sexta-feira, 22 de outubro de 2010

DEMÉTRIO I POLIORCETES (294 - 288 a.C.) - PARTE II

Rei da Macedônia
Em 298 a.C., o rei Cassandro da Macedônia tinha morrido. Poucas pessoas choraram pelo homem que provocou a Segunda Guerra dos Diádocos, matou a mãe, esposa e filho de Alexandre, o Grande, eliminando assim a casa real macedônica (os Argéadas) e aprisionou a Grécia. Os Antipátridas (descendentes do regente Antípatro) agora governavam o reino da Macedônia. Cassandro foi sucedido pelo seu filho Filipe IV, que morreu dentro de dois meses (de causas naturais). Seus dois irmãos agora dividiam o reino: Antípatro II recebeu a parte oeste e Alexandre V a metade leste (o rio Axios era a fronteira entre os dois reinados). Os dois reis imediatamente começaram a brigar. Antípatro, entendendo que sua mãe, Tessalônica, favorecia a Alexandre para que este governasse sobre todo o reino assassinou-a. Deflagrou-se uma guerra civil. Alexandre V sentiu-se ameaçado e em 294 convidou dois homens para vir em seu auxílio: Demétrio e Pirro, rei do Épiro. Antípatro buscou o apoio do rei Lisímaco da Trácia que era seu sogro e rival de Demétrio. No mesmo ano Pirro invadiu a Macedônia em apoio a Alexandre e restabeleceu o equilíbrio de poder entre os dois irmãos, que superficialmente se reconciliaram. Pirro recebeu em troca de seu apoio algumas regiões ao sul do Épiro que estavam sob o domínio da Macedônia.
Ruínas de Pela, capital da Macedônia 
Demétrio, que não pudera vir antes, partiu do Peloponeso para a Macedônia. A presença de Demétrio, que era um beligerante inveterado, era muito indesejada. Assim, antes de penetrar mais ainda em terras macedônicas, Alexandre correu para encontrá-lo em Dion, onde Demétrio tinha chegado recentemente. Oferecendo seus cumprimentos e agradecimentos, Alexandre informou que seus negócios estavam resolvidos e que não era mais necessário a presença de seu aliado, e convidou-o para jantar. Os dois reis estavam permeados por um clima de desconfiança mútua. Demétrio foi avisado de que seria assassinado durante o banquete. Demétrio deu pouca atenção, mas manteve seus homens (mais numerosos do que os de Alexandre) em alerta. Os homens de Alexandre, percebendo que estavam em menor número, não tentaram nada. Alexandre, alegando problemas de saúde, retirou-se mais cedo. No dia seguinte, Demétrio disse a Alexandre que deveria partir, pois recebera informações que o obrigavam a retirar-se repentinamente. Alexandre ficou muito contente, não só porque Demétrio estava partindo, mas também porque ele o fazia isso por sua própria iniciativa, sem qualquer ofensa de seu anfitrião. Ele propôs a acompanhá-lo até a Tessália. Mas, quando eles chegaram em Larissa, em meio a congratulações mútuas e conspirações latentes, Alexandre acabou por ficar sob os “cuidados” de Demétrio. Temendo alarmar Demétrio, Alexandre não tomou precauções de segurança. Demétrio convidou-o a um banquete e quando se levantou da mesa e saiu Alexandre também se levantou e o seguiu até a porta, onde Demétrio, quando passou, apenas disse aos guardas: "Mate o homem que me segue”, e continuou seu caminho. Alexandre foi imediatamente assassinado por eles, junto com amigos que tentaram resgatá-lo. Um deles disse antes de morrer: “Você foi um dia muito rápido para nós". A noite seguinte foi de desordem e confusão.
Demetrius Poliorcetes I (294-288 aC) Silver Tetradrachm
Efígie de Demétrio I em um tetradracma de prata com a imagem de Poseidon
e a inscrição Basileus Demetriou ("[do] Rei Demétrio")
Ao amanhecer, os macedônios, ainda em estado de alarme e com medo das forças de Demétrio, constataram que nenhuma violência contra a população foi feita. Em vez disso, Demétrio enviou uma mensagem, desejando uma entrevista e uma oportunidade para explicação de suas ações. Os macedônios agora começaram a se sentir bastante confiantes e se prepararam para recebê-lo favoravelmente. Quando ele chegou, os macedônios, que tinham ódio por Antípatro II pelo assassinato de sua mãe, e na ausência de alguém melhor para governá-los, decidiram proclamar Demétrio, rei da Macedônia. Demétrio também tinha a seu favor o ser casado com Fila, filha do regente Antípatro e irmã do rei Cassandro, e tinha um filho em idade suficiente para servir no exército com seu pai, sendo o sucessor natural para o governo. Assim, uma nova dinastia, os Antigônidas, assumia o trono da Macedônia.
Bodyguard Escudo do rei macedónio
Reprodução do escudo dos guarda-costas do rei Demétrio I Poliorcetes
Antípatro, sem apoio, fugiu para seu sogro e reivindicava uma intervenção dele. Lisímaco, que enfrentava problemas em seu reino, não pode intervir e fez um acordo com Demétrio com o qual ficava com os territórios macedônicos de Antípatro que por fim foi morto por Lisímaco em 292 a.C. Demétrio I fundou uma nova capital para seu reino (que incluía a Macedônia e o Peloponeso) chamada Demetrias. A cidade foi fundada em 294 e para povoá-la ele trouxe pessoas de Nelia, Pagases, Ormenion, Rizos, Sépia, Olizon, Boebe e Iolco, que formaram seu território. A cidade foi a principal residência dos reis da Macedônia devido a sua localização estratégica, clima ameno (fresco no verão e sem neve no inverno) e a riqueza do meio ambiente que desde a provia desde alimentos a madeiras e outros elementos necessários.
Ruínas de um teatro em Demetrias, Grécia


Demétrio contra Pirro
Demétrio consolidou-se na Europa, mas acabou por perder suas posições na Ásia que foram imediatamente apreendidas por Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu. O primeiro tomou as cidades na costa oeste da Ásia Menor, o segundo tomou grande parte da Cilícia, e o terceiro uma zona ocupada de Chipre, Lícia e o leste da Cilícia (291-287). Demétrio focalizou suas conquistas nas partes restantes da Grécia. As únicas partes que não dominava eram Esparta no sul e a Etólia no oeste. Desde antes do falecimento de sua esposa epirota Deidamia (c. 300 a.C.), Demétrio e seu cunhado Pirro I do Épiro, antes tão amigos já não se entendiam. As suspeitas e desafetos aumentaram após a morte da irmã de Pirro. Entre dois inimigos poderosos e de espíritos beligerantes como Demétrio e Pirro, ciúme e disputas logo eclodiram. Eles cobiçavam os domínios um do outro, e os antigos amigos se tornaram inimigos mortais.
Localização de Demetrias, a nova capital da Macedônia
Demétrio teve de lidar com revoltas na Tessália e Beócia, e havia fortes indícios de que Pirro estava envolvido. A guerra eclodiu em 291. Durante este ano, Tebas se rebelou contra Demétrio, pela segunda vez, provavelmente instigada por Pirro. Enquanto o rei macedônio estava indo pessoalmente para dominar a rebelião, Pirro invadiu a Tessália, mas foi forçado a se retirar ao Épiro ante às forças superiores de Demétrio. Em 290, Tebas capitulou deixando Demétrio livre para enfrentar Pirro e seus aliados da Etólia. Demétrio invadiu a Etólia na primavera de 289 e depois de varrer seus campos praticamente sem oposição, marchou para o Épiro, deixando Pantauco no comando da Etólia com um destacamento poderoso.
Pirro I do Épiro
 Pirro avançou para interceptá-lo, mas por um caminho diferente, de modo que Demétrio entrou Épiro e Pirro na Etólia praticamente ao mesmo tempo. Pantauco imediatamente enfrentou as forças de Pirro e desafiou o rei epirota para um duelo. O desafio foi imediatamente aceito pelo jovem rei que derrubou Pantauco e poderia tê-lo matado se não tivesse sido resgatado por seus amigos. Os macedônios, desanimados com a queda de seu líder, fugiram sendo perseguidos pelos epirotas que estavam admirados da bravura de seu rei e os movimentos ousados e impetuosos do rei do Épiro lembraram aos veteranos do exército macedônio o seu mais querido rei, Alexandre Magno. Demétrio não encontrou nenhuma oposição no Épiro, e durante a expedição conquistou a ilha de Corcira. Lanassa, esposa de Pirro, indignada que este dava mais atenção as suas outras esposas, havia se retirado para a ilha de Corcira e se oferecido em casamento a Demétrio I bem como lhe entregou a ilha de Corcira. Demétrio aceitou o convite e o dote. Pirro retornou para o Épiro mais irritado do que nunca contra Demétrio, que havia se retirado para a Macedônia. No início de 288 a.C. Pirro aproveitou que Demétrio se encontrava gravemente enfermo para invadir a Macedônia. Pirro avançou até Pela, a antiga capital, mas Demétrio conseguiu superar a sua doença e colocou-se à frente de suas tropas para expulsar o rival para fora do país sem grandes dificuldades. No entanto, como seus antigos rivais na Ásia se organizavam para combatê-lo, Demétrio se apressou a fazer as pazes com Pirro para preparar-se sem ser perturbado em sua retaguarda. Demétrio e Pirro selam uma aliança, mas o Epirota foi o vencedor moral.
Os reinos helenísticos em 289 a.C.

