quinta-feira, 5 de agosto de 2010

ALEXANDRE III, O GRANDE (336 - 323 a.C.) - PARTE VIII

Guerra na Hircânia
A campanha na Hircânia ocorreu em agosto de 330. Os comandantes Crátero e Coeno derrotaram os tapurianos e mardianos, tribos das montanhas de Elburz. Durante a campanha o famoso cavalo de Alexandre, Bucéfalo, foi capturado e devolvido após o Macedônio ameaçar destruir toda a tribo do captor. Após a pacificação da nova província do reino de Alexandre, Amminapes, um parto que vivera na corte macedônica durante a juventude de Alexandre e que tinha sido responsável pela rendição do Egito, foi nomeado sátrapa. Como tinha ficado claro que Alexandre queria punir seriamente Besso, muitos adeptos de Dario aderiram aos macedônios. Entre eles estava Artabazo, o pai de Barsine, amante de Alexandre, bem como um irmão de Dario III, Oxiartes.  Em Zadracarta, capital da Hircânia, Nabárzanes, Frataferne e os mercenários gregos se juntaram a Alexandre. Chegaram notícias a Alexandre da Europa: não obstante a insubmissão de Esparta, a ambiguidade de Atenas e a revolta dos trácios, o regente Antípatro mantinha o mundo helênico sob o comando da Macedônia, mas tinha que lidar com Olímpia e Cleópatra, mãe e irmã do Conquistador, que constantemente interferiam nos assuntos políticos da Macedônia. Mesmo sabendo da importância das questões da Europa e com a Hircânia conquistada, Alexandre não desistiu de seu objetivo e os macedônios rumaram em direção à Báctria. Abaixo, marcha de Alexandre até a Hircânia.

Traição na Ária
Os macedônios se dirigiam pelo caminho posteriormente conhecido como Rota da Seda que era o mais curto à Báctria. Ao chegar na cidade de Súsia na Ária, o sátrapa Satibarzanes, que participara da conspiração contra Dario III, se rendeu a Alexandre e deu informações sobre Besso. Alexandre perdoou-lhe a participação na traição a Dario e confirmou-o como sátrapa da Ária deixando na localidade uma guarnição macedônica. Esse percurso era mais fácil e mais curto, mas os macedônios ficariam expostos a ataques hostis de arqueiros montados de Besso e portanto Alexandre decidiu ir pelo o sul através da Ária, Drangiana, Aracósia e Gandara e, em seguida, através das montanhas Hindu Kush. Pouco depois de Alexandre partir, Satibarzanes chacinou o contingente macedônio e insuflava os arianos a se rebelarem contra o Conquistador. Alexandre regressou rapidamente e foi para Artacoana, capital da Ária, onde o Sátrapa fomentava a revolta. Quando da chegada de Alexandre, as tropas abandonaram Satibarzanes que fugiu para junto de Besso. No entanto, Alexandre conquistou a capital e vendeu os habitantes como escravos. A cidade foi refundada como Alexandria da Ária (Alexandria Areion, atual Herat no Afeganistão). O novo sátrapa era um persa, Arsames, filho de Artabazo.

Conspiração em Dragiana
O descontentamento do exército (duramente tratado e vendo seu líder continuamente adotando hábitos persas) provavelmente desempenhou um papel no caso de Filotas, uma dupla conspiração que foi descoberta quando a vanguarda do exército de Alexandre estava na Drangiana, em outubro de 330. O acusado, Filotas, era filho do general Parmênion e o comandante da Cavalaria, portanto, um dos homens mais importantes do exército macedônico. Filotas confessou que sabia de uma conspiração, mas mesmo assim não a denunciara. Inicialmente Alexandre perdoou Filotas, mas no dia seguinte, após novas acusações pelos comandantes Crátero e Coeno ele organizou um julgamento (o exército exercia jurisdição capital na Macedônia), e o tribunal militar considerou Filotas culpado e o executou com os soldados conspiradores. Para comemorar o evento, Alexandre renomeou a cidade de Phrada onde a conspiração foi desbarata  para Prophthasia, que em grego quer dizer Antecipação (é a moderna Farah no Afeganistão). Abaixo, a rota de Alexandre da Hircânia  à Báctria passando por Ária e Dragiana.
Na verdade, nós não podemos ter certeza sobre o motivo dos conspiradores, mas a hipótese plausível é o descontentamento com uma guerra prolongada e a orientalização evidente de seu rei. Uma evidência notável disso é que Alexandre não repetiu sua política habitual de nomeação de sátrapas persas, pois na Aracósia, a satrápia vizinha, nomeou um governador da Macedônia. Isto sugere fortemente que havia de fato protestos contra as posturas pró-persas de Alexandre. A execução de Filotas fez inevitável o assassinato de seu pai Parmênion. Por que Filotas se calara? Esperava que seu pai fosse reconhecido como o novo rei com a morte de Alexandre? Sob suspeita, Parmênion era poderoso demais para permanecer vivo. O velho general estava em Ecbátana, na Média, onde ele controlava a estrada do Mediterrâneo para o Oriente, grandes somas de dinheiro, muitas tropas e reforços que estavam atrasados. Alexandre mandou um mensageiro, cujo dever era estar em Ecbátana antes que a notícia da morte de Filotas chegasse a seu pai. O mensageiro entregou cartas para os comandantes dos reforços e eles mataram o velho general, que nunca soube o porquê. Quanto a morte de Filotas, os greco-macedônios fizeram vista grossa (Filotas não era muito querido no oficialato macedônio), mas se ressentiram do assassínio de Parmênion que prestara grandes serviços à causa helênica e ao próprio Alexandre, quando de sua ascensão ao trono. Não obstante, o Macedônio retoma sua marcha para derrotar Besso.


