou-se em assegurar sua fronteira norte. Realizou incursões na Ilíria, Orico e Apolônia e tomou a cidade fronteiriça de Sintia na Dardânia. Filipe marchou depressa para sul através da Pelagônia, Lincestis, Botiea e Tempe, onde deixou uma guarnição de 4000 homens, voltou para norte outra vez atacando a tribo dos medos na Trácia e a sua cidade principal, Iamforina, retirando-se depois para Macedônia.
File:Aetolia map.jpg
Acarnânia e Etólia
Ao regressar da Trácia, Filipe recebeu uma petição desesperada dos seus aliados acarnânianos. O estratego (general) etólio Escopas mobilizara ao exército etólico e preparava a invasão da Acarnânia. Desesperados e rodeados, mas prestes a resistirem, os acarnânianos enviaram as suas mulheres, crianças e anciãos para que buscassem refúgio no Épiro e os demais marcharam à fronteira para combater. Após ter notícias da determinação dos acarnânianos, os etólios vacilaram e, ao saberem da chegada do rei macedônico, abandonaram definitivamente a invasão. Após isto, Filipe retirou-se para Pela para passar o inverno. Mas as investidas contra os aliados da Macedônia continuaram. Na primavera de 210 a.C., Levino navegou de novo desde Corfu com a sua frota e com os etólios conquistou a cidade de Anticira na Fócia. Roma escravizou a população e a Liga Etólia apropriou-se do território conquistado.
Dracma com a efígie de Filipe V

REFERÊNCIAS:
http://www.livius.org/phi-php/Filipe/Filipe_v.html
http://fr.wikipedia.org/wiki/Filipe_V_de_Mac%C3%A9doine
http://ca.wikipedia.org/wiki/Apel%C2%B7les_(guardi%C3%A0)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Maced%C3%B4nica#Primeira_Guerra_Maced.C3.B4nica

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