segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE XII

O Regresso de Alexandre: os itinerários do Rei, de Crátero e Nearco.

Marcha pelo Deserto
Em agosto, Alexandre e três quartos do exército – entre 50.000 a 60.000 homens partiram de Pátala em direção a Carmânia. Durante a marcha, eles construíram um grande depósito de grãos, onde Nearco e o quarto restante (entre 17.000 e 20.000 homens) sob o seu comando poderiam reabastecer-se. Os homens de Alexandre primeiramente derrotaram um povo chamado de oreitanos ("povo da montanha"), a população nativa, e Heféstion, que comandou o comboio de bagagem, foi incumbido de construir uma nova cidade, em Rhambaceia (atual Las Bela) conhecida como Alexandria Oreiton. Leonato foi deixado para trás para defender a região, afinal, Nearco ainda tinha que passar ao longo da costa e o armazenamento de grãos tinha de ser mantido intacto. Enquanto isso, o almirante Nearco ainda estava em Pátala. Mas agora que Alexandre tinha seguido seu caminho, os oreitanos já não estavam com medo de renovar seus ataques. Em 15 de setembro, Nearco foi forçado a deixar a sua base e se rumou para o mar. Abaixo, ilustração da frota macedônica ainda na Índia .
A região em que o exército macedônico entrou nos primeiros dias do mês de outubro era chamada Gedrósia e é mais ou menos equivalente a atual região do Beluquistão no Paquistão. Alexandre sabia que o rei Ciro, o Grande (559-530), fundador do Império Aquemênida, havia perdido um exército no deserto da Gedrósia. É, portanto, de estranhar por que motivo ele decidiu correr o risco de atravessar esse país, especialmente porque geralmente os macedônios tinham excelentes batedores. Segundo Jona Lendering, talvez queria demonstrar que como filho de Zeus ele iria ter sucesso onde Ciro, afinal um mero mortal, tinha falhado. Por outro lado, deve sublinhar-se que Alexandre estava marchando no único período do ano quando essa travessia pela Gedrósia era mais viável, pois as chuvas de monções fizeram a primeira parte do deserto acessíveis, e os que chegassem a Carmânia encontrariam a colheita realizada. Para se beneficiar dessas condições favoráveis, Alexandre e seu contingente tinham que marchar rapidamente por uma terra inóspita. Abaixo, o exército macedônico na travessia do deserto da Gedrósia.
Mesmo sendo o melhor período, a travessia foi um desastre. Por sessenta dias, o exército esteve marchando através do deserto, o calor escaldante e a falta de água causou inúmeras vítimas. Os animais que transportavam a bagagem tiveram de ser sacrificados. Provavelmente, o exército propriamente dito manteve-se relativamente intacto, mas as concubinas dos soldados, os comerciantes e os não combatentes é que parecem ter sofrido terrivelmente de fome e sede. O exército de Alexandre havia sofrido muito, mas, segundo Lendering, as verdadeiras vítimas foram os nativos; especialmente aqueles que viviam na costa foram atacados: em primeiro lugar pelo exército de Alexandre, seguido pela frota Nearco. Abaixo, ilustração do moribundo contingente de Alexandre.

Descanso em Pura
Finalmente, quando os macedônios chegaram à cidade de Pura seus problemas acabaram, embora fatigados e com o efetivo reduzido. Era início de dezembro, e as chuvas de inverno estavam começando. Alexandre tinha enviado mensageiros ao sátrapa de Drangiana (uma das áreas mais férteis no Irã), que tinha enviado suprimentos para Pura.  Abaixo, estátua representando Alexandre Magno.
Durante a estada em Pura, vieram notícias de Crátero, que comandava um exército que marchava através Aracósia, tinha suprimido um levante nativo. Ao mesmo tempo, Alexandre soube que Leonato lutara ainda contra os oreitanos, o que indicava que o controle sobre as satrápias orientais não era muito forte.