A Revolta Macedônica
A derrota na Etólia e a invasão que se seguiu foram golpes pesados no prestígio macedônio. Afinal, desde os dias do rei Filipe II, os exércitos macedônicos quase nunca foram derrotados. Embora o reino de Demétrio fosse menor que o de Lisímaco, Ptolomeu e Seleuco, ele era o mais forte dos quatro monarcas: seu exército era muito grande e sua marinha era mais forte. Além disso, ele poderia contar com os gregos. Como de costume, o seu poder provocou resistência, e seus três concorrentes se aliaram contra Demétrio e decidiram atacá-lo, para prevenir um ataque iniciado por ele. Ptolomeu mandaria sua marinha no Mar Egeu, e Lisímaco invadia a Macedônia juntamente com Pirro. Seleuco, cujos territórios que não faziam fronteira com os de Demétrio, deu apoio moral. Pirro do Épiro foi facilmente persuadido a quebrar sua recente aliança com Demétrio e juntar-se à coalizão. Assim, na primavera de 288 Ptolomeu apareceu com uma poderosa frota na costa grega; Lisímaco invadiu as províncias superiores e Pirro as inferiores da Macedônia ao mesmo tempo. Demétrio, que deixara seu filho Antígono II Gônatas como regente da Grécia, foi primeiro contra Lisímaco, mas alarmado com o desânimo de seu exército e temendo que este passasse para o lado de Lisímaco, um dos generais veteranos e companheiro de Alexandre Magno, desfez rapidamente os seus passos e se dirigiu para o exército de Pirro, que tinha avançado para Berea e estabelecido seu quartel-general lá. Neste momento, os macedônios se rebelaram contra seu rei (288). 
Moeda com a efígie de Demétrio I Poliorcetes
Não é exatamente claro o porquê, mas possivelmente eles teriam ficado chocados com o estilo oriental da corte de Demétrio e o recrutamento forçado, que deve ter sido uma decepção, já que isso não ocorrera nos últimos anos de Cassandro. Além disso, Pirro era um adversário tão formidável quanto Lisímaco: a indulgência com que tratava seus prisioneiros, a sua condescendência e afabilidade para os habitantes de Berea, fez com que ganhasse a boa vontade do povo macedônio. Assim, quando Demétrio estava se aproximando, suas tropas desertaram em massa e juraram fidelidade a Pirro. Demétrio foi forçado a fugir disfarçado, deixando o reino ao seu rival. Pirro foi incapaz de qualquer forma a garantir o controle de toda a Macedônia: Lisímaco reclamou a sua parte e o reino foi dividido entre eles sendo a fronteira entre os dois reinos o rio Axios. Fila, a primeira esposa de Demétrio, filha do antigo general e regente Antípatro e irmã do rei Cassandro, chocou-se de tal forma com a revolta dos macedônios contra Demétrio que, estando em Cassandreia, suicidou-se.

