terça-feira, 3 de agosto de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE VII

Estátua de bronze de Alexandre Magno e seu
 famoso cavalo Bucéfalo (século III a.C.)

Perseguição na Média
Não tendo obtido o total apoio dos aristocratas persas, Alexandre e seu exército foram obrigados a marchar para Ecbátana, a capital da Média, ao norte do Império Aquemênida, onde Dario III estava. Este foi o pesadelo do alto comando macedônio: a procura de um inimigo que certamente se deslocaria para a parte oriental do Império Aquemênida. A menos que Dario se mantivesse firme em Ecbátana, o exército macedônio seria forçado a segui-lo para países desconhecidos, enfrentando perigos desconhecidos. Ainda que Dario fosse capturado ou morto, Alexandre e seus homens corriam o perigo de uma desastrosa campanha no Oriente. Mas, o Macedônio não se intimidou com tais desafios. Após organizar o antigo país dos persas na satrápia de Persis, em maio, Alexandre e seu exército marcharam para o noroeste e em junho chegaram em Ecbátana. Abaixo, ilustração da temível falange macedônica em marcha.
Porém, Dario não estava mais lá. Há apenas dois dias ele tinha ido para o leste. É interessante notar que Dario tinha ficado em Ecbátana durante o inverno, o que indica que ele ainda tinha esperanças de se reerguer; poderia reconquistar Assíria e Babilônia e cortar o abastecimento das linhas macedônicas enquanto Alexandre permanecia em Persépolis. De fato, durante a sua marcha para Ecbátana, em Gabae (atual Isfahan no Irã) os macedônios receberam a notícia de que Dario certamente receberia tropas e estava preparado para enfrentar mais uma batalha, mas parece que os novos soldados chegaram tarde demais. De agora em diante, Dario III, o rei dos reis, já não estava lutando apenas para recuperar seu império, mas também por sua  própria sobrevivência. Além disso, o apoiadores de Dario estavam oscilando. Houve divisões no seio da família real: um príncipe chamado Bistanes, o filho de Artaxerxes III Oco, portanto tio de Dario, entregou Ecbátana aos macedônios sem resistência. Alexandre continuou a sua política de atrair os nobres persas para longe de seu oponente: o persa Atropates foi recebido como um importante membro da corte e mais tarde nomeado sátrapa da Média. O Rei Dario levou consigo o tesouro da Ecbátana e viajava lentamente. Ele chegou a Rages (Rhagae, perto da atual Teerã), o mais importante centro religioso do zoroastrismo, a religião oficial dos persas. Possivelmente, Dario pode ter querido sacrificar ao fogo sagrado, mas foi incapaz de parar: se a Pérsia e sua religião tivessem que ter um futuro, ele teria que chegar nas satrápias orientais o mais rápido possível e recrutar um exército. Seu rumo parecia ser a satrápia da Báctria.Abaixo, localidades da perseguição de Alexandre a Dario na Pérsia e na Média.


Descontentamento
Após onze dias de marchas forçadas, Alexandre chegou a Rages onde foi obrigado a permanecer por algum tempo devido ao cansaço das tropas. Embora sempre estimado por seus soldados, a obsessão de Alexandre pela captura de Dario, sua marcha para o perigoso Oriente, sua adoção de hábitos da corte aquemênida e dos favores que concedia aos persas geraram sempre descontentamentos. Alexandre convocou uma assembléia com seus soldados onde renovou entre eles sua liderança, porém sua popularidade entre seus mais antigos colegas de armas estava declinando. O Macedônio considerava-se muito próximo de seu objetivo para se deter com o descontentamento de seus soldados. Deixou o velho general Parmênion, cujo constante questionamento já o vinha irritando, em Ecbátana e marchou em sua busca por Dario. Na imagem acima, o ator John Kavanag como Parmênion em Alexandre.

Traição
Dario, que estava acampado a leste dos desfiladeiros do mar Cáspio, declarou a seus homens que estava disposto a enfrentar o Macedônio em mais uma batalha. Uma minoria ainda estava disposta a seguir o Grande Rei, mas a maioria lhe resistiu. Para Besso, sátrapa de Bactriana, Nabárzanes, comandante da Guarda Real, e Barsaentes, o sátrapa de Aracósia e Drangiana, a situação era clara: se eles se mantivessem fiéis ao seu rei, os macedônios invadiriam as satrápias orientais. Por outro lado, se Dario fosse preso e entregue aos invasores, não haveria guerra, porque era pouco provável que os macedônios estivessem interessados em países desconhecidos, onde eles seriam forçados a lutar batalhas imprevisíveis. Nabárzanes sugeriu a Dario que passasse a autoridade real temporariamente para Besso, que tinha grande prestígio nas províncias orientais. Parece que o plano já estava traçado desde a derrota em Gaugamela. Dario respondeu puxando seu punhal e Nabárzanes fugiu seguido por Besso e seus homens bactrianos. Aconselhado por seu fiel ministro Artabazo, Dario perdoou os sediciosos (até porque eles tinham a maioria dos homens) que hipocritamente se reconciliaram com o Rei. Dario e seu grupo rumaram para a aldeia de Tara perto de Hecatômpilo, capital da Pártia. Abaixo, representação de Dario III Codomano no mosaico de Pompéia.
 O comandante dos mercenários gregos, pressentindo a traição no ar, aconselhou Dario a colocar-se sobre a proteção da tropa grega. Mas Besso agiu rapidamente e cercou a tenda do rei com seus homens da Báctria. Durante a noite Besso, Nabárzanes e Barsaentes junto com outros entraram na tenda do rei e prenderam-no arrastando-o ao carro no qual pretendiam levá-lo à Báctria e oferecê-lo a Alexandre. O ocorrido causou confusão no acampamento: uns debandaram; outros seguiram a contragosto os bactrianos para o leste; Artabazo e seu filho, fiéis a Dario, seguiram com os mercenários gregos para o norte. Artabelos e Bagistane resolveram se entregar a Alexandre. O sátrapa da Báctria era o homem mais importante do Império Aquemênida depois do rei. Um príncipe herdeiro governaria a Báctria por dois anos e um rei sem filhos ou sem filhos maiores iria nomear seu irmão como governador nesta satrápia. O atual governador da Báctria, Besso, destacado guerreiro que lutara em Gaugamela, deve ter sido parente e muito íntimo do rei Dario, pois este deve ter pensado que ele estaria seguro quando chegasse ao território de Besso. Ainda com prestígio diante dos homens mais orientais do Império, Besso resolve se proclamar o novo Grande Rei e adota o título de Artaxerxes (V). Ao que parece, o plano dos conspiradores era barganhar o domínio das satrápias orientais com o Alexandre em troca da vida de Dario III.

O Último Aquemênida
Em sua marcha Alexandre e seus homens encontram a Artabelos e Bagistane que lhes informam do ocorrido. Evidentemente, se Besso não matara Dario, é que ele o queria como uma moeda de troca. Nessa situação, Alexandre tem que escolher que caminho tomar:
a) Se aceitasse que Besso lhe entregasse Dario, Alexandre teria que deixar de lado as satrápias orientais que sempre consistiriam em um perigo para os domínios de Alexandre, principalmente se ele executasse Dario. Se poupasse a vida de Dario, Alexandre poderia ter certa lealdade dos persas, mas sempre com o perigo de insurreição em nome do Grande Rei;
b)Se não aceitasse, Besso poderia matar Dario e, já que reivindicara o trono real como Artaxerxes V, iria sustentar uma guerra contra Alexandre a partir das satrápias orientais. No entanto, a execução de Dario por Besso daria a Alexandre a oportunidade de aparecer ante os persas como o vingador de seu rei morto. Se derrotasse Besso e seus sequazes, Alexandre contaria com maior favor dos persas e seu domínio teria maior consolidação.
 Não se pode afirmar com certeza o que se passou na cabeça de Alexandre, mas o Macedônio resolve apressar ainda mais a sua marcha. Abaixo, moeda com a efígie de Dario III.
Tendo notícias do paradeiro de Besso, Alexandre resolve pegar um difícil atalho pelo deserto com seus homens mais capacitados (dos quais muitos morreram no deserto). Ele não deu a Besso uma chance para abrir as negociações e enviou Átalo e Nicanor, filho de Parmênion, a frente para perseguir os persas. Na região de Choara, com a chegada dos homens de Alexandre, Besso e seus companheiros entraram em pânico, e junto com Barsaentes, traspassam a Dario (que se recusara a fugir a cavalo) com um dardo e fogem.  Um soldado macedônio, Polístrato, encontrou  Dario moribundo. Ofereceu-lhe água, ao que o Grande Rei lamentou não poder retribuir, e depois Dario estendeu a mão direita ao soldado e pediu que ele repassasse o aperto de mão a Alexandre, o que, entre os persas, era um gesto de boa vontade. Logo em seguida Dario morreu. Isso aconteceu em julho de 330, perto da atual Danghâ. O incidente é mencionado no contemporâneo tablete babilônico conhecido como Crônica de Alexandre. Abaixo, ilustração de Alexandre Magno encontrando o corpo de Dario III Codomano.

