sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

ANTÍGONO III DÓSON (229 – 221 a.C.)

Antígono III Dóson (?-221 a.C.) foi rei da Macedônia, primo e sucessor do rei Demétrio II Etólico. Foi apelido de Δώσων (dóson), particípio futuro do verbo 'dar' em grego: Aquele que dará. Segundo Plutarco ele recebeu esse apelido, pois ainda que tivesse a disposição de dar, não a tinha para fazê-lo, o que indica que ele não cumpria suas promessas, mas tal interpretação dificilmente pode estar correta, já que, uma vez em uma posição de autoridade, ele é a usou de forma mais sensata e eficaz do que qualquer dos seus antecessores antigônidas. Possivelmente o sentido primeiro de dóson era “aquele que dará [restituirá o poder]” já que ele era regente do príncipe Filipe V. O historiador Políbio fala favoravelmente do seu caráter e louva-o por sua sabedoria e moderação.
Inscrição mencionando Antígono Dóson no Museu de Tessalônica, Grécia
Origens
Antígono era filho do príncipe macedônio Demétrio, o Belo, e de Olímpia de Larissa. Seu pai era filho do rei macedônio Demétrio I Poliorcetes com a princesa egípcia Ptolemais. Sua mãe era filha de um nobre grego chamado Policleto de Larissa. Na Cirenaica, reino de origem grega que ficava na Líbia, África, a rainha Apame II buscou aliançar-se com a Macedônia para fortalecer-se contra o Egito e convidou o príncipe Demétrio, o Belo, para casar-se com sua filha Berenice II e juntos reinarem em Cirene. Demétrio, que possivelmente já era casado com Olímpia, deixou sua primeira esposa e seu filho Antígono para casar-se com alguém politicamente mais importante. Porém, o reino de Demétrio foi curto: em cerca de um ano ele envolveu-se com a própria sogra e foi assassinado por Berenice (c. 250 a.C.). Enquanto isso na Macedônia, Antígono crescia à sombra de seu primo Demétrio II Etólico.
Localização de Cirene
O Regente
Em 229 a.C. o rei Demétrio II Etólico morreu em batalha contra os invasores dardânios. A nobreza macedônica chamou Antígono Dóson como epítropos (regente, guardião) e tutor do príncipe herdeiro Filipe V que tinha cerca de nove anos. Presumivelmente ele era único parente adulto sobrevivente da criança do sexo masculino. Para maior estabilidade do reino, Dóson casou-se com a rainha-viúva, Ftia, e adotou Filipe como seu filho. Ao contrário de seus predecessores, não há evidência de que Dóson era um usurpador com fome de poder. Em vez disso, as fontes evidenciam que Dóson foi alçado à uma posição de autoridade porque demonstrou habilidades de liderança onde seu primo Demétrio tinha falhado expulsando os invasores dardânios. Ele, porém, herdou a Guerra Demetriana, contra a coalizão da Liga Aqueia e a Liga Etólia, que são apoiadas pelo rei Ptolomeu III Euergetes do Egito.
As Ligas Etólia e Aqueia
O Rei
Em 227 Dóson foi persuadido por outros líderes da Macedônia para reclamar o trono para si mesmo já que era casado com a rainha Ftia. Aparentemente, tanto o exército macedônio e nobreza pensaram que a situação política era instável demais (ameaças das tribos ilírias ao norte dos gregos ao sul) para esperar por Filipe V atingir a maturidade suficiente para assumir o comando. Tempos de crise política e incerteza sempre demandam uma liderança experiente. E nesta crise Antígono Dóson foi escolha unânime da Macedônia. Ao contrário de seus antepassados antigônidas, ele não tinha rival viável para contestar o seu direito de governar. No entanto, mesmo como rei, ele aparentemente imaginou a si mesmo como zelador do trono para o filho de seu primo, Filipe V. Dóson nunca foi acusado de tentar fazer seus próprios filhos herdeiros do trono da Macedônia. Antígono interveio primeiro na Tessália para impedir a adesão das cidades da região para o lado dos etólios assegurando o domínio macedônico. Porém, mais ao sul a Liga da Beócia e a Liga da Fócida se aliaram à Liga dos aqueus, e Atenas, negocia a rendição das guarnições de Pireu, Muniquias, Salamina e do cabo Súnion. Ainda em 227, aproveitando a guerra civil no Império Selêucida entre o rei Seleuco II Calínico e seu irmão Antíoco Hieráx, Antígono intervém na Cária, no Golfo do Iasos, e estende a sua influência sobre Priene e Samos com a ajuda de Olímpico, dinasta de Alinda. Provavelmente sua intenção era fazer frente ao poder naval de Ptolomeu e, eventualmente, assumir o controle dos estreitos marítimos. Em seu governo Antígono III utilizou-se tanto da diplomacia tática quanto de estratégia militar. Em menos de uma década de governo ele não só garantiu as fronteiras de seu país como também o restabeleceu como a potência dominante na região. Ele evitou o domínio direto sobre os seus vizinhos que ferozmente defendiam sua independência e formou alianças com o Épiro e a Liga Aqueia. 
A região da Cária