Festim e Administração na Carmânia
O exército de Alexandre continuou sua marcha para o oeste e entrou na Carmânia, onde os soldados se encontraram com o exército de Crátero nos dias finais de 325 a.C. Não obstante, não havia comida suficiente para suprir os dois contingentes, mas os sátrapas da Drangiana e da Pártia enviaram camelos com suprimentos, as chuvas de inverno tinham começado, e a colheita estava pronta. Esse era um momento de celebração. Alexandre se vestiu como Dioniso, deus do vinho e do êxtase, e com o resto do exército se entregaram a festas e bebedeiras por sete dias. Tendo comemorado sua sobrevivência diante da provação no deserto da Gedrósia, Alexandre voltou-se para seu empreendimento novamente. Em janeiro de 324, ele fundou uma nova Alexandria (atual Golâshkerd no Irã). Muitos nobres iranianos vieram visitá-lo e se queixaram ao rei sobre os sátrapas que Alexandre anteriormente havia estabelecido. Muitas vezes, eles eram acusados de sacrilégio, que pode ser plausível, pois os gregos e os macedônios geralmente incompreendiam o Zoroastrismo e muitas vezes feriam os sentimentos da população nativa. Muitos desses sátrapas foram condenados e executados. Um caso sério foi o de Hárpalo, amigo de infância de Alexandre e tesoureiro real, que após o retorno de Alexandre da Índia sentiu que seria punido por seus excessos e fugiu para a Grécia onde foi mal recebido e depois morreu em Creta. Desta forma Alexandre garantiu aos persas a seriedade de sua soberania, mesmo que executando macedônios. A quem alegue que Alexandre estava ficando paranóico com conspirações e segundo o historiador Arriano sua gestão estava ficando cada vez mais rígida.
Nobre persa com soldados
Ao mesmo tempo, vários príncipes de ascendência iraniana foram substituídos por europeus. Por exemplo, o sátrapa da Babilônia, Estamenes, que havia morrido de causas naturais, foi substituído por um macedônio chamado Árcon. Alexandre também ordenou que seus sátrapas se desfizessem dos seus exércitos de mercenários e os soldados fossem enviados ao Rei. Isso mostra que Alexandre tinha deixado para trás muitos gregos nas novas cidades no Oriente e perdera muitos homens no deserto da Gedrósia, de modo que eles precisavam ser substituídos. Essa medida também reduziu a capacidade dos sátrapas de obstruírem às ordens de Alexandre. Na Carmânia, Alexandre encontrou Nearco, que havia trazido a frota pelo Oceano Índico até Harmozeia (atual Minab) sem graves danos. A reunião foi uma grande alegria e um novo local de reunião foi acordado para os contingentes em Susa. O exército e a marinha continuaram seu caminho para o Ocidente. Abaixo, representação de Alexandre Magno na carruagem da vitória (a mulher que segura as rédeas do cavalo é a deusa Atena Vencedora).


Profanação em Pasárgada
A caminho de Susa, Alexandre visitou Pasárgada, a capital religiosa do Império Aquemênida. O Conquistador foi visitado por Atropates, governador da Média, que trouxe preso consigo a Bariaxes, um meda revoltado que havia proclamado-se rei dos medos e persas. Com ele, também sob detenção, foram seus parceiros na tentativa do golpe; todos foram executados. Em Pasárgada, os reis persas eram coroados perto do túmulo de Ciro, o Grande. Há cerca de cinco anos (330 a.C.), quando Alexandre tinha visitado Persépolis e Pasárgada, ele queria ser coroado de acordo com os rituais persas, mas isso não tinha sido possível porque Dario III ainda estava vivo. Se Alexandre queria ser coroado no ritual persa no seu regresso da Índia, ele ficou decepcionado: o túmulo foi profanado e seus pertences roubados. Não havia possibilidade de Alexandre ser consagrado rei nos moldes do ritual persa. Ele ordenou ao oficial macedônio Aristóbulo restaurar o túmulo e ao final de janeiro de 324, ele rumou para Persépolis e Susa, onde o exército e a marinha iriam se reunir novamente. Abaixo, ruínas do palácio de Pasárgada.

Festa e Funeral em Susa
Em março de 324, Alexandre chegou a Susa, a maior cidade da Elão e uma das capitais do Império Aquemênida. Como planejado, ele se reuniu com Nearco, seu almirante, e as tropas que haviam feito a viagem de regresso por navios. A estadia em Susa foi concebida para ser um grande feriado comemorativo para Alexandre, seus oficiais e seus soldados: Muitos soldados valentes foram condecorados, alguns receberam túnicas púrpuras, e foram dados diademas de ouro para Nearco, para Peucestas (que tinha salvo a vida de Alexandre na Índia), e pera Heféstion (melhor amigo de Alexandre). Nobres de todas as regiões do Império Alexandrino estavam em Susa para homenager o Rei da Ásia. Abaixo, diadema macedônico do século IV a.C.
Infelizmente, as festividades foram ofuscadas pela morte do brâmane Calano. Ele esteve com o exército macedônio desde a Índia, e teve um papel importante como conselheiro Alexandre. Agora, ele estava velho e quis morrer de forma adequada a sua religião (Hinduísmo). Uma grande pira funerária foi construída e ele queimou-se vivo, conforme a maneira hindu para completar a viagem espiritual. Antes de morrer Calano teria dito a Alexandre que eles se encontrariam de novo na Babolônia. Para homenagear Calano foram organizados jogos fúnebres que incluía uma competição de quem bebia mais. Houve até mortes pela alta ingestão de bebida.

As Bodas de Susa
A maior das festividades em Susa foi uma cerimônia de casamento que durou cinco dias. Desde que Alexandre conquistara a Babilônia, Pérsia e o Elão em 331/330, muitas princesas persas passaram a receber uma educação grega e agora elas estavam prontas para casarem-se com oficiais da Macedônia. Bailarinos, atores e músicos vieram da Grécia para o evento. Abaixo, Estatira (Annelise Hesme) e outras princesas persas no filme Alexandre.
Alexandre casou-se com Estatira, a filha mais velha de Dario III, que ostentava o título de consorte real (título que não foi dado a Roxane da Báctria) e com a princesa Parisatis, filha do antigo rei Artaxerxes III Oco (358-338 a.C.). Assim o Macedônio cimentava sua aliança com dinastia real dos Aquemênidas. O oficialato macedônico “acompanhou” o exemplo do rei: Heféstion casou-se com Dripetis, outra filha de Dario III. Crátero casou-se com Amastris, uma sobrinha de Dario III; Pérdicas com uma filha de Atropates, o protetor da religião de Zoroastro, Ptolemeu com Artacama e Eumenes com Artonis, duas filhas do sátrapa Artabazo. Seleuco casou-se com Apama, filha de Espitamenes, grande inimigo sogdiano de Alexandre. Foi o único casamento que perdurou após a morte de Alexandre. Os demais, pelo que consta, foram dissolvidos. Abaixo, a celebração dos casamentos de Susa por A. Castaigne.

O Casamento da Macedônia com a Pérsia?
Os casamentos foram celebrados de acordo com os rituais persas e Alexandre deu vestes persas a vários guerreiros macedônios. A guarda real persa foi reintegrada. Heféstion foi apontado como chiliarchos (vizir, primeiro-ministro) e Ptolomeu como edeatros (provador de bebidas) do rei Alexandre, ambos eram nomes gregos para antigas para funções burocráticas da corte persa. De acordo com Aristóbulo, o rei queria ser considerado como "senhor de tudo”. Não há nenhuma razão para duvidar desta afirmação, especialmente por que o título carrega uma forte semelhança com os antigos títulos reais persas ('rei de todos os países’ e ‘rei nesta grande terra distante e larga’). Abaixo representação de Alexandre encontrada no Afeganistão.
Alexander as Heracles, Takht-i Sangin (Tajikistan). From A. Kuhrt & S. Sherwin-White, From Samarkand to Sardis, 1993
Alexandre deu prosseguimento ao seu plano de fusão entre o Ocidente e o Oriente incrementando o comércio no seu vasto Império. O Macedônio também distribuiu grandes somas de dinheiro a seus companheiros de batalha como recompensa por seus méritos militares. Porém, os rituais da corte persa, o incremento comercial e os casamentos forçados não melhoraram muito as relações entre a elite da Macedônia e o "persa" Alexandre. Ainda mais quando um grupo de 30.000 jovens bactrianos chegou em Susa. Eles foram treinados para lutar na falange macedônica e foram chamados por Alexandre de epigonoi, “os sucessores”. Isso sugere fortemente que Alexandre queria substituir sua infantaria macedônica. Os iranianos foram autorizados a entrar nas fileiras da cavalaria (que tinha sofrido muito no deserto da Gedrósia). As fileiras de seu exército sentiram-se rejeitadas. Abaixo, relevo persa representando homens bactrianos.

REFERÊNCIAS:

http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander14.html
http://www.livius.org/aj-al/alexander/alexander15.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_the_Great
http://www.ancientsculpturegallery.com/045.html
http://www.alexanderstomb.com/main/index.html
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tempos, vol. 4: Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988.
http://www.andythornton.com/en-UK/products/outdoor-garden/sconces-plaques/atvmrsgp334/alexander-chariot-frieze

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