Alexandre lamentou o regicídio e estendeu seu manto real sobre o Grande Rei e enviou seu corpo para sua mãe, Sisigâmbis, em Persépolis onde Dario recebeu um funeral com todas as honrarias. Cogita-se que foi sepultado no túmulo de Artaxerxes III Oco (358 – 343 a.C.) em Naqš-i Rustam onde estavam sepultados os reis aquemênidas. Se Dario III Codomano não teve a sorte e a grandeza de seus antepassados, não se pode esquecer que ele fez tudo o que pode para salvar o reino de seus ancestrais. Não foi detido pelo exército inimigo, mas por seus próprios cortesãos por meio da traição e assassinato. Por mais que morte de Dario III lhe fosse propícia, pelo conjunto das fontes antigas sobre Alexandre Magno se depreende que ainda que se ele mesmo pudesse ter matado Dario III ele jamais aprovaria a traição de Besso.

A Nova Caçada
A vanguarda do exército macedônio estava agora em Hecatômpilos na Pártia. O desejo de Alexandre de caçar Besso nas terras orientais desanimava seus homens. Alexandre já atingira o objetivo da expedição: libertar os gregos da Ásia Menor e punir os persas por sua invasão à Grécia no século V a.C. Esse objetivo já fora alcançado e Alexandre dominava o berço das mais antigas civilizações do Oriente Médio e seus recursos. Os planos de continuar a guerra devem ter vindo como uma surpresa grande. Apenas algumas semanas atrás, Alexandre tinha enviado uma parte de seu exército de volta para a Grécia. Os macedônios haviam deixado o mundo mediterrâneo que eles conheciam bem e marcharam através das regiões das quais, pelo menos, eles tinham algum conhecimento.  Abaixo, bustos de Alexandre Magno.
Agora eles estavam prestes a entrar em um país verdadeiramente desconhecido a não ser por apenas uma coisa: que esse era habitado por formidáveis arqueiros montados a cavalo. Não obstante, eles aderiram à causa de Alexandre. Os oficiais devem ter compreendido que a guerra oriental era necessária para obter tranquilidade no Ocidente; Alexandre precisava do apoio dos aristocratas persas e já tinha decidido que a única maneira de obtê-lo era se tornando seu rei, o que significava, entre outras coisas, vingar a morte de Dario III. Além disso, ele não poderia pretender ser o sucessor dos reis persas se não tivesse controle da Báctria, que era uma das satrápias mais importantes do antigo império. Abaixo, Alexandre discursa a seus homens antes da batalha de Isso por A. Castaigne. Por muitas vezes o Macedônio teve usar da palavra para convencer seus homens a segui-lo em suas empreitadas.
O poder de Besso que agora usava o nome real de Artaxerxes V era sustentado pelos arqueiros montados da Báctria e de Sogdiana, satrápias que são mais ou menos situadas ao norte dos atuais Afeganistão e Uzbequistão. Estes guerreiros eram rápidos e poderiam atacar em qualquer lugar que eles quisessem e isso forçou os macedônios invadir a Hircânia, a região do sudeste do Mar Cáspio. Não era uma grande satrápia, apesar de recursos em madeira,  mas se ela caísse nas mãos de Besso, isso lhe daria uma chance para atacar as linhas de comunicação de Alexandre quando os macedônios estivessem se movendo para as satrápias orientais. Os sátrapas Nabárzanes e Frataferne, que participaram da traição de Besso também estavam na Hircânia.

REFERÊNCIAS:
http://osaquemenidas.blogspot.com/2010/03/dario-iii-336-330-ac-parte-ii.html
http://www.livius.org/aj-al/Alexandre/Alexandre09.html
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tewmpos, vol. 4: Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988.
http://www.gaugamela.com/
http://marsfigures.com/cataloge/737731101_37.jpg

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