A Guerra Cleomeneana
Em 229 a.C. o rei de Esparta Cleômenes III conquista várias cidades da Arcádia e uma disputa entre Esparta e Megalópolis, cidade-membro da Liga Aqueia, faz com aqueus e espartanos iniciem hostilidades. Cleômenes é apoiado financeiramente por Ptolomeu III. O rei do Egito outrora apoiava a Liga Aqueia, mas agora apoiava Esparta pois via nela um melhor aliado contra a Macedônia do que os aqueus. Quando Ptolomeu III se ofereceu para ajudar Cleômenes exigiu como garantia  que esse entregasse a sua mãe e e seus filhos crianças como reféns; o rei espartano hesitou. No entanto, sua mãe soube da oferta de Ptolomeu e voluntariamente partiu Egito assegurando o apoio de Ptolomeu. Em 227 Megalópolis envia embaixadores a Antígono III solicitando sua ajuda contra Esparta, mas nesse momento o rei macedônio não tem interesse de ajudar. Arato queria que o rei da Macedônia enfrentasse o rei de Esparta em troca da posse de Acrocorinto, mas os aqueus acharam essa troca inviável.
Ptolomeu III


 Porém, em 226, a Liga Aqueia é terrivelmente derrotada por Esparta. Desmoralizada com a derrota, a Liga aceita a renúncia de Arato como comandante e quando Atenas e a Liga Etólia recusam-se a ajudá-la, ela entre em negociações de paz com Cleômenes. Como já havia um negociamento diplomático entre Arato e Antígono desde 226, agora, em 224, Arato solicita novamente a intervenção do rei macedônio quando Esparta já tinha tomado o controle de Corinto, Argos, Flio e ameaça Sicião. A Liga Aqueia elege Antígono como seu hegemon (comandante) e envia reféns a Pela, capital macedônica, como garantia e aceita alimentar e pagar o exército macedônio no primeiro ano do pacto e que se abstenham de se aproximar de qualquer outro reino, sem a permissão de Antígono. O preço da aliança com a Macedônia é muito alto e indica como estava difícil a situação dos aqueus frente os espartanos. 

A map of Greece. That northern half of Greece is occupied by the new Aetolian League and the southern territories under the control of Macedcon, while the south is occupied by Sparta, the Achaean League and several smaller states.
A Grécia durante a Guerra Cleomeneana
A Liga Etólia permanece neutra, mas se recusa a dar passagem nas Termópilas a Antígono que a tem que transferir suas tropas por mar através de Eubeia. Sabendo do avanço macedônico, Cleômenes abandona o assédio a Sicião e faz uma vala desde Acrocorinto até  o istimo de Corinto com a intenção de evitar um ataque frontal com a falange macedônica. O exército macedônio não pode forçar a passagem de Corinto contra os espartanos. Apesar de inúmeras tentativas de passar através da linha defensiva e chegar a Lequeo, o porto de Corinto, as forças de Antígono não o conseguiram e sofreram baixas consideráveis. Mas com a eclosão de uma revolta antiespartana em Argos, Cleômenes é forçado a se retirar de Corinto que é tomada por Antígono que também apoiara a revolta de Argos enviando 1500 homens.

Cleômenes resgata seus homens que ainda estavam em Argos e regressa a Esparta ao saber da morte de sua esposa. O exército macedônio avança sobre a Arcádia desfazendo as guarnições espartanas das cidades de Orcomenos e Mantineia. Na cidade de Egio, Antígono III é confirmado comandante das forças aliadas. Esta ofensiva macedônica de 224 é particularmente significativa: é a primeira campanha de um exército composto de macedônios desde o reinado de Poliorcetes e seus soldados são comparáveis aos que estavam sob o comando de Alexandre III, o Grande, quando invadiu o Império Persa em 334 a.C. Em relação ao de Esparta, o exército macedônio, era maior e melhor equipado.
A temível falange macedônica

A Liga das Ligas
Na cidade de Égio Antígono reuniu seus aliados em uma symmachia (aliança) que compreendia os aqueus, beócios, fócios, acarnânios, epirotas e tessálios: cada povo elege os representantes para o Conselho da aliança cujo hegemon é Antígono: ele é o comandante-em-chefe das tropas e pode convocar qualquer aliado. Essa nova aliança é chamada de Liga das ligas. O Conselho tem jurisdição sobre a admissão de novos membros e sobre outras questões, mas cada Estado aliado se reserva o direito de decidir sobre guerra e paz. A criação do Conselho dos Aliados rompeu com a política macedônia anterior de um governo direto praticado desde o início do século III a.C. Assim não havia guarnições macedônias em outros países e tributos sendo mantida a integridade territorial e independência política. A novidade em relação às coalizões anteriores de 337, 318 e 302, é que a Macedônia é neste momento um Estado-Membro, assim como os outros. Porém, como Antígono detém a liderança da Liga, a Macedônia aumenta seu poder e influência.
Templo de Atena em Tegea

No início da primavera de 223 a.C., Antígono marchou contra Tegea. Aí os aqueus se juntaram a ele e, conjuntamente sitiaram a cidade. Os tegeatas resistiram durante vários dias antes de serem forçados a se render por causa das máquinas de cerco macedônicas. Após a captura de Tegea, Antígono avançou em direção à Lacônia, região de Esparta, onde descobriu que o exército de Cleômenes o estava esperando. No entanto, quando batedores de Antígono informaram que a guarnição da cidade de Orcomeno estava marchando para encontrar-se com Cleômenes, Antígono levantou acampamento e ordenou uma marcha forçada, e com isso, conseguiu surpreender a cidade e forçá-la a se render. Antígono procedeu à captura Mantine, Hereia e Telpusa limitando a Cleômenes à Lacônia. Então Antígono voltou a Égio, onde entregou um outro relatório sobre as suas operações antes de enviar as tropas macedônicas para casa e passarem lá o inverno.

Cleômenes Contra-Ataca
Para piorar a situação de Esparta, Ptolomeu III retirou o seu apoio financeiro deixando Cleômenes sem dinheiro para pagar seus mercenários. O historiador Peter Green supõe que Antígono havia cedido alguns territórios na Ásia Menor para o Faraó do Egito em troca da retirada do seu apoio financeiro a Esparta. Desesperado por sua necessidade de dinheiro, Cleômenes libertou todos os hilotas (escravos públicos de Esparta) que pudessem pagar cinco minas áticas (equivalente a 500 dracmas) e assim, conseguiu arrecadar 500 talentos de prata. Também forneceu armas de estilo macedônico para 2.000 dos hilotas libertos para confrontar os guerreiros da Macedônia.
Hilotas
Cleômenes soube que Antígono tinha licenciado as suas tropas e só viajava com seus mercenários e se encontrava em Égio. A maioria dos aqueus em idade de empunhar armas morrera nas batalhas do monte Liceu e Ladoceia contra Cleômenes no início da guerra. Tendo diante de si essas condições favoráveis o rei de Esparta guarnece seu exército de provisões para cinco dias e envia suas tropas para Selásia simulando que vai invadir o território de Argos. Porém, de lá ele foi para a terra de Megalópolis e durante a noite seu capitão Panteu conquistou o mais fraco ponto das muralhas enquanto Cleômenes e o resto do exército o seguiam; com a vitória de Panteu sobre os sentinelas da muralha, Cleômenes e os outros espartanos entraram no cidade. Os megapolitanos resistem, mas não conseguem deter os espartanos. Muitos fogem para Messene. Cleômenes os convida a aliarem-se a ele, mas eles se recusam. O rei de Esparta ordena a pilhagem e o incêndio da cidade que queima até o chão. Os espartanos angariaram cerca de 300 talentos com o saque de Megalópolis.
Ruínas de um teatro em Megalópolis
A captura de Megalópolis fez estremecer a Liga Aqueia. Cleômenes se lançou a devastar o território de Argos com seu exército, sabendo que Antígono não oporia resistência devido a sua falta de homens. O rei espartano também calculava que suas ações fizessem com que os argivos perdessem a confiança em Antígono por seu fracasso em defender suas terras. O embate entre as forças inimigas se encaminhava para contornos decisivos. No verão de 222, Antígono convocou suas tropas da Macedônia e estas vieram junto com outras unidades dos Estados aliados. Segundo o historiador Políbio, o exército macedônio tinha 10.000 unidades de infantaria, a maioria armada como as tradicionais falanges, 3.000 peltastas (infantaria ligeira mercenária), 1.200 unidades de cavalaria, 3.000 mercenários, 8.600 aliados gregos e 3.000 soldados aqueus de infantaria, que totalizaram 29.200 homens.
Peltasta
Cleômenes havia fortificado todas as passagens pelas quais se ingressava na Lacônia com barricadas e trincheiras e depois partiu com seu exército de 20.000 homens para a passagem em Selásia. Nesta passagem havia dois morros, Evas e Olimpo. Cleômenes fez seu irmão ficar posicionado em Evas com as tropas aliadas e os espartanos periecos, enquanto ele estava no Olimpo com 6000 hoplitas espartanos e 5000 mercenários.

A Batalha de Selásia
Quando Antígono chegou em Selásia (julho de 222 a.C.) com seu exército, encontrou a passagem bem guardada e decidiu não atacar uma posição tão forte. Em vez disso, ele montou seu acampamento perto Selásia e esperou por vários dias. Enviou exploradores para reconhecer a zona e fingir ataques às tropas de Cleômenes. Não podendo fazer Cleômenes deslocar-se, Antígono decidiu arriscar-se uma batalha frontal contra os espartanos. Antígono colocou suas falanges para confrontar a infantaria lacedemônia que estava em cima de duas colinas. A cavalaria de Antígono formada por macedônios, os aqueus, que eram liderados pelo célebre Filopêmen, beócios e mercenários estava sob o comando de Alexandre e foi disposta em ordem diante da cavalaria inimiga no centro. 
Esquema da batalha de Selásia
A ala direita macedônica na colina de Evas avançou contra os espartanos, mas foi atacada na retaguarda pela infantaria leve do inimigo que foi originalmente posta em ordem com a cavalaria. Acuada, tanto por trás como na frente, a falange de Antígono foi reprimida até que Filopêmen ignorou suas ordens e com seus homens foram ajudar a falange o que forçou as tropas inimigas a se retirarem, garantindo assim a vitória para os macedônios. Após a batalha, Antígono elogiou a iniciativa do jovem Filopêmen. Terrível foi a derrota de Esparta. De acordo com Plutarco, dos 6.000 espartanos , apenas 200 sobreviveram, outros preferiram uma morte honrosa (suicídio) do que a desonra da derrota. Cleômenes e um pequeno contingente da cavalaria conseguiram escapar alertando Esparta da derrota em Salésia e de que não resistisse ao invasor. O rei e seu grupo fugiram para o Egito onde reinava Ptolomeu IV e onde por fim morreu em 219 a.C. após tentar sublevar a população contra o Faraó.
Ptolomeu IV
Antígono marchou triunfante para Esparta que, pela primeira vez na sua orgulhosa história, foi conquistada. Ela fora a cidade-Estado mais poderosa da Grécia e não fora submetida nem por Filipe II nem por Alexandre, o Grande. Não que Antígono fosse mais brilhante ou mais poderoso que esses reis macedônios; é que as circunstâncias eram outras bem como os jogos políticos. Antígono III Dóson era o primeiro conquistador estrangeiro de Esparta, mas tratou a população com generosidade. O rei macedônio ordenou a reversão das reformas introduzidas por Cleômenes, restaurou a presença de éforos (conselho de Esparta que fora abolido) e não obrigou Esparta a aderir à Liga helênica, mas os espartanos, diante de sua precária situação, aderiram à Liga por sua própria escolha. Porém, Antígono não restaurou as antigas dinastias reais. Com a derrota de Cleômenes, não tardou que o poder de Esparta caisse nas mãos de tiranos.
Ruínas de Esparta
A Grécia fora pacificada. Antígono III Dóson era o líder da nova aliança entre os Estados gregos e a Macedônia despontava novamente como a principal potência do mundo grego na Europa. Porém, enquanto Antígono travava sua luta no sul, os ilírios voltaram a invadir a Macedônia. Dóson deixou Esparta em três dias e voltou para a Macedônia, deixando uma guarnição em Acrocorinto e Orcomeno.  Além disso, segundo Plutarco, Antígono estava enfermo e a doença já está avançada tendo o rei desenvolvido um catarro agudo. Ele, contudo, almejando resolver seus conflitos em casa, renovou suas forças e assim, após matar muitos inimigos, ele conquistou uma grande vitória sobre os ilírios. Após a qual bradou: “Ó dia feliz!”. No entanto, enquanto gritava as ordens na batalha um vaso sanguíneo se rompeu. Isso causou hemorragia e febre alta e o rei morreu (221 a.C.). Antígono não estava destinado a ser rei e quando isso aconteceu reinou da melhor maneira que pode e em muita coisa foi melhor que seus predecessores. Quando de sua morte foi sucedido por seu enteado o jovem Filipe V.
Guerreiros ilírios

REFERÊNCIAS:
http://en.wikipedia.org/wiki/Antigonus_III_Doson
http://fr.wikipedia.org/wiki/Antigone_III_Doson
http://www.livius.org/am-ao/antigonus/antigonus_iii_doson.html
http://es.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Cle%C3%B3menes
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Cleomenes*.html
http://www.livius.org/a/greece/thessalonica/museum/thessalonica_antigonos_doson_mus_theski.JPG

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