Guerra na Ásia
Demétrio sabia que perderia seu reino se ele ficasse na Macedônia. Por isso, ele instalou seu filho Antígono II Gônatas como governador da Grécia, e decidiu lançar um ataque maciço no Oriente. Foi uma jogada desesperada, mas ele esperava derrotar as tropas de Lisímaco na Ásia Menor, o que o forçaria a olhar para o oriente, em vez da Macedônia. Se Demétrio também derrotasse a Seleuco, ele poderia aliançar-se com as satrápias orientais, reunir as tropas, e voltar com uma grande força. Durante a Segunda Guerra dos Diádocos (318-315 a.C.), Eumenes de Cárdia tinha feito o mesmo e causou grandes problemas para o pai de Demétrio, Antígono I. A primeira fase desta campanha foi um sucesso: Demétrio expulsou a frota de Ptolomeu para fora do Mar Egeu e desembarcou sem oposição na Ásia, onde ele capturou cidades importantes, como Mileto e Sardes (287). Em Mileto, Demétrio casou-se com Ptolemaida, filha de Ptolomeu, que lhe fora prometida por intermédio de Seleuco antes do conflito. Ela estava sob a custódia de Eurídice, uma irmã de Fila. Apesar dos sucessos iniciais, Agátocles, filho e general de Lisímaco, dificultava suas manobras e fazia-lhe uma marcação cerrada. Para piorar a situação, a fome e a peste destruiu a maior parte do exército de Demétrio que chegara em Tarso na Cilícia que pertencia ao domínios de Seleuco, seu genro. Demétrio solicitou apoio e suprimentos de Seleuco que inicialmente o atendeu, mas aconselhado por seus ministros que temiam a beligerância de Demétrio, Seleuco marchou com um exército para a Cilícia. Tal movimento alarmou Demétrio que buscou negociar com Seleuco a manutenção de um pequeno reino entre os bárbaros e não ser entregue a seus inimigos. Seleuco disse que em troca de reféns, Demétrio poderia passar algum tempo na Cataônia.
Demétrio I Poliorcetes
Últimos Anos
Acossado por todos os lados, Demétrio resolve partir para a Síria e enfrentar Seleuco. Não obstante o ânimo renovado de seus guerreiros, Demétrio adoeceu gravemente (já tinha cerca de 50 anos vividos sob guerras e extravagâncias). Alguns de seus soldados se dispersaram e outros desertaram para Seleuco. Mas, o Poliorcetes recuperou-se e deixou a Cicília saqueando a região de Cirréstica. Por fim os dois exércitos se enfrentaram. Seleuco conseguiu a deserção dos mercenários do exército de Demétrio. Com essa reviravolta, Demétrio e uns poucos amigos fugiram para o passo de Amano e embrenharam-se numa densa floresta visando alcançar o litoral e a frota de Demétrio. No entanto, dadas as dificuldades em prosseguir até o litoral, sugeriram a Demétrio que se rendesse a Seleuco. O rei, indignado, desembainhou a espada e ia suicidar-se, mas foi detido por seus amigos que o convenceram a entregar-se a Seleuco. Demétrio foi recebido regiamente por Seleuco a tal ponto que se pensou que Demétrio fosse ocupar um cargo importante na corte do rei. Isso provocou o ciúme de Seleuco que por fim manteve seu sogro no Quersoneso sírio como um prisioneiro de luxo, com regalias e permissão de visita de seus amigos.
Demétrio I Poliorcetes
Não obstante promessas de liberdade por Seleuco, Demétrio comunicou-se com seu filho Antígono Gônotas informando de sua situação e que não acreditasse em cartas pretensamente suas, mas que o considerasse como morto. Antígono e outros líderes helenísticos solicitaram a Seleuco a libertação de Demétrio; Lisímaco, porém, prometeu dinheiro a Seleuco se esse o matasse, o que não foi aceito. Demétrio ficou sob a guarda de Antíoco, filho de Seleuco, e de sua filha Estratonice. Conformado com sua sorte, Poliorcetes entregou-se a bebedeira e jogos visando amenizar seu infortúnio. E assim vivendo por três anos, o beligerante e temido assediador de cidades, adoeceu e morreu em meio ao ócio e a embriaguez em 283 a.C. Seus restos mortais foram entregues a Antígono Gônotas e Demétrio foi honrado com um funeral esplêndido em Corinto e sepultado em Demetrias na Macedônia.

REFERÊNCIAS
http://en.wikipedia.org/wiki/Demétrio_I_of_Macedon
http://www.livius.org/di-dn/diadochi/diadochi_t21.html
http://www.livius.org/di-dn/diadochi/diadochi_t04.html
http://www.historyofwar.org/articles/wars_cyprus306.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Siege_of_Rhodes
www.mlahanas.de/Greece/Cities/Rhodes.html
http://www.mlahanas.de/Greeks/war/Helepolis.htm
http://www.livius.org/ha-hd/halos/halos.html
http://es.wikipedia.org/wiki/Demetrias
http://www.livius.org/di-dn/diadochi/diadochi_t18.html
http://www.ancientsculpturegallery.com/shields.html
http://osreisdoepiro.blogspot.com/2010/04/pirro-i-segundo-reinado-297-272-ac_09.html
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Demetrius*.html
http://www.ancientsculpturegallery.com

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