Novas Alexandrias 
Em fevereiro de 329 a.C., os reforços comandados por Clito uniram-se a Alexandre em Kapišakaniš, capital da Aracósia que foi renomeada para Alexandria Arachoton (é a atual cidade de Kandahar no Afeganistão).  Satibárzanes, aliado de Besso, invadiu a Ária e parece ter tido apoio do sátrapa que Alexandre nomeara. Um contingente fora enviado para controlar a situação e Satibárzanes foi morto. Abaixo, ruínas de Kapišakaniš, capital da Aracósia.
O Macedônio liderou seu exército, agora com 60.000 homens, através da Aracósia ao longo do rio Tarnak. Foi uma marcha difícil: não havia mantimentos, as aldeias tinham sido incendiadas e os rebanhos foram levados para outros lugares. Apesar do sofrimento da viagem, atingiram a cidade de Kapisa que Alexandre refundou chamando-lhe Alexandria (atual Charikar), onde muitos veteranos macedônios e gregos foram lotados. A cidade serviria como base para as futuras operações do outro lado das montanhas Hindu Kush.

Báctria
Em abril de 329, os macedônios tinha alcançado o vale do rio Cabul e fundaram uma base militar chamada Alexandria do Cáucaso. Os veteranos que se instalaram lá sentiram que eles foram deixados para trás em uma colônia punitiva, e várias insurreições foram posteriormente registradas. Não houve tempo para descanso: os macedônios começaram a atravessar a cadeia do Hindu Kush quase que imediatamente. Eles foram marchando através da neve e em maio, eles surpreenderam as tribos das montanhas, perto da passagem de Khawak e quatorze dias depois eles capturaram Drapsaca (Konduz atual) já na Báctria. A operação foi bem sucedida. Ao ouvir a notícia do avanço de Alexandre pelas montanhas, os homens de Besso deixaram-no e ele foi forçado a fugir para o país ao norte do rio Óxus (Amu Darya). Poucos dias depois, a capital da Báctria, Bactra (Balkh, perto da moderna Mazar-e Sharif), foi tomada, e Artabazo foi nomeado sátrapa. Mas com a fuga de Besso, Alexandre teria que marchar novamente. Mesmo enfraquecido Besso, que se proclamava Artaxerxes V, ainda era suficientemente perigoso para inspirar revoltas nas fronteiras orientais do Império Alexandrino. Abaixo, região do passo de Khawak na cadeia Hindu Kush.

A marcha em direção ao rio Óxus foi feita através de 75 quilômetros de deserto sem água. Durante a marcha quando alguém ofereceu água a Alexandre, ele recusou, dizendo que ele queria compartilhar as dificuldades de seus homens que com tal exemplo, apesar de exauridos, prosseguiram adiante. Quando o exército finalmente chegou ao rio, segundo o historiador romano Quinto Cúrcio, muitos soldados morreram por beber água descontroladamente. Abaixo, região do rio Óxus (Amur Darya) onde se deu  o embate final dos macedônios com a última resistência do caído Império Persa.

O Traidor Traído
Besso tentou impedir a passagem do Óxus pela queima de todos os navios disponíveis. No entanto, os macedônios fizeram balsas, dentre outras estratégias, e cinco dias depois estavam na outra margem do rio (região que hoje é chamado de Turcomenistão). Tinham chegado a satrápia de Sogdiana. A travessia do Hindu Kush, do deserto e do rio Óxus foram feitos impressionantes e os inimigos perderam a esperança de derrotar os macedônios. E a única causa aparente do Conquistador está marchando incansavelmente é capturar Besso. Espitamenes, sátrapa de Sogdiana, aliado de Besso conspirou com outros homens e enviaram um mensageiro a Alexandre dizendo que lhe entregariam Besso. Alexandre envia seu general Ptolomeu (futuro faraó do Egito helenístico) e os conspiradores prendem e abandonam Besso em um povoado cuja população o entrega a Ptolomeu. Besso, o pretenso Artaxerxes V, desfilou nu com a cabeça numa canga, diante do exército até a presença de Alexandre. O Macedônio pergunta a Besso por que traíra Dario III que era seu rei e benfeitor. Besso disse que o fez para conseguir a complacência de Alexandre, o qual o condena porque em vez de resistir-lhe varonilmente traiu o Grande Rei persa para usá-lo como barganha. Besso foi açoitado publicamente, teve seu nariz e orelhas cortados (castigo persa para os rebeldes e regicidas) e foi enviado a Ecbátana como acusado de assassinato do Grande Rei e de revolta contra o novo Grande Rei dos persas, Alexandre. Os medos e os persas, julgaram-no conforme o costume, e Oxiartes, irmão de Dario III, crucificou Besso no mesmo lugar onde Dario foi morto e não deixou que as aves o devorassem, o que era um terrível castigo aos olhos da religião persa. E assim morreu Artaxerxes V Besso. Abaixo, ilustração da punição de Besso por Alexandre segundo A. Castaigne.

REFERÊNCIAS:
http://osaquemenidas.blogspot.com/2010/03/dario-iii-336-330-ac-parte-ii.html
http://www.livius.org/aj-al/Alexandre/Alexandre09.html
http://www.livius.org/aj-al/Alexandre/Alexandre10.html
http://www.livius.org/aj-al/Alexandre/Alexandre11.html
http://www.livius.org/aj-al/Alexandre/Alexandre12.html
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tewmpos, vol. 4:Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988.
http://www.gaugamela.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário